"Missão suicida": brasileiros revelam o horror vivido no front da guerra entre Rússia e Ucrânia

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"Missão suicida": brasileiros revelam o horror vivido no front da guerra entre Rússia e Ucrânia

 

Combatentes brasileiros na Ucrânia; Dean Darlanw é o primeiro em pé à esquerda da foto. — Foto: Reprodução/ Acervo Pessoal. //// Relatos de ex-combatentes mostram realidade brutal enfrentada por voluntários brasileiros recrutados via redes sociais para lutar ao lado da Ucrânia. Ao menos nove já morreram, segundo o Itamaraty.

Porto Velho, Rondônia - Brasília (DF) — “Missão suicida”, “inferno na terra”, “guerra não é para amadores”. Essas são algumas das expressões usadas por brasileiros que decidiram, por conta própria, lutar na guerra entre Rússia e Ucrânia. Com perfis diversos, esses combatentes voluntários têm em comum a busca por propósito e a vontade de servir a uma causa. No entanto, ao chegar ao front, encontraram violência, desorganização e a dura realidade dos combates.

Desde o início do conflito em 2022, centenas de estrangeiros, inclusive brasileiros, têm sido recrutados para integrar as Forças Armadas da Ucrânia. O processo é simples: basta preencher um formulário pela internet e, se aprovado, seguir até a capital polonesa, Varsóvia, onde se inicia o deslocamento para Kiev, capital ucraniana.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), até julho de 2025, nove brasileiros já morreram em combate no país do leste europeu e outros 17 seguem desaparecidos.

Recrutamento e jornada até o front

Entre os brasileiros que retornaram vivos, dois relatos se destacam: o de Wemerson Darlan, 35 anos, mineiro de Belo Horizonte, que atuou na Guarda Nacional da Ucrânia por um ano, e o de “DC”, ex-combatente de 22 anos que preferiu manter a identidade em sigilo.

Ambos foram recrutados pelas redes sociais e custearam, por conta própria, os custos da viagem até a Europa. Em Kiev, passaram por treinamentos básicos antes de serem enviados a zonas de conflito. Darlan chegou em fevereiro de 2024 e permaneceu até o início de 2025. DC, por sua vez, atuou por quatro meses, entre março e julho de 2025.

Apesar do treinamento inicial, DC relatou ter sofrido negligência durante sua passagem pela Ucrânia. Após deslocar o braço em combate, ficou quatro horas sem atendimento médico adequado e precisou comprar medicamentos com recursos próprios. “Tive que escolher entre comprar comida ou comprar capacete”, relatou.

Realidade nas trincheiras

A experiência dos brasileiros varia conforme a região e a unidade em que atuaram. DC foi enviado à cidade de Izium, e depois realocado para trincheiras próximas à chamada “linha 0”, a apenas alguns quilômetros da frente de batalha. Segundo ele, era comum ver colegas feridos ou mortos. “No final, percebemos que quem ia, não voltava. E os que voltavam, vinham sem pernas ou baleados.”

Darlan, que integrou a Guarda Nacional, atuou entre Kiev e Donbass, na região leste. Embora tenha recebido treinamento e os materiais prometidos, ele relata o trauma de presenciar cenas de destruição. “No caminho, havia mais de 5 mil corpos. É o inferno na terra. Drone, artilharia, bombardeio aéreo. Um ataque atrás do outro.”

Salários e desilusão

Os contratos assinados previam pagamentos em grívnas (moeda local), e não em dólares, como muitos esperavam. A cotação da moeda é baixa (cerca de R$ 0,13 por grívna), o que gerou frustração em parte dos combatentes. DC reclama que os custos do dia a dia, como alimentação e medicamentos, eram arcados pelos próprios soldados. Darlan, por outro lado, afirma que teve todos os insumos básicos cobertos.

O retorno ao Brasil

DC optou por deixar a guerra por conta própria após ver vários colegas morrerem. Em um dia de descanso em uma base segura, abandonou a missão e iniciou uma jornada clandestina pela Europa, até conseguir voltar ao Brasil. “Você morre ali, seu corpo desaparece. Sua família nunca mais sabe de você.”

Darlan permaneceu até o fim do contrato, mas também decidiu retornar após perder o melhor amigo em combate. Comunicou ao comandante sua decisão e conseguiu deixar o país sem intercorrências.

Alerta às famílias

Recentemente, a morte do mineiro Gabriel Pereira, de 21 anos, reacendeu o alerta sobre o risco do envolvimento de brasileiros no conflito. Gabriel foi recrutado por redes sociais e morreu próximo à fronteira com a Rússia. Seu corpo ainda não foi localizado.

O Itamaraty mantém um alerta para que brasileiros evitem zonas de conflito, mas admite que não há como impedir o alistamento voluntário por vias particulares. A Embaixada do Brasil na Ucrânia informou que presta apoio às famílias, dentro das possibilidades legais.

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