Esperança: recuperada e pronta para adoção

Porto Velho, Rondônia – Um grupo de voluntários que se uniu há pouco mais de um ano para tentar contribuir com o Município quanto ao grande número de pequenos animais de criação à solta pelas ruas de Alto Paraíso protagoniza agora uma história emocionante de cuidado, dedicação e amor a uma causa que para muita gente nada significa, mas que indica que existem pessoas que se dedicam a fazer o bem sem olhar para quem ou, neste caso, o que.

Trata-se da história de “Esperança”, uma cadelinha vira-latas muito simpática e que foi resgatada das ruas por um casal de namorados, que militam pela causa, com um sério ferimento numa das patas, totalmente desnutrida e abandonada. O animalzinho provavelmente tinha sido vítima de atropelamento e estava com a pata dianteira direita fraturada, com o osso exposto.

Era um desafio e tanto, mas o jovem casal não esmoreceu, e acionou o grupo ao qual pertence para mais uma ação beneficente que, graças ao apoio de muita gente, tornou-se outro caso bem-sucedido, com Esperança recuperada após um tratamento muito complexo, que envolveu inclusive a amputação do membro ferido.

Essa história, que logo abaixo será narrada por uma das protagonistas da ação, é outra de uma série de sucessos da autodenominada Associação 4 Patinhas de Alto Paraíso, que entre outros casos é responsável pela adoção de muitos animais que estavam sem tutela perambulando pela cidade, sendo que em muitas dessas intervenções houve mobilização até mesmo de veterinários voluntários e pessoas que ajudaram a custear tratamentos, além de cuidar dos animais durante o período de recuperação.

Como o grupo é muito grande, e agrega desde secretários municipais até cidadãos comuns, passando por professores, médicos veterinários, funcionários públicos, profissionais liberais, empresários do setor de produtos agropecuários e muito mais, é impossível citar nomes sem incorrer no perigo de acabar deixando alguém de fora, por isso é mais sensato dizer que a causa acabou mobilizando a população de Alto Paraíso em geral, e que com a história de Esperança certamente vai contagiar muito mais gente e fortalecer ainda mais essa frente do bem que trabalha de forma voluntária numa causa tão importante.

O cãozinho na época do resgate

Abaixo, a íntegra do relato de Ana Flávia, uma garota muito jovem cuja dedicação aos “amigos de quatro patas” é inspiradora para todos nós:

“No dia 27 de janeiro de 2023 eu e meu namorado resolvemos sair para caminhar, e ao final da caminhada fomos até um dos supermercados da nossa cidade. Após terminar as compras já estávamos prontos para ir embora quando na saída avistamos do outro lado da rua em frente a uma agência bancária um cachorro miúdo e mancando, e foi aquela que viria a ser nossa Esperança.

Ela parecia ter sido vítima de um atropelamento, a pata dianteira do lado direito estava fraturada, estando assim com o osso exposto, e também estava muito magra, mas continuava a abanar o rabo e ser receptiva.

Nós da Associação ainda não contamos com uma grande estrutura, não temos local nem renda física, mas eu simplesmente não podia deixa-la ali. Liguei para meus pais, e disse que precisamos fazer algo, e eles vieram com nosso carro para nos socorrer e tudo começou.

A Esperança precisava de um lugar para ficar que foi cedido por um dos membros da associação. No dia seguinte já começamos a luta para salvá-la com a ajuda da Dr. Adriana Barreto e do Dr. Elielton Lopes. Além de precisar de amputação, como foi observado pela Drª., ela positivou para Cinomose e doença do carrapato, o que fazia com que estivesse extremamente anêmica (sua gengiva estava totalmente branca.)

A nossa maior batalha era contra a Cinomose dali para frente, já que além de debilitante e contagiosa, ela pode ser mortal para os cachorros. A cirurgia de amputação foi feita por preço acessível para nós pelos veterinários e o tratamento foi todo custeado por meio de doações de membros da Associação e pessoas de fora.

A amputação foi feita 3 dias depois do resgate e minha mãe, Marli dos Santos Ribeiro, ficou com o papel mais crucial, de fazer o curativo dos pontos, dar a medicação, alimenta-la e limpar o espaço que ela ficaria após ser transferida de volta para casa da Dona Jozelda Amorim.

Tínhamos tudo para perde-la, aos olhos de outros, talvez na rua naquele dia que a encontramos o nome “Desesperança” lhe coubesse melhor. No entanto aquele pequeno cachorro como tantos outros que agora estão pelas ruas se mostrou ser uma lutadora. A Esperança começou a florescer diante de nossos olhos, a cada dia ela ficava mais e mais forte, e hoje está quase recuperada dos seus dias de luta na rua e pronta para ser adotada.

Essa é uma história com um final feliz, mas tantas outras não são, essa é uma história sobre como faz diferença olhar ao redor, ver a dor alheia, senti-la e dizer não quando achar que a melhor solução é ignora-la, essa é a história de como um pequeno cachorro pretinho trouxe de volta a esperança a minha vida, de todas as coisas que um ser humano pode se arrepender na vida posso dizer com confiança que nunca me arrependeria de não a deixar para trás.
 
Tratamento complicado e muita dedicação dos voluntários

Durante esse tempo não tão longo de existência da Associação 4 Patinhas já se passou tanta água por debaixo da nossa pequena ponte, não importa quantos cachorros nós ajudamos ou ajudaremos, tenho certeza que todos os membros se recordam do nome de cada um deles: Tereré, Apollo, Catharina, Costelinha, Bernardo, Revoada...

Cachorros que lutaram contra o câncer, e enfrentaram com o rabinho balançando e as orelhas aprumadas a quimioterapia, cachorros abandonados com feridas abertas, cachorros tão machucados por outros que nós da Associação não fomos capazes de curar e nos sentimos desolados por isso. Também histórias felizes de adoções, vídeos e fotos deles com seus novos donos acalentando nossos corações.

Nem sempre, porém é sobre o final da jornada, o percurso também nos traz grande satisfação, saber que tentamos, que demos conforto mesmo aos que vieram a nos deixar. Espero que esta história toque a todos que a lerem, e que uma nova Esperança nasça no coração de cada um.

As vezes para se mudar o mundo aos poucos só é preciso isso: Quatro Patinhas.