Ao menos quatro pessoas morreram e 16 ficaram feridas após Moscou atacar o território com 81 drones, mísseis de cruzeiro e balísticos

Equipes de resgate da Ucrânia trabalham após hotel ser danificado por um ataque aéreo russo em Kryvyi Rig — Foto: UKRAINIAN EMERGENCY SERVICE / AFP

Porto Velho, Rondônia - A Rússia lançou uma nova onda de ataques com mísseis e drones na madrugada desta terça-feira na Ucrânia, disse o presidente Volodymyr Zelensky. Segundo o mandatário ucraniano, ao menos quatro pessoas morreram e 16 ficaram feridas após Moscou atacar o território com 81 drones, mísseis de cruzeiro e balísticos. A ofensiva ocorreu apenas um dia depois de as forças russas lançarem um dos maiores ataques desde o início da guerra contra o país vizinho, matando sete pessoas e ferindo outras 47, incluindo quatro crianças.
 
Ao menos duas pessoas morreram e cinco ficaram feridas num ataque a um prédio residencial na cidade industrial de Kryvyi Rih, segundo a administração militar da cidade. Outras duas pessoas foram mortas e quatro ficaram feridas após sete drones atingirem a cidade ucraniana de Zaporíjia. Na capital, Kiev, que enfrentou apagões após a investida de segunda-feira, cinco alertas aéreos foram acionados durante a noite. O governo local disse que as defesas aéreas destruíram todos os drones e mísseis, mas que os destroços que caíram causaram incêndios florestais.

“Nós, sem dúvida, responderemos à Rússia por este e todos os outros ataques. Crimes contra a humanidade não podem ficar impunes”, escreveu Zelensky no X nesta terça-feira.

Já faz um ano que a Rússia tem disparado grandes quantidades de projéteis contra a Ucrânia pelo menos uma vez por mês, uma tentativa de sobrecarregar os sistemas de defesa aérea do país. O bombardeio que começou nesta segunda-feira, porém, ocorre três semanas após a incursão militar ucraniana na região de Kursk. O presidente Vladimir Putin havia prometido uma resposta decisiva ao que foi a primeira invasão da Rússia desde a Segunda Guerra Mundial. Nesta segunda, o porta-voz do líder russo, Dmitri Peskov, reafirmou que Moscou daria a Kiev uma “resposta apropriada”.

A Ucrânia também continua sua ofensiva em Kursk nesta terça-feira. Segundo o general Oleksandr Syrskyi, principal comandante militar de Kiev, as tropas ucranianas controlam 1.294 km² de território russo e 100 vilas. Cerca de 594 militares russos foram feitos prisioneiros. Na semana passada, Zelensky disse que a Ucrânia controlava mais de 1.250 km² de território russo. Syrskyi afirmou que um dos objetivos da incursão era deslocar um número significativo de tropas da Rússia para outras áreas, e que isso foi alcançado com sucesso.

Em termos numéricos, ainda que as forças de Kiev ocupem uma área relativamente pequena, o impacto prático e moral é considerável: segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, o comando militar russo deslocou tropas de regiões na Ucrânia onde não há grandes ações para ajudar a repelir a invasão ucraniana, mas ainda não foram vistas movimentações em áreas como Donetsk, hoje foco da Rússia.

Ajuda militar e infraestrutura energética

A Ucrânia depende de interceptores de legado soviético, dos quais tinha em grande número antes da invasão russa em 2022, e de uma variedade de defesas aéreas fornecidas pelo Ocidente. Estas incluem mísseis Patriot de longo alcance; NASAMS de médio alcance; e Stingers de curto alcance, projetados para impedir que mísseis atinjam alvos. O relativo sucesso da Ucrânia em derrubar o fogo inimigo é em grande parte um testemunho dos bilhões de dólares em ajuda militar que o país recebeu este ano de seus aliados na Otan e, em particular, dos Estados Unidos.

Após o bombardeio de segunda contra a Ucrânia, com mais de 200 mísseis e drones, o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, disse que “a infraestrutura energética mais uma vez se tornou alvo” e pediu aos aliados de Kiev que forneçam armas de longo alcance e permissão para usá-las dentro da Rússia. Embora os aliados ocidentais da Ucrânia tenham fornecido grandes quantidades de equipamento militar ao país, eles proibiram o uso das armas para atacar locais de lançamento de mísseis e drones no território russo, o que significa que Kiev depende principalmente de suas defesas aéreas para conter os ataques de Moscou.

Nesta segunda-feira, o ministro da Energia da Ucrânia, Herman Halushchenko, afirmou que “o setor de energia está na mira” e que a extensão dos danos estava sendo investigada. A Rússia, por sua vez, disse que atacou armas e munições ocidentais em dois campos de aviação ucranianos, além de estações de compressão de gás e subestações de energia elétrica – estas últimas, segundo Moscou, estariam fornecendo energia para o complexo industrial militar da Ucrânia.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou o ataque russo desta segunda-feira à infraestrutura energética como “ultrajante” e disse que havia “priorizado novamente as exportações de defesa aérea dos EUA para que sejam enviadas primeiro à Ucrânia”. Ele também afirmou que o país estava “enviando equipamentos de energia para a Ucrânia para reparar seus sistemas e fortalecer a resiliência da rede elétrica local.”

Analistas têm argumentado há meses que os recursos militares ucranianos já estão escassos, levantando dúvidas sobre se o país pode continuar atacando dentro da Rússia enquanto mantém suas defesas no leste. O Ministério da Defesa da Rússia disse que os ataques usaram “armas de precisão de longo alcance e drones de ataque contra instalações críticas de infraestrutura energética que apoiam a operação do complexo militar-industrial da Ucrânia. Todos os alvos designados foram atingidos.” (Com AFP e New York Times)


Fonte: O GLOBO