
Debate sobre financiamento climático ganha centralidade na COP30 - Foto: Rafa Neddermeyer / COP30 Brasil Amazônia / PR
Especialistas defendem que ação climática seja integrada ao desenvolvimento e enfrente desigualdades estruturais
Porto Velho, RO - Durante a COP30, em Belém, o debate internacional sobre financiamento climático expôs um impasse: não se discute mais se será necessário mobilizar grandes recursos, mas como direcioná-los de forma justa e eficaz. Países em desenvolvimento enfrentam simultaneamente aumento de temperaturas, desigualdade crescente e endividamento elevado, fatores que pressionam por um novo modelo de financiamento alinhado às necessidades do Sul Global.
Especialistas apontam que o financiamento climático só gera resultados duradouros quando integrado a estratégias nacionais de desenvolvimento. A avaliação é que tratar a pauta climática de forma isolada ignora prioridades urgentes como redução da pobreza, geração de empregos e estabilidade social — especialmente em países que ainda buscam fortalecer infraestrutura básica, acesso a energia e inclusão produtiva.
Análises destacam que a atual arquitetura econômica mantém assimetrias históricas: países em desenvolvimento fornecem recursos essenciais para a transição verde, mas continuam recebendo menor parcela do valor gerado. Isso ocorre sobretudo em setores baseados em tecnologias importadas e cadeias produtivas controladas por países industrializados. A convergência entre proteção ambiental, política industrial e justiça social é vista como essencial para transformar essa dinâmica.
Organizações internacionais e centros de pesquisa alertam que boa parte das barreiras ao financiamento climático é política, não técnica. Enquanto subsídios a combustíveis fósseis e gastos militares seguem elevados, países endividados destinam mais recursos ao serviço da dívida do que à adaptação climática. Propostas como taxação de grandes fortunas e reestruturação de dívidas ganham força, mas enfrentam resistência de setores econômicos e de parte da comunidade internacional.
Economistas argumentam que ferramentas de mercado e iniciativas privadas são insuficientes para garantir uma transição justa. Para eles, o Estado precisa recuperar protagonismo como planejador e investidor, definindo prioridades estratégicas e garantindo que o financiamento climático reduza desigualdades, fortaleça capacidades produtivas e amplie o acesso a tecnologias verdes.
Propostas de reforma incluem mudanças no sistema financeiro internacional, revisão de regras de comércio e propriedade intelectual e ampliação do espaço de política para que países de baixa e média renda possam desenvolver suas próprias indústrias verdes. A expectativa é que a COP30 estimule cooperação baseada em solidariedade e responsabilidade compartilhada.
Para especialistas ouvidos ao longo da conferência, o financiamento climático precisa ultrapassar a contabilidade de emissões e se tornar uma alavanca de transformação estrutural. A avaliação é que ignorar o componente de desenvolvimento significa repetir desigualdades históricas, enquanto integrar clima e economia abre caminho para um modelo mais justo, soberano e sustentável.
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