Racismo religioso é uma ferida aberta no cristianismo e precisa ser enfrentado por quem professa a fé

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Racismo religioso é uma ferida aberta no cristianismo e precisa ser enfrentado por quem professa a fé

Mulheres negras marcham por reparação, liberdade religiosa e justiça social durante mobilização nacional em Brasília - Foto: Janine Moraes/MinC (Alô Rondônia)

Porto Velho, Rondônia - O racismo religioso segue sendo uma das faces mais perversas do racismo estrutural no Brasil e, segundo reflexões apresentadas por lideranças negras cristãs, trata-se de um problema que precisa ser assumido e combatido dentro das próprias igrejas.

A mobilização recente de mais de 300 mil mulheres negras, reunidas na Esplanada dos Ministérios em marcha por reparação e bem-viver, evidenciou avanços importantes no diálogo entre mulheres evangélicas e praticantes de religiões de matriz africana. O encontro demonstrou que as diferenças religiosas não precisam ser barreiras para a construção de lutas comuns contra a violência, o sexismo e o racismo que atingem cotidianamente os corpos negros.

Violências compartilhadas e violências específicas

Mulheres negras, independentemente de sua fé, enfrentam a perda de filhos para a violência do Estado, o racismo obstétrico, ambiental e institucional. No entanto, mulheres de terreiro ainda lidam com uma violência adicional: a perseguição sistemática às suas crenças, espaços sagrados e manifestações culturais.

O racismo religioso, nesse contexto, não é uma pauta exclusiva das religiões afro-brasileiras, mas uma responsabilidade coletiva — especialmente dos cristãos, historicamente associados aos ataques e estigmatizações dessas tradições.

Do confronto ao encontro

Nos últimos anos, o crescimento de discursos de ódio ancorados em slogans como “Pátria, Família e Deus” intensificou ataques a dissidências religiosas, políticas e de gênero. Ao mesmo tempo, esse cenário provocou a reação de milhares de cristãos que se posicionaram contra o uso da fé como ferramenta de dominação política e econômica.

Desse confronto emergiu um novo encontro: mulheres negras evangélicas e de terreiro passaram a construir pontes, reconhecendo que a luta antirracista exige solidariedade inter-religiosa e respeito às diferenças.

Responsabilidade cristã no combate ao racismo religioso

Para lideranças negras cristãs, enquanto terreiros forem invadidos, símbolos sagrados demonizados e práticas afro-brasileiras criminalizadas, nenhuma mulher negra estará verdadeiramente segura. Combater o racismo religioso significa enfrentar estruturas racistas dentro das próprias comunidades de fé e rejeitar lideranças que instrumentalizam a religião para acumular poder e influência.

A reflexão aponta que o verdadeiro desafio está em expurgar das igrejas não as crenças alheias, mas a perversidade que distorce a fé e legitima a exclusão.

Um chamado à coerência e à liberdade

O texto faz um chamado direto às mulheres negras cristãs e aos cristãos em geral: assumir o combate ao racismo religioso como parte essencial da luta antirracista. Sem isso, não há liberdade plena nem justiça social.

A defesa das religiões afro-brasileiras, trazidas por africanos escravizados e mantidas vivas apesar de séculos de perseguição, é apresentada como condição indispensável para a superação do racismo no Brasil.

Enquanto qualquer expressão afro-brasileira — religiosa, cultural, estética ou artística — for alvo de discriminação, o país continuará distante de uma sociedade verdadeiramente democrática e plural.
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