Bolsas no mundo, incluindo as dos EUA e a do Brasil, terminaram o dia em alta, mas ainda há incerteza em relação aos efeitos do embate entre Israel e Hamas

O novo conflito no Oriente Médio deixou investidores dos mercados financeiros em todo o mundo ontem atentos aos reflexos na economia. O preço do petróleo, por exemplo, voltou a subir. Mas ainda há incerteza sobre o tamanho dos impactos, na economia mundial, do conflito iniciado no último sábado envolvendo o grupo terrorista Hamas e Israel, disseram economistas ao GLOBO.

O mais importante canal de contágio são os mercados financeiros, com destaque para a cotação do petróleo. Uma alta mais persistente poderá significar mais inflação, mais juros e menos crescimento econômico em vários países.

Apesar das incertezas provocadas pelo conflito no Oriente Médio, as bolsas dos Estados Unidos e do Brasil fecharam ontem no campo positivo diante da notícia de que negociações de trégua entre Hamas e Israel podem acontecer em breve. Seria um alívio na escalada de violência desencadeada no Oriente Médio no sábado passado.

Em Wall Street, Dow Jones terminou com ganho de 0,59%; S&P 500 somou 0,63%; e Nasdaq, 0,30%. O Ibovespa subiu 0,86% para 115.156 pontos.

Para o economista Lívio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e sócio da consultoria BRCG, se o conflito ficar circunscrito ao território israelense, os impactos tendem a ser “limitados”. Mesmo o efeito de eventual alta da cotação do barril de petróleo sobre a inflação poderia ter curta duração.

Problema maior viria com uma escalada do conflito. Ao envolver Egito, Síria e Irã, a situação poderia “mudar de patamar”.

— Além do preço do petróleo, tem uma questão geopolítica. A Síria é uma grande aliada da Rússia. O Irã fica contra os Estados Unidos, uma hora pendurado na Rússia, outra hora pendurado na China. Há essa contraposição da criação de um novo bloco, muito difuso ainda, que vem do Oriente. Isso vai tornando o caldo geopolítico mais grosso — disse Ribeiro.

Mais uma incerteza, aponta secretária

A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Tatiana Prazeres, comentou que a possibilidade de os conflitos e espalharem para outros países da região aumenta ainda mais as incertezas:

— O que acontece desde sábado se soma às incertezas do cenário político internacional. Preocupa o que pode acontecer com o preço do petróleo, com o mercado de energia, enfim, com as commodities energéticas.

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reconheceu nesta segunda-feira que a economia mundial ganhou mais um indicador de risco com o conflito armado entre o Exército de Israel e os guerrilheiros do Hamas.

— É cedo para fazer qualquer tipo de análise. E os dois pontos centrais são o preço do petróleo e (...) o dólar. São variáveis que passam a ganhar ainda mais atenção (com o conflito) — disse Galípolo, em live nesta segunda-feira.

Petróleo em alta

Ontem, os contratos futuros para dezembro do petróleo Brent, referência global, subiram 4,22%, atingindo US$ 88,15 por barril. Já o WTI, referência nos Estados Unidos, teve alta de 4,08%, a US$ 84,60. Com isso, os papéis ordinários da Petrobras saltaram 4,10%, indo a R$ 37,86, enquanto os preferenciais subiram 4,30%, a R$ 34,95.

Uma escalada no conflito, contudo, aumentaria o risco global nos mercados. Com isso, investidores financeiros tendem a sair de mercados emergentes e direcionar seus recursos para países ricos, mais seguros. A saída de capitais pode levar a uma alta do dólar nos países emergentes.

'Sinal de cautela'

Para Alberto Ramos, diretor de Pesquisa Macroeconômica do banco Goldman Sachs para a América Latina, ainda que o conflito não se agrave, os efeitos de alta do dólar e maior aversão ao risco vêm num momento em que o “balanço de riscos” para o controle da inflação piorou nos últimos meses, dificultando o trabalho dos bancos centrais.

— É um sinal de cautela. O processo de “reancorar” a inflação na meta tem bastante risco e buracos na estrada — afirmou Ramos, referindo-se ao trabalho do Banco Central (BC) brasileiro.

O “balanço de riscos” já tinha piorado porque o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sinalizou que os juros ficarão elevados por mais tempo nos EUA e por causa do El Niño. Com mais calor, a produção agrícola será afetada, elevando os preços dos alimentos.

Indicador de risco

Em live ontem, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, reconheceu que a economia mundial ganhou mais um indicador de risco:

— É cedo para fazer qualquer tipo de análise. Mas os dois pontos centrais são o preço do petróleo e (...) o dólar. São variáveis que passam a ganhar ainda mais atenção.

Impacto nos juros

Segundo Yihao Lin, coordenador de Economia da corretora Genial Investimentos, uma nova rodada de alta nas cotações do petróleo poderá levar as políticas monetárias de vários países a ficarem mais restritivas por mais tempo:

— Um cenário mais adverso se traduz em juros mais altos, seja porque permanecerão mais tempo elevados seja porque poderão voltar a subir.

Para o Brasil, isso significa que o BC teria menos espaço para cortar a Selic (a taxa básica de juros, hoje em 12,75% ao ano). O juro americano serve como referência para o mundo todo — porque os títulos de dívida dos EUA são considerados os mais seguros. Se a Selic ficar muito próxima das taxas do Fed, incentiva ainda mais a fuga de investimentos do Brasil para o mercado americano.


Fonte: O GLOBO