Explosões em dias consecutivos também deixaram 3.539 feridos, segundo ministro da Saúde

Combatentes do Hezbollah carregam caixões de pessoas mortas após explosões de pagers no Líbano, ocorridas em 17 de setembro de 2024 — Foto: Anwar AMRO / AFP

Porto Velho, Rondônia -
O número de mortos pelos dois dias consecutivos de explosões de aparelhos de comunicação de membros do grupo xiita libanês Hezbollah subiu para 37, informou nesta quinta-feira o ministro da Saúde do Líbano, Firass Abiad, que também afirmou que há 3.539 feridos — sendo 608 na quarta-feira. Dos mortos, 12 foram nas detonações de entre 3 mil a 4 mil pagers na terça-feira, incluindo oito integrantes do Hezbollah e duas crianças, e os outros 25 na explosão de walkie-talkies na quarta, incluindo 20 do grupo libanês.

A organização político-militar, assim como autoridades dos EUA e de outros países, apontaram Israel como responsável pelas ações, as mais recentes em uma série de troca de hostilidades entre os dois lados desde 8 de outubro, um dia após os ataques do grupo terrorista Hamas no sul israelense que desencadearam a guerra em Gaza. Nesta quinta-feira, dois israelenses ficaram feridos em um ataque de drone, enquanto outros oito ficaram feridos pelo disparo de mísseis antitaque do Hezbollah a partir do Líbano contra o norte de Israel. Em resposta, o Exército israelense anunciou que bombardeou sete posições do grupo xiita no sul libanês, sendo seis "locais com infraestruturas terroristas" e um depósito de armas.

O Exército israelense não respondeu a pedidos do jornal americano New York Times para comentar as explosões, mas o ministro da Defesa do país, Yoav Gallant, disse em uma declaração em vídeo nesta quarta-feira que Israel estava "no início de um novo período nesta guerra". Sem mencionar os ataques no Líbano, que elevaram os temores de que o conflito possa escalar para uma guerra total, Gallant disse que o "centro da gravidade" dos esforços militares israelenses "se movia para o norte" à medida que o país desviava "forças, recursos e energia em direção à ameaça apresentada pelo Hezbollah".

Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reiterou nesta quarta-feira a promessa de que as dezenas de milhares de residentes do norte israelense poderão regressar a suas casas perto da fronteira com o Líbano após terem sido retiradas por causa da troca de hostilidade na fronteira. Desde o início das hostilidades entre o Hezbollah e Israel, centenas foram mortos nos ataques em território libanês e dezenas em solo israelense, enquanto um total de 150 mil civis de ambos os lados da fronteira entre os dois países foram deslocados.

"Já disse, levaremos os residentes do norte de forma segura para suas casas", afirmou Netanyahu em um vídeo, dois dias depois de o Gabinete de Israel ter incluído essa medida nos objetivos do conflito.

À rede americana CNN, o ministro de Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Bou Habib, disse temer que os dois dias seguidos de ataques sinalizem um movimento para uma "introdução à guerra".

— É um momento assustador e estamos com medo de uma guerra (...) Houve troca de hostilidades antes, mas agora falamos sobre uma introdução à guerra — afirmou. — Não podemos falar com o Hezbollah agora da forma como fazíamos antes porque, claro, foram atingidos fortemente e, portanto, a retaliação é algo que veem como necessário.

À AFP, uma fonte próxima ao grupo xiita disse que “vários walkie-talkies explodiram” na região onde eram realizados os funerais de três membros do Hezbollah e de uma criança mortos pelos pagers que explodiram no dia anterior. Um repórter da rede catari al-Jazeera disse ter presenciado duas explosões na capital, Beirute, incluindo a de um carro. Ambulâncias rapidamente foram vistas pelas ruas, que, segundo testemunhas, foram “tomadas pelo caos”. O Exército libanês pediu que os cidadãos não se aglomerassem nas áreas onde os incidentes foram relatados para “permitir a chegada das equipes médicas”.

