Presidente da Câmara Municipal de Porto Velho, Gedeão Negreiros, durante entrevista em que apresentou balanço administrativo e projeções políticas para 2026 - Foto: Marcelo Gladson | Alô Rondônia
Porto Velho, Rondônia – Ao mesmo tempo em que apresentou balanço administrativo da Câmara Municipal de Porto Velho, o presidente do Legislativo, vereador Gedeão Negreiros (PSDB), aproveitou a entrevista para projetar o futuro político da Casa, afirmando acreditar que o Parlamento municipal pode eleger entre cinco e sete deputados estaduais em 2026. A declaração ocorre em um contexto em que decisões administrativas passam a ser associadas diretamente ao capital político da atual legislatura.
Entre os principais pontos destacados por Gedeão estão a aprovação do Refis 2026 e o pagamento de um abono natalino de R$ 800 aos servidores da Câmara. As medidas foram apresentadas como resultado de gestão eficiente e economia interna, mas também reacendem o debate sobre o uso político de ações administrativas em um ano pré-eleitoral.
Refis volta após hiato e reforça discurso de protagonismo da Câmara
Aprovado após mais de quatro anos sem um programa de renegociação fiscal no município, o Refis 2026 permitirá a regularização de débitos como IPTU, multas municipais e de trânsito, com descontos elevados de juros e multas, que podem chegar próximos de 100%.
Segundo o presidente, a iniciativa seria uma resposta direta à demanda da população. No entanto, o programa também transfere para 2026 o impacto financeiro das renúncias fiscais, exigindo cautela quanto ao equilíbrio das contas municipais.
Embora Gedeão ressalte que a aprovação foi fruto do consenso entre os 23 vereadores, o momento da retomada do Refis — às vésperas de um novo ciclo eleitoral — levanta questionamentos sobre o alinhamento entre política fiscal e estratégia política.
Abono natalino evidencia economia, mas também limitações
Outro ponto celebrado foi o pagamento de um abono natalino de R$ 800 aos servidores da Câmara. O presidente atribuiu o benefício à contenção de gastos, como redução de diárias, passagens aéreas e enxugamento administrativo.
Apesar do discurso de austeridade, o próprio presidente reconheceu que o valor é modesto. O abono, embora bem-vindo aos servidores, expõe os limites da economia alcançada e levanta o debate sobre a valorização permanente do funcionalismo, para além de benefícios pontuais.
Base ampla, mas dependência política permanece
Gedeão classificou como “saudável” a relação com o Executivo municipal, ressaltando que 22 dos 23 vereadores integram a base do prefeito Léo Moraes. Embora negue submissão, a ampla maioria governista reduz o espaço para contrapontos mais duros e fiscalização efetiva, papel constitucional do Legislativo.
A afirmação de que a Câmara será contra pautas que prejudiquem a população ainda não foi testada em votações de maior impacto político e financeiro, o que mantém a expectativa sobre o real grau de independência da Casa.
Projeção eleitoral antecipa disputa de 2026
Ao afirmar que a Câmara pode eleger até sete deputados estaduais, o presidente evidencia que o discurso institucional já dialoga com o cenário eleitoral. A diversidade de perfis dos vereadores é apresentada como força política, mas também revela que o Legislativo municipal pode se tornar uma plataforma de lançamento para projetos eleitorais individuais.
Essa antecipação do debate eleitoral contrasta com a necessidade de manter o foco na produção legislativa e na fiscalização do Executivo ao longo de 2026.
Balanço positivo, mas desafios permanecem
Gedeão destacou números expressivos, como mais de 10 mil pedidos de providências e a aprovação de pautas estratégicas do Executivo. Ainda assim, o volume de requerimentos não se traduz, necessariamente, em soluções efetivas, sendo um indicador que exige análise qualitativa.
Com 16 vereadores em primeiro mandato, o presidente afirma que 2025 foi um ano de aprendizado. A expectativa de maior maturidade política em 2026 coloca sobre a Câmara a responsabilidade de demonstrar resultados concretos, indo além de anúncios e projeções.
Entre gestão e política
Ao encerrar a entrevista, o presidente reforçou o papel central da Câmara nas decisões do município e desejou boas festas à população. O discurso, no entanto, deixa claro que, enquanto celebra medidas administrativas, o Legislativo já se posiciona como ator relevante na disputa política que se aproxima.8
Em um cenário de desafios fiscais e sociais, caberá à Câmara demonstrar se o protagonismo anunciado será refletido em ações estruturantes ou se permanecerá restrito ao campo do discurso político.
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