Coroa da imagem de Nossa Senhora da Conceição de Parati-Mirim datada de 1701 - 1800, desaparecida desde 1981 — Foto: Reprodução / CBMD
Porto Velho, Rondônia - Desde o século passado, peças históricas com valores inestimáveis somem de museus no Brasil. De acordo com o Cadastro Nacional de Bens Musealizados Desaparecidos (CBMD), itens como manuscritos, gravuras, objetos raros e artes sacras, como uma coroa do século XVIII, permanecem desaparecidos há décadas no país.
Até o início deste mês, por exemplo, 1.748 objetos constavam no Banco de Bens Procurados (BCP) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Procurado pelo GLOBO, o órgão afirmou que as peças desaparecidas costumam reaparecer no mercado anos depois, sendo identificadas por meio de fiscalização e denúncias.
"Por vezes, as peças desaparecidas são percebidas somente em momentos de inventariação ou movimentações para reformas. Até décadas depois do desaparecimento, os bens ainda retornam ao acervo brasileiro sem informações exatas sobre sua origem", informou o instituto, por meio de nota.
Em julho deste ano, a Justiça Federal no Rio de Janeiro determinou, em ação do Ministério Público Federal (MPF), que o Iphan, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e a União criem, em 180 dias, um protocolo de comunicação e atuação junto a instituições públicas e privadas para reprimir o furto e o tráfico de bens do patrimônio histórico e cultural brasileiro.
A ação, segundo o MPF, foi ajuizada após investigação que constatou a negligência dos órgãos de fiscalização na prevenção de danos, na condução de políticas públicas de documentação e guarda segura de acervos. De acordo com as investigações, pelo menos 2.200 bens já foram subtraídos do território nacional. Entre eles, itens furtados, roubados, saqueados, revendidos, exportados e até exibidos em museus e galerias estrangeiras.
Interpol investiga furto de cachimbo indígena
Desde o dia 25 de julho deste ano, um mistério ainda paira em torno da exposição “BioOCAnomia Amazônica”, do museu interativo SESI Lab, em Brasília. A Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) foi acionada depois que um cachimbo indígena histórico, que estava exposto dentro de uma vitrine de vidro, desapareceu do centro cultural monitorado por câmeras. Trata-se de uma fornalha de cachimbo da etnia Tapajó, de valor inestimável, que integrava o acervo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF) desde janeiro de 1999.
Até então, a peça nunca havia sido emprestada a nenhuma instituição. Por isso, para a fornalha de cachimbo ser cedida à exposição, o SESI Lab foi submetido a um processo de segurança padrão, como pagamento de seguro e exigência de câmera e segurança no local. No entanto, o item acabou sendo furtado de uma sala no primeiro andar do museu.
Naquele dia 25, quando aconteceu o furto da peça, o SESI Lab alegou que “o museu estava recebendo um alto volume de público, por conta da gratuidade e período de férias escolares”.
O artefato, que tem cerca de 5 centímetros, foi localizado pelo antropólogo Eduardo Galvão há décadas e, antes da exposição, estava no Memorial dos Povos Indígenas, também em Brasília. Não é possível, no entanto, estimar a idade e nem o preço do item.
Assim que foi dada a falta do objeto, tanto a Subsecretaria de Patrimônio Cultural, quanto o SESI Lab informaram o caso à Polícia Civil do DF. Em seguida, como de praxe em casos de furto de itens do patrimônio cultural, a Interpol foi acionada. Esta medida visa o acionamento das autoridades aeroportuárias para evitar que a peça saia do país e seja ofertada em leilões ou exposta em outro museu.
Em nota, o SESI Lab informou que “registrou boletim de ocorrência, compartilhou todas as informações disponíveis com as autoridades e aguarda a conclusão das investigações”.
Outros casos de tesouros desaparecidos
Em 2008, a Polícia Federal do Brasil e a Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard) recuperou uma obra rara furtada da biblioteca do poeta e romancista Mário de Andrade, na capital paulista. Gravuras brasileiras do livro "Souvenirs de Rio de Janeiro", pintadas à mão por Johann Jacob Steinmann entre 1834 e 1835, foram compradas legalmente por um colecionador brasileiro em uma casa de leilões em Londres. A obra, depois de recuperada, foi submetida à perícia e devolvida à cidade de São Paulo, para que possa ficar novamente à disposição dos brasileiros.
No dia 3 de julho de 2016, um conjunto de bens culturais foi roubado do Museu de Arte Sacra de Santos (MASS), em São Paulo, durante uma invasão armada. O conjunto, que inclui 20 itens expositivos e 422 livros, tem obras raras do catolicismo, como missais romanos do século XIX, de expressivo valor artístico, histórico e documental.
Já em maio de 2022, inúmeros objetos históricos, como armas pertencentes ao marechal Deodoro, punhais ligados ao marechal Floriano Peixoto e armas com ignição à pólvora e chumbo do período da Guerra do Paraguai sumiram do Museu do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
De acordo com o Iphan, o furto dos objetos "foi reportado e registrado no BCP, que reúne e divulga informações sobre bens tombados em todas as esferas (federal, estadual, distrital e municipal), buscando agregar o máximo de dados sobre o patrimônio cultural e aumentar a visibilidade dos casos".
Fonte: O GLOBO
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