As quase 500 pessoas mortas somente na segunda-feira, incluindo dezenas de crianças, representam aproximadamente metade do número de libaneses mortos durante a guerra de 34 dias entre Israel e o Hezbollah em 2006

Fumaça após explosão em Zaita, cidade no sul do Líbano atacada por Israel nesta segunda — Foto: Mahmoud ZAYYAT / AFP

Porto Velho, Rondônia -
O Líbano viveu seu dia mais mortal em quase duas décadas após Israel realizar ataques aéreos contra o grupo militante Hezbollah em várias partes do país. Na segunda-feira, aproximadamente 500 pessoas foram mortas, incluindo dezenas de crianças. Segundo a CNN, o número equivale a cerca de metade do número total de libaneses mortos durante a guerra de 34 dias entre Israel e Hezbollah em 2006.

O exército israelense afirmou ter atingido 1.600 alvos do Hezbollah, incluindo "mísseis de cruzeiro", foguetes e ogivas explosivas, que estariam armazenados em residências civis.

— É uma catástrofe, um massacre — disse à AFP Jamal Badrane, médico do hospital People's Aid em Nabatieh, uma cidade do sul. — O bombardeio não para, eles nos bombardearam quando estávamos ajudando os feridos.

O sistema de saúde do país já estava sobrecarregado após as explosões quase simultâneas — atribuídas a Israel , que não se pronunciou — de milhares de pagers e walkie-talkies usados pelos integrantes do Hezbollah, matando 39 pessoas e ferindo mais de 3 mil. O Ministério da Saúde determinou que os hospitais do sul cancelem a realização de cirurgias eletivas para se concentrarem nos atendimentos de urgência em meio aos bombardeios.

O pânico se espalhou também pela capital, Beirute, onde muitos moradores receberam mensagens de alerta israelenses em telefones celulares e fixos. O Exército israelense informou ter realizado um ataque "direcionado" na região, que teria como alvo Ali Karake, o comandante da frente sul do Hezbollah, segundo informou uma fonte próxima ao grupo à AFP. Na última sexta-feira, a capital foi alvo de um bombardeio que deixou 45 mortos, incluindo vários civis e o comandante da Força al-Radwan, Ibrahim Aqil.

Escolas e jardins de infância no centro de Beirute pediram aos pais que buscassem os filhos no meio do dia. Em uma escola no leste da capital, dezenas de estudantes do ensino médio esperavam para serem pegos, enquanto outros saíam correndo, de mãos dadas com os pais. Maria Karen, de 15 anos, estava na aula de Matemática quando notou a movimentação de responsáveis no corredor.

Moradores em fuga e prédios esvaziados

Na cidade costeira de Tiro, centenas de pessoas se abrigaram em uma escola, disse Bilal Kachmar, funcionário da agência de gestão de desastres, enquanto muitos acamparam nas ruas e outros sentaram nas calçadas esperando para serem realocados.

Pessoas fazem fila para abastecer em um posto de gasolina em Beirute, Líbano — Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Centenas de veículos que transportavam famílias inteiras ficaram presos em engarrafamentos gigantescos em Sídon, uma das principais cidades do sul do Líbano, segundo fotógrafos da AFP. O ministro da Saúde, citado pelo New York Times, afirmou que milhares de famílias foram deslocadas e que alguns de seus carros e veículos foram atingidos. O jornalista Nazir Rida saiu às pressas de Beirute para buscar a família, que mora no vilarejo de Babliyeh.

— Ninguém esperava essa escalada repentina. Nosso vilarejo havia sido poupado das bombas até agora — disse ele à AFP, no meio de um engarrafamento em Sídon, explicando que tinha deixado os filhos em Babliyeh porque o vilarejo era considerado mais seguro do que os subúrbios no sul de Beirute, reduto do Hezbollah.

O movimento controla grande parte das áreas de maioria xiita do Líbano, incluindo setores de Beirute, do sul do Líbano e a região oriental do Vale do Bekaa, segundo o Council on Foreign Relations, um dos principais centros de estudos de política internacional dos EUA.

Em Beirute, muitos moradores receberam mensagens de alerta israelenses em casa ou em seus locais de trabalho.

— Recebi uma mensagem no meu celular dizendo "se você estiver em um prédio onde há armas do Hezbollah, fique longe" — disse à AFP Khaled, um morador de Beirute que não quis dar seu sobrenome.

Pessoas que fugiram de suas aldeias no sul do Líbano são recebidas em um instituto de arte transformado em abrigo para pessoas deslocadas pelo conflito, em Beirute — Foto: FADEL ITANI/AFP

A mesma mensagem, mas gravada, foi recebida nos telefones fixos de muitos escritórios, incluindo o do Ministro da Informação, Ziad Makary. "Quando a assistente do ministro atendeu, ela ouviu uma mensagem gravada pedindo que (os funcionários) deixassem o prédio ou se encontrariam sob bombas", afirmou o gabinete do ministro. Makary denunciou a "guerra psicológica" que, segundo ele, estava sendo travada por Israel.

A estação de rádio oficial libanesa, localizada no mesmo prédio, recebeu uma mensagem semelhante e as pessoas que estavam no local deixaram o prédio, informou um fotógrafo da AFP.

Entenda a escalada

O Hezbollah, um poderoso ator político e militar no Líbano, abriu uma frente na fronteira com Israel após o início da guerra na Faixa de Gaza, que eclodiu após o ataque do grupo terrorista Hamas — que governa o enclave palestino desde 2007 — ao território israelense em 7 de outubro do ano passado. Um dia após o ataque, o Hezbollah lançou uma série de mísseis e projéteis de artilharia contra o território israelense em "solidariedade" ao Hamas. Os dois grupos são aliados e integram o Eixo da Resistência, como são chamados os aliados armados e financiados pelo Irã, que incluem ainda a Síria, os rebeldes houthis do Iêmen e milícias xiitas do Iraque. Desde outubro, a troca de agressões na fronteira é diária, e o Hezbollah afirma que só vai suspender as hostilidades contra Israel quando um cessar-fogo em Gaza for obtido.

A crise escalou na semana passada com a explosão quase simultânea dos pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah. O grupo respondeu com força. Centenas de foguetes foram disparados de diferentes pontos do sul do Líbano contra o norte de Israel, forçando as autoridades do Estado judeu a fecharem o espaço aéreo de parte do país no fim de semana e emitirem restrições de segurança para a população civil. No domingo, o grupo lançou cerca de 150 foguetes, mísseis de cruzeiro e drones, atingindo uma área civil perto de Haifa, a terceira cidade mais importante de Israel.

Após os novos ataques israelenses na manhã desta segunda-feira, o Hezbollah voltou a retaliar. Sirenes de alerta voltaram a soar no norte de Israel, com as Forças Armadas confirmando que 165 projéteis foram lançados contra a região. A maioria foi abatida ou caiu em áreas abertas, disseram os militares, mas serviços de emergência registraram ao menos cinco pessoas com ferimentos leves. (Com NYT)


Fonte: O GLOBO