Carro pega fogo após walkie-talkie explodir no sul do Líbano em 18 de setembro de 2024 — Foto: Reprodução

Os feridos foram levados para hospitais, que ficaram sobrecarregados. Em um centro de saúde em Beirute, um médico descreveu os ferimentos como “nunca vistos antes”, e a médica Joelle Khadra relatou que os ferimentos eram principalmente nos olhos e nas mãos. O ministro da Saúde do Líbano disse que muitos dos feridos tinham lesões nos olhos e que outros tiveram membros amputados. Ele acrescentou que Turquia, Iraque, Irã, Síria e Egito ofereceram ajuda médica, e que um avião militar iraquiano direcionou 15 toneladas de medicamentos e equipamentos médicos ao país.

À agência Reuters, uma fonte do Hezbollah afirmou que os walkie-talkies foram comprados há cerca de cinco meses, na mesma época da aquisição dos pagers. Na primeira onda de ataques, na terça-feira, parecia que pequenas quantidades de explosivos haviam sido escondidas nos milhares de pagers entregues ao Hezbollah e detonadas remotamente. Agora, os relatos de mais dispositivos afetados sugerem uma infiltração ainda maior de armadilhas na cadeia de suprimentos do Líbano, segundo a Associated Press.

Escalada do conflito

Nas últimas semanas, líderes israelenses emitiram uma série de advertências de que poderiam aumentar as operações contra o Hezbollah no Líbano. Na manhã desta quarta, menos de um dia após as explosões dos pagers, o Exército de Israel moveu mais tropas para a fronteira como medida preventiva, segundo um agente envolvido no assunto.

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, denunciou o apoio ocidental aos “crimes e assassinatos indiscriminados” de Israel. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse nesta quarta que os EUA ainda estão avaliando como os incidentes podem afetar os esforços para negociar um cessar-fogo na guerra Israel x Hamas, que seguem sem avanço, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, repudiou o uso de objetos civis como armas.

— Esta deveria ser uma regra para todos no mundo, que os governos deveriam ser capazes de aplicar — disse Guterres à imprensa, em referência ao ataque de terça-feira. — Tão importante quanto o evento em si é o indício que confirma que existe um grave risco de escalada dramática no Líbano, e deve-se fazer tudo o que for possível para evitá-la.

Golpe ‘severo’

O ataque deu um golpe severo ao grupo militante, que já tinha preocupações sobre a segurança de suas comunicações após a perda de vários comandantes importantes em ataques aéreos direcionados nos últimos meses. Após o New York Times relatar que a empresa taiwanesa Gold Apollo foi apontada por autoridades americanas e de outros países como fornecedora dos pagers usados na série de explosões, a companhia buscou se distanciar do ocorrido e disse que eles foram produzidos por seu parceiro húngaro BAC Consulting KFT.

O presidente da Gold Apollo, Hsu Ching-kuang, disse aos jornalistas nesta quarta que a empresa tem um acordo de licenciamento com a BAC há três anos, e que “o design e a fabricação dos produtos são de responsabilidade exclusiva” desta última. O Ministério de Assuntos Econômicos de Taiwan, que supervisiona o comércio, disse que seus registros não mostravam “nenhuma exportação direta para o Líbano” dos pagers da Gold Apollo. Os dispositivos da empresa foram exportados principalmente para a Europa e América do Norte, disse a pasta. Com base nas notícias e fotografias, a Gold Apollo julgou que os pagers foram modificados somente após serem exportados de Taiwan.

A situação é extremamente volátil, com o aumento das tensões e a possibilidade de um conflito regional mais amplo. As principais companhias aéreas como Lufthansa e Air France suspenderam seus voos para Tel Aviv, Teerã e Beirute até quinta-feira.

(Com AFP e New York Times)


Fonte: O GLOBO