Porto Velho, Rondônia - A Conab anunciou a compra de 2,5 mil toneladas de leite em pó da agricultura familiar, investimento que pode chegar a R$ 106 milhões. A medida busca “enxugar” a produção e tentar elevar o preço recebido pelos produtores, mas especialistas questionam se a intervenção será suficiente para conter a instabilidade do mercado e melhorar a renda das famílias produtoras.
GOVERNO ANUNCIA MEDIDA PARA SEGURAR PREÇOS, MAS MERCADO SEGUE VOLÁTIL
Segundo o presidente da Conab, Edegar Pretto, o objetivo da aquisição é absorver o excedente e tentar forçar o preço do leite para cima. A estratégia é semelhante a outras intervenções já usadas no passado, que enfrentaram críticas por terem efeito limitado ou temporário.
Hoje, o valor de referência da PGPM é de R$ 1,88 por litro, enquanto o preço médio pago ao produtor gira em torno de R$ 2,22 — patamar considerado insuficiente para muitos agricultores cobrirem os custos de produção.
COMPRA PODE CHEGAR A R$ 106 MILHÕES, MAS IMPACTO É INCERTO
A compra será realizada pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), modalidade Compra Institucional, e está aberta a associações e cooperativas de sete estados.
Para produzir 1 kg de leite em pó, são necessários aproximadamente 8 litros de leite integral. Segundo cálculos da própria Conab, o governo pagará cerca de R$ 41,89 por quilo — valor que inclui custos operacionais.
A dúvida que persiste é: 2,5 mil toneladas serão suficientes para influenciar um mercado nacional que produz mais de 35 bilhões de litros por ano?
A resposta tende a ser negativa, segundo analistas do setor.
SETOR LEITEIRO VIVE CRISE DE PREÇO, CUSTOS E ESTRANGULAMENTO NA INDÚSTRIA
Mesmo sendo o terceiro maior produtor de leite do mundo, o Brasil enfrenta instabilidade crônica no setor, sobretudo para pequenos produtores. Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — responsáveis por 70% da produção nacional — têm enfrentado:
- Retração da indústria em alguns polos;
- Dificuldade de escoamento;
- Aumento no custo de insumos;
- Concorrência de leite importado;
- Oscilações fortes de preço.
A compra da Conab, embora represente alívio momentâneo para cooperativas menores, não resolve estruturalmente esses problemas.
AGRICULTORES FALAM EM “DESAFOGO”, MAS RECONHECEM QUE MEDIDA É EMERGENCIAL
Produtores afirmam que a iniciativa ajuda a aliviar parte da pressão imediata. O presidente da Cooperforte, Elio Müller, por exemplo, destacou que cooperativas enfrentavam dificuldade até para repassar leite à indústria.
Mas o próprio setor reconhece que ações pontuais não substituem políticas de longo prazo, como:
- Revisão dos custos de produção;
- Proteção contra importações desleais;
- Fortalecimento da agroindústria regional;
- Investimentos em tecnologia e produtividade.
Sem isso, alertam especialistas, o ciclo de crise tende a se repetir.
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