Restaurante, pescaria e observatório da vida marinha: os atrativos da plataforma que desabou no RS; recuperação era avaliada em R$ 6 milhões

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Restaurante, pescaria e observatório da vida marinha: os atrativos da plataforma que desabou no RS; recuperação era avaliada em R$ 6 milhões

Associação que administra o espaço tentava acordos para viabilizar obras; colapso gerou comoção entre população de Xangri-Lá

A plataforma marítima da Praia de Atlântida, na cidade gaúcha de Xangri-Lá, colapsou na madrugada de domingo, gerando comoção entre a população da região. O píer, de mais de cinco décadas e que avança 280 metros no mar, em formato de L, há anos aguardava reforma total, apesar de importante ponto turístico. 

O lugar era muito frequentado por pescadores, que lá encontravam uma iscaria. Papa-terra e peixe-rei eram as espécies mais fisgadas. Além de abrigar campeonatos de pesca, o lugar era um ponto de observação da vida marinha — em temporada de baleias, podiam ser avistadas do local. A vista de dentro do oceano atraía moradores e turistas, que encontravam sobre o mar um restaurante de frutos do mar, o Boteco da Platô.

O bar, pequeno e disputado, chegava a ter fila de 2h em finais de semana de verão. Os pastéis e camarões empanados, servidos com chope ou caipirinha, faziam a alegria dos frequentadores. Veranistas costumavam de lá assistir ao pôr-do-sol. Os surfistas também têm carinho especial pela plataforma, já que ali é um ponto para o esporte. 

Ontem, atletas, pescadores e moradores da cidade se reuniram de frente para o píer, num abraço simbólico ao local, como forma de protesto. As redes sociais estão cheias de relatos e fotos de paisagens com o píer e de momentos passados na plataforma turística, que atraía cerca de 30 mil visitantes por ano.

Vista aérea da plataforma marítima — Foto: Divulgação

Alguns internautas diziam estar de luto pelo desabamento. "Paixão de avô para neto. 12 anos sendo sócio da plataforma, difícil ver a situação em que ela se encontrava. Vai deixar muitas lembranças boas, risadas, pescarias, churrascos e muito peixe frito", lamentava no Instagram um internauta que se identifica como Anderson Roque. 

"Enquanto tiver esperança lutaremos pela nossa segunda casa", escreveu outro. Entre as histórias da plataforma, está a de um "enorme tubarão-baleia" que passou, em 2018, a 50 metros da estrutura e foi observado por dezenas de visitantes. Lobos-marinhos e pinguins são outros animais que, de tempos em tempos, eram avistados da plataforma.

"Ali vai continuar ruindo"

O presidente da Associação dos Usuários da Plataforma Marítima da Atlântida (Asuplama), José Luís Rabadan, diz que tem esperança de poder recuperá-la, mas afirma ainda não ter ideia de quanto isso custaria. 

Antes de vir abaixo, o custo de reforma total era orçado em R$ 5,7 milhões. Nos últimos anos ela vinha se deteriorando rapidamente. A Asuplama, segundo Rabadan, tentava, desde 2021 um termo de ajustamento de conduta, através do Ministério Público Federal (MPF), com a União e a prefeitura de Xangri-Lá para as obras. A associação tem 280 associados, sendo que 230 são pagantes.

Crianças observam a destruição do ponto turístico de lazer tradicional — Foto: Divulgação/David Castro

— Não tenho ideia de quanto custa recuperá-la. Ainda não estamos no final dessa história, porque ali vai continuar ruindo. Não tem como a estrutura resistir a uma ressaca. Certamente vai ter dano maior — afirma o presidente da associação. — No dia 15 de julho entreguei para a prefeitura de Xangri-Lá que o custo de recuperação total era de R$ 5,7 milhões. Há três anos, só a área do restaurante custaria R$ 620 mil. No final do ano passado, essa recuperação era avaliada em R$ 820 mil.

Ele afirma que a plataforma passava por inspeções periódicas e que recentemente foi identificada uma trinca. O engenheiro responsável esteve, então, na quarta-feira da semana retrasada no local para uma avaliação inicial. Uma semana depois, ele abriu uma janela de inspeção no piso, concluindo que o problema havia se agravado, sinalizando para a necessidade de serviços emergenciais de manutenção, iniciados no dia seguinte, de acordo com Rabadan.

—Mas num determinado momento viram que não havia mais condição de executar o serviço, não havia segurança nem para os funcionários da obra — diz ele, acrescentando. — Foi aí que fizemos a interdição total (na sexta-feira última), e na noite de sexta mesmo a estrutura começou a descer, a região superior do restaurante da plataforma.

Rabadan alega que a associação, sem fins lucrativos, não tem muitos recursos e que em 2011 tentou tocar uma recuperação completa.

— Conseguimos apenas uma parte. A associação é pequena frente a esse desafio financeiro, e dependíamos de ajuda externa, o que infelizmente não conseguimos — justificou. — No verão passado, num esforço financeiro que a gente pagará até dezembro deste ano, conseguimos executar um terço do que precisava ser feito na região onde ocorreu o colapso. Um terço apenas, num valor próximo de R$ 350 mil. Precisávamos no total de R$ 900 mil.

Foto antiga da plataforma marítima, que avança 280 metros no mar — Foto: Reprodução

"Podia ter acontecido uma tragédia"

O prefeito de Xangri-Lá, Celso Bassani Barbosa, declarou ontem que acredita "que agora não tenha mais o que fazer".

— Nunca foi feita uma manutenção adequada. É muito triste ver um ponto turístico e histórico da cidade se deteriorando — completou.

Frequentadores e a população local promete pressionar o poder público. O fotógrafo e morador da cidade David Castro, que registou imagens da plataforma após ruir, denuncia que há anos ela é alvo de descaso. Por sorte, diz ele, não houve vítimas no desabamento.

— Podia ter acontecido uma tragédia. Nossa sorte é que ela foi ruindo aos poucos, dando tempo de ser interditada. E ela começou a ceder, desabando na madrugada. Um dia antes tinha surfistas ali embaixo, surfando a dois três metros de distância, que poderiam ter sido atingidos —afirma David, que frequenta o ponto "desde criancinha" e convocou a população para o ato de ontem. 

— O protesto foi uma união entre pescadores, surfistas, moradores e veranistas. Fizemos uma parede humana em frente ao píer como uma forma de mostrar um abraço. A causa é pressionar os órgãos responsáveis para fazerem algo, pois ainda tem solução. O píer não esta perdido.

Nosso grande campeão dos peixes mais pescados é sem dúvidas o famoso e delicioso Papa-terra. Outro tradicional peixe de nossa plataforma é o Peixe-rei, que igualmente é muito apreciado como petisco. Mas ali na nossa plataforma também são fisgados diversos tipos de peixes, como corvinas, anchovas, pescadas, bagres, cações martelo, abróteas, arraias, violas, além de outras espécies.


Fonte: O GLOBO
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