Porto Velho, Rondônia - O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a regulamentação de uma linha de financiamento de até R$ 6 bilhões para a compra de caminhões novos e seminovos, criada por medida provisória do governo federal. Embora apresentada como solução para renovar a frota nacional e reduzir impactos ambientais, a iniciativa já gera críticas sobre seu alcance prático, especialmente para motoristas autônomos, que enfrentam maiores dificuldades de acesso ao crédito.
Crédito existe, mas acesso ainda é incerto
A regulamentação permite que bancos comecem a operar a linha prevista na Medida Provisória nº 1.328, publicada no Diário Oficial da União na última terça-feira (16). O crédito será operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), exclusivamente de forma indireta, ou seja, por meio de instituições financeiras credenciadas.
Na prática, isso transfere aos bancos a responsabilidade pela análise de risco e aprovação dos financiamentos, o que pode limitar o acesso justamente aos profissionais que o programa diz priorizar: caminhoneiros autônomos e pequenos transportadores, tradicionalmente mais expostos à informalidade e à restrição de crédito.
Valor elevado por mutuário gera questionamentos
O programa autoriza financiamentos de até R$ 50 milhões por beneficiário, teto considerado elevado para uma política pública que afirma ter como foco a renovação da frota envelhecida. Especialistas do setor avaliam que esse limite pode favorecer grandes transportadoras e frotistas, enquanto motoristas individuais continuam enfrentando barreiras como exigência de garantias e juros pouco acessíveis.
Embora o Ministério da Fazenda afirme que a medida não terá impacto fiscal primário, por se tratar de financiamentos reembolsáveis e sem garantia da União, críticos apontam que o risco econômico acaba concentrado no sistema financeiro, que tende a selecionar apenas perfis considerados de baixo risco.
Condições do financiamento
De acordo com a resolução aprovada pelo CMN, a linha de crédito prevê:
- Prazo de até 60 meses para pagamento;
- Carência de até seis meses para a primeira parcela;
- Proibição da capitalização de juros durante a carência;
- Prazo para solicitação dos financiamentos até 30 de junho de 2026.
Apesar das condições apresentadas como favoráveis, o custo final do crédito dependerá das taxas praticadas pelos bancos, que ainda não foram detalhadas.
Sustentabilidade no discurso, custo na prática
O governo anunciou que caminhões movidos a eletricidade ou biometano terão condições de juros mais vantajosas. No entanto, o alto custo inicial desses veículos levanta dúvidas sobre a efetividade do incentivo, já que a tecnologia ainda é pouco acessível para grande parte dos transportadores brasileiros.
Mesmo com juros reduzidos, o valor elevado desses modelos pode tornar o financiamento inviável para quem já opera com margens apertadas.
Objetivos amplos, resultados incertos
Segundo o governo federal, o programa tem como metas reduzir a idade média da frota, aumentar a eficiência logística, melhorar a segurança nas estradas e diminuir a emissão de poluentes. No entanto, sem mecanismos específicos que garantam acesso democrático ao crédito, há o risco de que a iniciativa fique concentrada em grandes operadores do setor.
A expectativa oficial é que os financiamentos comecem a ser ofertados nos próximos meses. Até lá, permanece a dúvida: a linha bilionária chegará ao caminhoneiro que mais precisa ou ficará restrita a quem já tem crédito fácil no mercado?
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