Coautor de hits de Marília Mendonça e Gusttavo Lima, goiano que foi até punk-gospel estoura como cantor no piseiro, com direito a participação de funkeira

Porto Velho, RO - Um dos maiores — e mais inescapáveis — sucessos da música brasileira recente nasceu do encontro de um goiano criado no sertanejo, de um forrozeiro paraibano e de uma versadora do funk de São Paulo.

Lançada no fim do ano passado e atualmente bem instalada no 33º lugar do Top 50 do Spotify, “Ameaça”, que reúne Paulo Pires, Marcynho Sensação e MC Danny, viralizou inicialmente em TikTok, Instagram e YouTube. Logo, estava sendo comentada por influencers e acabou tocando até mesmo nas festas do “BBB 22”.

E tudo por causa de uma feliz combinação do ritmo empolgante do piseiro com uma letra sobre a triste decisão de um sujeito de ouvir, em viva voz, na balada, o áudio em que — mal sabia ele — era esculachado pela namorada.

— Qual história ainda não foi contada? O maior dos hits tem sempre um papo simples, só que ninguém mandou ele ainda — teoriza Paulo, de 35 anos, que além de cantar a música foi um de seus autores, junto com o grupo de compositores do escritório New Hit.

Nós sentamos para fazer essa moda, tentando trazer o Marcynho para a nossa linguagem e tentando entrar na linguagem dele. A Danny não estava escalada, foi bem na hora de gravar que ela entrou (cantando a parte do esculacho). Acabou que a mulherada gostou de cantar isso.

“Ameaça” foi o grande momento, até agora, desse artista que nasceu em meio sertanejo (“meu pai largou da minha mãe quando ela engravidou de mim, ela escutava os modão e isso passava pela barriga dela”) e na adolescência teve uma banda de punk rock gospel, a Plenitude (“fizemos shows nas Igrejas de Cristo do Brasil todo, a galera cantava as músicas”). Paulo Pires chegou a lançar-se em carreira solo, mas acabou desistindo, porque se destacou como coautor de hits para Marília Mendonça (“Ciumeira”) e Gusttavo Lima (“Homem de família”).

Estourado com “Ameaça”, agora ele não pensa mais em parar de cantar. Há algumas semanas apresentou o piseiro “Princesinha” (“delicada, ninguém dá nada / mas bebe vinte litrão / e ainda dá show no colchão”) e na segunda-feira lança “Cadê o loló”, com a cantora Barbara Labres.

— Hoje, a gíria da molecada muda muito rápido. Um dos maiores desafios para o compositor é falar com as palavras dessa geração, mas mantendo a essência do antigo — ensina o artista, casado e pai de uma filha de 6 anos.

Fonte: O Globo