Imagem ilustrativa de motorista usando GPS no celular. — Foto: Freepik/reprodução

Porto Velho, Rondônia - O Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês para Global Positioning System) tornou-se essencial para uma série de aplicações civis e militares. A possibilidade de seu bloqueio parcial ou total por motivos geopolíticos levanta preocupações sobre a dependência global desse sistema. O presente artigo busca esclarecer se os Estados Unidos, criadores e mantenedores do GPS, poderiam restringir o acesso ao serviço em países específicos como o Brasil, e quais seriam as implicações e alternativas disponíveis.

Como Funciona o Sistema GPS

O GPS é uma tecnologia de geolocalização por satélite desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos nos anos 1970. Embora originalmente criado com fins militares, passou a ser disponibilizado para uso civil a partir dos anos 1990.

O sistema é composto por uma constelação de pelo menos 24 satélites ativos (atualmente são 31), distribuídos em órbitas que garantem a cobertura global contínua. Os satélites transmitem sinais de rádio contendo informações de tempo e localização, que são captadas por receptores na Terra. A triangulação dos sinais de, no mínimo, quatro satélites permite determinar com precisão a posição do receptor.

Existem dois tipos de serviço:

SPS (Standard Positioning Service): de uso civil e gratuito em todo o mundo;

PPS (Precise Positioning Service): reservado às Forças Armadas norte-americanas e seus aliados.

É Possível Bloquear o Sinal do GPS em um País?

Tecnicamente, o bloqueio seletivo do sinal civil do GPS em um país específico é extremamente difícil. O sinal é transmitido de forma contínua e unidirecional a partir dos satélites, cobrindo grandes áreas da superfície terrestre.

Segundo Eduardo Tude, engenheiro especialista em telecomunicações e presidente da consultoria Teleco, seria praticamente inviável cortar o sinal do GPS para apenas um país sem afetar regiões vizinhas ou até mesmo usuários nos próprios Estados Unidos. Ele compara o sistema à TV aberta: “Todos recebem o sinal, e quem possui o receptor adequado consegue decodificá-lo”.

Para realizar um bloqueio localizado, seriam necessárias técnicas como:

Jamming: interferência por emissão de sinais de rádio na mesma frequência, dificultando a recepção do sinal original

Spoofing: envio de sinais falsos ao receptor para enganar a localização.

Essas técnicas, porém, exigem proximidade geográfica e infraestrutura específica, sendo mais comuns em cenários de guerra ou sabotagem deliberada, como observado na guerra entre Rússia e Ucrânia.

Implicações de um Bloqueio do GPS

A eventual restrição ao GPS afetaria diversos setores:

Transportes: aviação, navegação marítima e logística terrestre;

Telecomunicações e energia: dependem da precisão temporal fornecida pelo GPS para sincronização de redes;

Bancos e finanças: utilizam o tempo do GPS para validação de transações;

Monitoramento eletrônico: tornozeleiras eletrônicas e sistemas de rastreamento.

A engenheira Luísa Santos, especialista em sistemas aeroespaciais pela Universidade de Buenos Aires (UBA), destaca que, embora tecnicamente possível degradar o sinal civil, isso traria consequências diplomáticas sérias. “A interrupção afetaria a confiança global no sistema e aceleraria a adoção de alternativas”, afirma.

Sistemas Alternativos ao GPS

Em virtude da centralização norte-americana sobre o GPS, outros países desenvolveram sistemas próprios:

GLONASS (Rússia);
BeiDou (China);
Galileo (União Europeia);
NavIC (Índia);

QZSS (Japão).

Muitos dispositivos modernos são compatíveis com múltiplas constelações, utilizando combinações para maior precisão e confiabilidade. Além disso, sistemas terrestres como o eLoran estão sendo reativados em alguns países como redundância.

Segundo a astrofísica Ana Apleiade, da USP, “o GPS já não é a única fonte de posicionamento global. Mesmo com o corte, o mundo não ficaria cego — apenas menos eficiente por um tempo”.

A possibilidade de os Estados Unidos bloquearem unilateralmente o sinal do GPS para o Brasil, embora teoricamente factível, é improvável devido à abrangência global do sistema e aos efeitos colaterais de uma ação desse tipo. Além disso, a existência de alternativas internacionais e regionais minimiza os impactos de um eventual bloqueio.

O episódio, no entanto, serve de alerta para a importância da soberania tecnológica e da diversificação das infraestruturas críticas, especialmente em tempos de instabilidade geopolítica.