A chamada rua Divisória, hoje avenida Presidente Dutra, marcava a fronteira entre a área administrada pelos Estados Unidos e a parte sob comando brasileiro.
Porto Velho, Rondônia – A história de Porto Velho guarda um episódio curioso e pouco lembrado: durante os primeiros anos de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), a cidade chegou a ser dividida fisicamente por uma cerca. De um lado, estavam os norte-americanos, que administravam a ferrovia e viviam em uma área moderna e bem estruturada. Do outro, ficava a população brasileira, em uma cidade marcada pela pobreza e pela falta de infraestrutura.
A ferrovia da morte
A EFMM foi a 15ª ferrovia construída no Brasil, entre 1907 e 1912, com 366 quilômetros ligando Porto Velho a Guajará-Mirim. O objetivo era facilitar o escoamento da borracha boliviana e brasileira, ultrapassando os trechos encachoeirados do rio Madeira.
Segundo historiadores, cerca de 20 mil trabalhadores de 50 nacionalidades foram contratados. O empreendimento, no entanto, ficou conhecido como “Ferrovia da Morte”, devido às milhares de mortes causadas por doenças como a malária. O médico e pesquisador Oswaldo Cruz foi enviado à região para implantar medidas de saneamento e combater as epidemias.
O domínio americano
A ferrovia foi construída pela empresa Mamoré Railway Co, do empresário norte-americano Percival Faquhar. A presença dos engenheiros e administradores estrangeiros trouxe forte influência cultural à região.
“Era uma área onde se falava inglês, os jornais circulavam em inglês e havia até clubes, cinema, lavanderia industrial, farmácia, hospital, energia elétrica, telefone e telégrafo sem fio”, explica o professor e historiador Aleks Palitot.
A cerca da rua Divisória
Para separar a área da ferrovia do restante da cidade, os americanos ergueram uma grande cerca no que hoje é a avenida Presidente Dutra. Por muito tempo, a via ficou conhecida como “rua Divisória”.
De acordo com o historiador Dante Fonseca, autor do livro Estudos Históricos Amazônicos, essa linha se estendia da Praça Marechal Rondon até a região do atual poliesportivo Pequeno Deroche, na avenida Pinheiro Machado.
O lado brasileiro
O espaço fora da cerca começou a ser administrado oficialmente em 24 de janeiro de 1915, com a posse de Fernando Guapindaia de Souza Brejense, conhecido como Major Guapindaia, primeiro superintendente (cargo equivalente a prefeito). Na época, Porto Velho ainda era município do Amazonas.
Mesmo enfrentando dificuldades, Major Guapindaia implantou melhorias urbanas, como a abertura de ruas, alinhamento de casas, construção do Mercado Municipal, do Cemitério dos Inocentes, da cadeia pública, de pontes e da primeira escola pública da cidade, a Escola Mista Municipal.
Nacionalização da ferrovia
Somente em 10 de julho de 1931, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi oficialmente nacionalizada, passando para o controle brasileiro. O governo nomeou Aluízio Pinheiro Ferreira como diretor-geral da ferrovia.
Este ano, a EFMM completa 111 anos de história, permanecendo como símbolo de resistência, sacrifício e influência internacional na formação de Porto Velho.
Por Secretaria Municipal de Comunicação (Secom)
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