“Bilingo”: tecnologia e saberes ancestrais se unem para salvar línguas indígenas em Rondônia e Mato Grosso

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“Bilingo”: tecnologia e saberes ancestrais se unem para salvar línguas indígenas em Rondônia e Mato Grosso



Porto Velho, Rondônia - Um projeto que une tecnologia e tradição oral está ajudando a preservar as línguas indígenas Bororo (MT) e Makurap (RO), ameaçadas de desaparecer. Chamado “Bilingo”, o aplicativo foi criado para registrar vocabulários, frases e narrativas nas línguas maternas, estimulando que professores e jovens das próprias comunidades aprendam e transmitam o idioma às novas gerações.

Foto: Reprodução/TVCA

TECNOLOGIA A SERVIÇO DA CULTURA

Povo Makurap — Foto: Universidade Federal de Rondônia

O “Bilingo” está sendo desenvolvido por pesquisadores do Brasil e da Alemanha, em parceria com professores e jovens indígenas. A ferramenta permite criar e distribuir conteúdos bilíngues de forma acessível e interativa.
Segundo Gustavo Poletti, desenvolvedor do sistema, “a ideia é que as próprias comunidades usem o aplicativo para ensinar e manter viva a língua tradicional, mesmo em regiões com acesso limitado à internet”.

Em Rondônia, o povo Makurap, que habita as Terras Indígenas Rio Guaporé e Rio Branco, pertence à família linguística Tupari, do tronco Tupi. Já os Bororo, de Mato Grosso, falam a língua Wadáru, do tronco Macro-Jê. Ambos enfrentam forte redução no número de falantes, especialmente entre os mais jovens.

COMO FUNCIONA O “BILINGO”

O aplicativo segue o modelo de plataformas como Duolingo e Busuu, com exercícios de tradução, associação de palavras a imagens, montagem de frases e prática de pronúncia guiada por inteligência artificial.
O conteúdo inclui alfabeto, alimentação, família, cultura e mitos tradicionais, e será armazenado sob controle das próprias comunidades.
A jovem Jéssica Makurap destaca que o processo de gravação já é, por si só, uma forma de aprendizado.

“Quando pergunto para meus avós como se diz algo na nossa língua, eu já estou aprendendo. O aplicativo ensina enquanto é construído”, contou.

FERRAMENTA DE RESISTÊNCIA

Para a professora Heloisa Helena Siqueira Correia, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), a iniciativa representa um marco na resistência cultural dos povos originários.

“A criação de um aplicativo que recupera línguas sob risco é um gesto de luta e de autonomia. Mostra que essas comunidades nunca estiveram paradas no tempo. Elas atualizam a memória ancestral e projetam o futuro”, afirmou.

DESAFIOS E EXPECTATIVAS

O projeto enfrenta desafios logísticos, como a necessidade de internet para envio de áudios e o ritmo próprio das comunidades, que conciliam o trabalho com a agricultura, a caça e os estudos.
Mesmo assim, os pesquisadores acreditam que o aplicativo será um instrumento duradouro de educação e fortalecimento identitário, permitindo que as comunidades administrem o conteúdo e decidam como repassá-lo às futuras gerações.

“O Bilingo é uma forma de aprender e, ao mesmo tempo, de manter viva a nossa cultura”, resume Jéssica.

O nome “Bilingo” vem de Brazilian Indigenous Languages e, quando concluído, será disponibilizado gratuitamente, com suporte offline e foco na preservação das línguas ancestrais brasileiras.
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