
Cecília Rodrigues Mota durante depoimento à CPMI do INSS. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Advogada Cecília Rodrigues Mota manteve silêncio sobre transferências e vínculos comerciais ao responder questionamentos do relator
Porto Velho, RO – A CPMI do INSS ouviu, nesta terça-feira (18), a advogada Cecília Rodrigues Mota, ex-presidente de entidades ligadas a aposentados e pensionistas, em um depoimento marcado por contradições, silêncio diante de repasses milionários e questionamentos sobre possível envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro.
Silêncio garantido por habeas corpus
Amparada por um habeas corpus concedido pelo ministro Flávio Dino, Cecília afirmou inicialmente que utilizaria o direito ao silêncio para não prejudicar investigações em curso. Mesmo assim, respondeu algumas perguntas do relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), confirmando que:
- Conhece parte dos investigados
- É proprietária de empresas citadas no inquérito
- Movimentou milhões de reais nos últimos anos
Ela, porém, negou irregularidades e insistiu que toda sua renda vem do exercício da advocacia e de serviços prestados a associações.
“Toda a minha renda é fruto do meu trabalho como advogada, que inclui serviços prestados às entidades e ao meu escritório particular”, declarou Cecília.
Questionamentos sobre repasses e vínculos
O relator confrontou a depoente com informações sobre repasses milionários envolvendo empresas e pessoas ligadas ao INSS, entre elas Eric Fidelis, filho do ex-diretor de Benefícios do instituto.
“Por que a senhora coloca mais de 4 milhões de reais na conta do filho do André Fidelis depois desse ACT?”, perguntou Gaspar.
Cecília respondeu com silêncio, citando orientação jurídica.
A advogada também evitou explicar transferências destinadas a Thaísa Hoffmann Jonasson e Maria Paula Xavier da Fonseca, ligadas ao ex-procurador do INSS Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho.
Questionada, limitou-se a reiterar o uso do direito de não responder.
Ainda assim, admitiu conhecer alguns dos investigados, mas classificou as relações como “institucionais”.
Sócio-administrador da Mkt Connection Group LTDA, João Carlos Camargo Júnior, em pronunciamento à CPMI do INSS. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Empresas e movimentações sob suspeita
A CPMI destacou o papel de empresas ligadas à depoente, como a Highway Comércio e Serviço de Informática, da qual ela detém 50% das cotas. Apesar de reconhecer a participação societária, Cecília permaneceu em silêncio sobre:
- Valores movimentados,
- Serviços prestados,
- Estrutura das empresas,
- Relações comerciais com entidades investigadas.
Gaspar lembrou que as movimentações totais somam quase R$ 20 milhões, incluindo transferências de contas pessoais e advocatícias.
Evolução patrimonial e viagens internacionais
O relator também apontou suposta incompatibilidade entre o patrimônio declarado e a renda informada pela advogada. Ele afirmou que, em 2020, Cecília possuía um Ford Ka de R$ 59 mil e hoje tem dois Mustangs avaliados em mais de R$ 350 mil cada.
“Esses veículos foram adquiridos com recursos do meu trabalho”, assegurou Cecília.
Sobre as viagens, rebateu informações de que teria feito mais de 30 deslocamentos ao exterior.
“Isso é uma inverdade. O máximo foram sete ou oito viagens internacionais.”
Coincidências e omissões
O relator mencionou coincidências de datas de voos e eventos compartilhados com investigados, como Antonio Carlos Camilo, o “Careca do INSS”. Cecília negou qualquer relação pessoal com ele.
Por outro lado, repetiu não ter acesso às provas mencionadas, justificando o silêncio sobre temas específicos.
O outro depoente do dia
Chamado como testemunha, o empresário João Carlos Camargo Júnior, conhecido como “alfaiate dos famosos”, também compareceu munido de habeas corpus e optou pelo silêncio.
Segundo documentos citados pela CPMI, a empresa MKT Connection Group, aberta por ele em 2022, recebeu mais de R$ 31 milhões da Associação Amar Brasil, apontada como peça central da fraude. A alfaiataria de Camargo igualmente teria recebido R$ 1,7 milhão sem comprovação de serviços.
Gaspar classificou o empresário como o “elo principal da organização criminosa” e disse que solicitará sua prisão ao STF.
Nas poucas respostas dadas, Camargo alegou que tudo foi feito dentro da legalidade:
“Os serviços foram prestados, impostos pagos e lucros compatíveis com o trabalho da empresa.”
A CPMI deve agora aprofundar o rastreamento dos repasses e a conexão entre empresas e associações envolvidas no suposto esquema de desvio de recursos de aposentados e pensionistas. O relator anunciou que apresentará novos pedidos de diligências, incluindo medidas judiciais mais duras contra implicados.

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