O evento reuniu 1.635 pessoas, segundo o cálculo do grupo de pesquisa “Monitor do debate político”, da USP

Porto Velho, Rondônia - O ato esvaziado organizado pelas centrais sindicais para o 1º de Maio em São Paulo, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, virou arma de bolsonaristas nas redes sociais. O evento reuniu 1.635 pessoas, segundo cálculo do grupo de pesquisa “Monitor do debate político”, da USP. Em seu discurso, o petista atribuiu o baixo público a falhas na convocação e cobrou o ministro Márcio Macêdo, responsável pela articulação com os movimentos sociais. A bronca reacendeu uma série de críticas à atuação do titular da Secretaria-Geral da Presidência.

No X, antigo Twitter, o termo “flopou” (usado para um fiasco) estava entre os mais citados na rede, na manhã de ontem, superando 50 mil menções. Perfis de parlamentares e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro usaram a pouca quantidade de pessoas para tentar desgastar Lula.

Pré-candidato à prefeitura de São Paulo, o deputado Kim Kataguiri (União) comparou imagens aéreas com as publicadas pelo perfil oficial do presidente no Instagram. “Acabou sua popularidade, Lula”, postou ele. A deputada Carla Zambelli (PL-SP) ironizou: “Nem com a ajuda das centrais sindicais?!”.

Contagem do público

Os pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, coordenados por Pablo Ortellado e Márcio Moretto, contabilizaram o público presente com auxílio de um software. A contagem foi computada no momento de pico de comparecimento, às 13h46m, cinco minutos antes do início do discurso do presidente. Considerando a margem de erro de 12%, pode haver uma diferença de 196 pessoas para mais ou para menos. O evento foi realizado no estacionamento do estádio do Corinthians, na Zona Leste.

— (Macêdo) é responsável pelo movimento social brasileiro. Não pensem que vai ficar assim. Ontem (anteontem) eu disse para o Márcio que o ato está mal convocado. Não fizemos o esforço necessário — disse Lula em discurso.

Petistas avaliam que Macêdo tem uma atuação apagada em uma pasta que, em outros governos petistas, tinha papel mais expressivo na formulação de políticas. Nos primeiros dois mandatos de Lula, a cadeira foi ocupada por Luiz Dulci, aliado histórico e um dos fundadores do PT.

Críticos ao ministro atribuem o baixo público à desorganização de Macêdo junto aos movimentos. Uma comparação feita foi a mobilização obtida pelo prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que reuniu mais gente na praça central da cidade no evento que organizou para o Dia do Trabalhador.

Pessoas próximas a Lula concordam que há um desgaste na relação, mas não suficiente para uma substituição. O argumento é que Macêdo possui um “crédito elevado”, por ser nome de confiança a ponto de ter comandado as finanças da campanha de 2022 e é hoje um dos auxiliares mais próximos a Lula e à primeira-dama, Janja da Silva.

Líder do movimento estudantil nos anos 1990, Macêdo ganhou a confiança de Lula quando organizou as caravanas pelo país antes de o presidente ser preso em abril de 2018. Agora, avaliam que há um “desencontro de expectativas” entre o que se esperava de Macêdo no cargo e a capacidade do ministério.

Foi a segunda vez que Lula reclamou publicamente do ministro. Em dezembro, no Natal dos Catadores em São Paulo, pediu “menos discurso e mais entrega” a Macêdo e cobrou que o ministro e os catadores tivessem uma pauta de reivindicações.

Macêdo diz que entendeu a fala de quarta como um comentário que já havia sido feito de forma particular e não como cobrança. Faltando poucos dias para o ato, o ministro chegou a ligar para o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) para checar como estava a mobilização.

O ministro, no entanto, afirma que as centrais são autônomas para ir até o evento e que não cabe ao governo fazer essa mobilização nem deliberar sobre a quantidade de pessoas que irão ou não aos atos.

— Não é papel do governo mobilizar atos das centrais sindicais ou dos movimentos sociais. Vamos continuar fazendo o nosso trabalho de participação e diálogos sociais com os movimentos e a sociedade — disse ele ao GLOBO.

Coordenador do núcleo agrário da bancada do PT na Câmara, o deputado João Daniel (SE) critica a relação do governo com movimentos sociais. Segundo ele, o Planalto precisa passar a apresentar ações práticas:

— Lula pessoalmente tem boa relação. Tem muita moral com movimento popular e sindical, mas boa parte do governo dele tem dificuldade. O ministro Macêdo faz um esforço, mas não tem uma relação histórica com os movimentos e dificuldade de interpretar e cuidar da pauta.

Justiça eleitoral

Além do desgaste gerado pelo baixo público, Lula é acusado de infringir a Lei Eleitoral ao pedir explicitamente votos para eleger Boulos prefeito de São Paulo, o que é vedado na pré-campanha. Ontem, Lula foi intimado pela Justiça Eleitoral a excluir de seu canal no YouTube, no prazo de até 24 horas, o vídeo do ato de 1º de maio. A decisão atendeu a uma representação feita pelo Partido Novo. O presidente cumpriu a determinação à tarde. Ao clicar no link, aparece a mensagem “Vídeo indisponível. Este vídeo foi removido pelo usuário que fez o envio”.

Na quarta-feira, o Palácio do Planalto havia apagado, por iniciativa própria, a transmissão do evento do CanalGov, mas o vídeo continuou no perfil pessoal de Lula no YouTube. O MDB, partido o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, pré-candidato à reeleição, entrou com uma ação na Justiça Eleitoral contra Lula e Boulos por propaganda eleitoral antecipada.


Fonte: O GLOBO