Deputado estadual do PL foi o terceiro postulante a ser entrevistado pelo grupo; ele atacou o líder nas pesquisas, Mauro Tramonte, e se colocou como o 'único candidato da direita'

Bruno Engler na sabatina O GLOBO, Valor e CBN — Foto: Divulgação/CBN

Porto Velho, Rondônia - Terceiro candidato à prefeitura de Belo Horizonte a ser sabatinado pelos jornais O Globo, Valor e rádio CBN, o deputado estadual Bruno Engler (PL) se colocou enquanto o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o único representante da direita. Ele alfinetou o postulante do governador Romeu Zema (Novo), o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos).



— Em relação a Tramonte, sou um cara ainda desconhecido. Acredito que durante o período eleitoral, vai ficar claro quem é a candidatura de direita. Eu conheço o Tramonte e ele se exime de se posicionar em polêmicas. Em relação a um eventual desgaste por estar com Bolsonaro, eu sou um cara leal e isso não me preocupa.

A declaração foi dada logo após ele ter afirmado que, em sua avaliação, o belo-horizontino está cansado de candidatos camaleão, candidatos vaselina.

— Não sei se a eleição será polarizada, mas acredito que o eleitor está cansado de candidato vaselina. Eu sou de direita, sou Bolsonaro, mas o que interessa é discutir Belo Horizonte.

Sobre ter sido preterido por Zema, disse ter achado estranho que ele esteja no mesmo palanque que seu adversário, o ex-prefeito Alexandre Kalil. Os dois políticos disputaram as eleições ao governo do estado em 2022. Kalil renunciou a gestão em março de 2022, quando o prefeito Fuad Noman (PSD) assumiu. O índice de desconhecimento citado por Engler é de 53%, segundo a última Quaest.

— Eu não briguei com o governador Romeu Zema, tenho um bom relacionamento, mas achei que estranho ele subir no mesmo palanque do Kalil. Eu fui vice-líder do governo dele e me tiraram porque votei contra o ICMS. Eu sou contra aumento de imposto e ele se elegeu falando isso.

No caso de um eventual segundo turno, afirmou estar disposto a dialogar com Tramonte e também com o senador Carlos Viana (Podemos), apesar de não considerá-los de "direita".

— Estamos dispostos a dialogar com todos os partidos que não sejam da extrema-esquerda. Acho que o Viana está se posicionando ai, mas ele é um cara que está no Senado há seis anos e não encapou as pautas da direita de forma satisfatória. A verdadeira candidatura da direita é do Bruno Engler.

Passado nanico

Na Assembleia Legislativa desde 2019, esta é a segunda eleição municipal que Bruno Engler concorre. Em 2020, disputou pelo PRTB e foi o segundo colocado, com 9,95%. O ex-prefeito foi reeleito, em primeiro turno.

A sigla que concorreu há quatro anos é a mesma que o empresário Pablo Marçal disputa em São Paulo. Mesmo sem tempo de televisão, as pesquisas mostram um melhor desempenho de Marçal, o que lhe foi questionado.

— O Marçal é um excelente comunicador, mas ele tem vantagem, ele está indo em debates. Eu sequer fui a debates. Teve apenas um, da Band, que não fui chamado — disse.

Relação com Lula

Caso seja eleito, Bruno Engler afirmou que independentemente de quem ocupe as cadeiras da presidência e do governo, buscará uma relação republicana. Em relação ao presidente Lula (PT), ele diz que vai se inspirar no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

— Em relação ao governo federal, nossa intenção é ter um relacionamento institucional. Acho que Lula não está precisando de um amigo e eu certamente também não estou. Eu me espelho muito em Tarcísio, ninguém nega que ele é um bolsonarista de primeira hora, mas quando precisa resolver os problemas do estado, ele senta com os ministros e Lula. Belo Horizonte não é diferente.

'Quem tem que ser vigiado é bandido'

O candidato também se colocou contra a instalação de câmeras nos uniformes dos guardas municipais. Segundo Bruno Engler, a medida expõe o agente público, que em sua avaliação não deveria ser monitorado. O postulante diz que o monitoramento nas ruas já seria suficiente.

— A câmera que está na rua pega o cidadão e a guarda municipal, pega todo mundo. A gente não pode partir de um contexto de desconfiança de que o agente de segurança pública precisa ser vigiado. E outra coisa, a câmera atrapalha a atividade policial porque muitas vezes tem que reportar a prática e as pessoas tem medo de pegar fama de X9.

Engler foi confrontado com dados de que a implementação das câmeras reduzem a letalidade policial. Ele seguiu com o mesmo posicionamento:

— Eu tenho confiança nos nossos agentes de segurança e a única câmera que acho que possa ser implementada é a facultada. Acho que quem deve ser vigiado é bandido e não policial.

Parada LGBT sem recursos

Quando questionado sobre manter os recursos da parada LGBTQIA+, o bolsonarista falou que dará o aparato técnico, mas não crê que o evento possa ser custeado pelo orçamento público.

— A parada LGBT tem uma pegada ideológica, acho que a prefeitura tem que dar todo o suporte técnico de estrutura. Ao meu entender não cabe investimento público na festa, só na estrutura para que possa ocorrer com tranquilidade.

Sobre as casas de acolhimento para a população da comunidade que já existem na capital, ele afirmou que irá mantê-las, uma vez que já estão previstas nas contas.

Já sobre o carnaval de Belo Horizonte, o bolsonarista fala em voltar a procurar investimentos privados como uma forma de desafogar o orçamento. Fuad Noman foi traçado como incompetente pelo deputado por ter investido um grande montante na edição deste ano.

Mobilidade e trânsito

Considerado um dos principais gargalos por 25% dos eleitores em Belo Horizonte, o trânsito foi tratado pelo candidato. Para exemplificar seu projeto tecnológico, ele usou São Caetano do Sul, em São Paulo, como um plano a ser replicado. A cidade participou de um teste entre o Google e o Waze para unificar os sistemas de trânsito, o que reduziu o tráfego.

O candidato também falou sobre o contrato de ônibus na capital mineira e se comprometeu a auditar a concessão.

— A gente pretende auditar esses contratos e entender se eles estão regulares. Se tiver irregularidade, não tenho medo algum de suspender ou reincidir. Esse contrato de BH é uma herança do PT e o próximo prefeito vai ter uma oportunidade impar de fazer um novo contrato.

Educação

Na área da educação, Bruno Engler prometeu construir novas EMEIs, expandir o horário integral os alunos da rede municipal e zerar as filas do ensino infantil. Para esta última meta, propõe parcerias com a rede privada.

— Temos 1600 crianças a espera de vaga, a gente quer fazer processo licitatório para que creches e escolas da rede privada possam se inscrever para que a prefeitura pague pelo ensino e tenhamos ai uma solução rápida sem gastar um saco de cimento.

Construção civil

Uma das problemáticas abordadas pelo candidato é o preço para construir em Belo Horizonte, que acaba fazendo com que empresários prefiram outras cidades mineiras, à exemplo de Nova Lima.

— A gente tem um compromisso com a revisão do plano diretor. Hoje a gente tem uma prefeitura inimiga daqueles que geram emprego, renda e oportunidade. A gente quer uma prefeitura que seja parceira.

Mineração na Serra do Curral

Tombada pelo o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) em 2022, a Serra do Curral perpassa uma mineração histórica. O candidato defendeu que a atividade que ocorre de forma legal nas costas do maciço pode ser mantida. Tal ponto é uma divergência em relação aos postulantes da esquerda, Rogério Correia (PT) e Duda Salabert (PDT), que falam em parar as mineradoras na região.

Saúde e população de rua

Engler defendeu a criação de um aplicativo que integralize o sistema de saúde. A proposta também aparece em planos de governo de outros candidatos, à exemplo de Mauro Tramonte.

Já sobre a população de rua, que passou por aumento após a pandemia da Covid-19, o postulante do PL falou sobre a necessidade de se produzir dados, para entender quais são as necessidades.

'Prefeito é omisso'

A gestão de Fuad Noman (PSD) foi criticada pelo adversário, principalmente no que diz respeito ao transporte intermunicipal, a Lagoa da Pampulha e o Novo Rodoanel. Segundo Engler, o prefeito não se posiciona junto ao governo do estado e os demais gestores da região.

— Falta protagonismo, falta posicionamento. A gente tem um prefeito omisso. Belo Horizonte precisa ser protagonista da sua região metropolitana e hoje, infelizmente, não é.

Outras sabatinas

Quem abriu as sabatinas foi o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), na segunda-feira. Ontem, foi a vez do prefeito Fuad Noman (PSD).

Ao longo desta semana, outros dois candidatos serão sabatinados: Duda Salabert (PDT), na quinta-feira; e Carlos Viana (Podemos), na sexta-feira. O critério de seleção foram os cinco primeiros colocados nas pesquisas recentes divulgadas na capital mineira. A ordem foi definida por sorteio.

Todas as entrevistas serão transmitidas ao vivo pela rádio e nos sites e redes sociais dos três veículos. Serão três semanas de sabatinas presenciais, que terão início às 10h30m, com duração aproximada de uma hora.

Na capital mineira, os candidatos são entrevistados pelas colunistas Bela Megale e Renata Agostini, do GLOBO e da CBN, pela âncora da rádio Shirley Souza e pela jornalista Cibelle Bouças, do Valor Econômico.

Veja a programação:
  • Mauro Tramonte (Republicanos): 02/09
  • Fuad Noman (PSD): 03/09
  • Bruno Engler (PL): 04/09
  • Duda Salabert (PSD): 05/09
  • Carlos Viana (Podemos): 06/09

Fonte: O GLOBO