Presidente do PL tenta evitar apoios internos a candidatos de outras siglas, mas restrições provocaram incômodo na bancada

Porto Velho, Rondônia - O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, se vê obrigado a recalcular a ‘lei do silêncio’ imposta aos bolsonaristas que pretendem apoiar candidatos de outros partidos nas eleições municipais deste ano. Em circular que rodou entre os políticos da sigla no início do mês, o dirigente avisou que a legenda monitora manifestações de seus quadros nas redes sociais e ressaltou que "traições" não serão toleradas.

Quem fizer campanha para membros de outros partidos, em localidades nas quais o PL tenha candidato, ficará sujeito a processo ético-disciplinar. Uma estratégia já traçada por bolsonaristas, porém, o faz reavaliar a medida: como o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro é o único imune à restrição, os integrantes do PL pretendem aparecer ao lado dele em vídeos nos quais o ex-presidente pede votos para os seus candidatos preferidos.

Apesar de permanecerem em silêncio, sem violar a normativa, os bolsonaristas compartilhariam os vídeos em suas redes, em uma sinalização de apoio ao nome citado, mas com a prerrogativa de estarem simplesmente divulgando um discurso do principal quadro do partido. Por trás da restrição imposta por Valdemar, está uma disputa entre ele e Bolsonaro pela escolha de nomes para representar o bolsonarismo em várias cidades consideradas estratégicas para o PL, sobretudo em São Paulo.

Em municípios como Guarulhos, Ilhabela e São Sebastião, Bolsonaro quer que nomes de outros partidos representem o seu campo ideológico, enquanto Valdemar insiste em "soluções caseiras". As divergências, seguidas da lei do silêncio, se tornaram o novo foco de tensão entre os dois caciques da legenda.

Candidato de Bolsonaro em São Sebastião, no litoral norte do estado, Wagner Teixeira (União) diz contar com o apoio de vereadores e deputados do PL, que já sinalizaram que se valerão da tática de aparecer em vídeos de Bolsonaro para furar a ordem de Valdemar. No município, o presidente do partido defende o nome de Reinaldinho Moreira, atual vice-prefeito.

— Todos os vereadores que consultei dizem não ter problemas em compartilhar conteúdos do Bolsonaro e conto com o apoio dele. O ex-presidente apoia quem bem entender, e a vontade dos seus aliados prevalecerá, tenho certeza. Valdemar tenta, atualmente, podar a direita com uma decisão deste tipo. Todos estudam como apoiar os candidatos da sua preferência sem ser prejudicados internamente — diz.

Bancada reage

Entre os parlamentares bolsonaristas também há o sentimento de que a determinação não terá efeito. O deputado Ricardo Salles (SP), que chegou a postar que faria campanha para "quem quisesse" reforça que não pretende seguir a normativa.

— Na semana que vem, Bolsonaro vai fazer campanha para o Jorge Xerife do Consumidor, em Guarulhos, que é do Republicanos e deve pedir votos para ele, por exemplo, ninguém vai poder barrar. Mas, eu farei campanha para quem desejar, independentemente de Valdemar permitir ou não. Isto não existe — garante o parlamentar.

O possível "drible" na norma do partido preocupa o presidente nacional do PL, já que isto pode impulsionar ainda mais as candidaturas dissidentes, pelo fato de haver uma corrida por vídeos de Bolsonaro acompanhado de parlamentares e os escolhidos de fora do partido. Além disso, a manobra expõe a divergência entre eles, sempre negada por Valdemar.

O principal dirigente do PL, agora, estuda com o departamento jurídico do partido o que fazer em relação a esta espécie de "campanha velada" que contaria com a anuência do ex-presidente. Valdemar afirmou que o partido mantém a determinação para todos os quadros com mandato, inclusive os filhos de Bolsonaro.

— Obviamente, o Bolsonaro não se enquadra nessa restrição, ele faz o que quiser e é o único que não será monitorado. Todos os outros, incluindo os filhos que têm mandato, estão sujeitos à norma interna do partido — afirmou o dirigente.

Planos para a eleição

Internamente, porém, comenta-se que ele tentará evitar o agravamento de uma crise interna e pode afrouxar as restrições. O PL tem planos de eleger ao menos mil prefeitos nas eleições deste ano. Nestes planos, o apoio de Bolsonaro, que tem se engajado nas campanhas locais e viajado pelo Brasil, é considerado fundamental. Em eventos aos quais comparece acompanhado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, ele pede votos para seus correligionários.

O cabo de guerra entre eles, entretanto, acendeu o alerta para a possibilidade de Bolsonaro deixar de pedir votos para alguns dos escolhidos por Valdemar e isto, eventualmente, impactar no projeto partidário.

De acordo com integrantes do PL, Valdemar tinha um outro objetivo com a medida: aumentar o número de vices do PL em chapas espalhadas pelo Brasil. Ele acredita que, para terem o apoio dos bolsonaristas, muitos cabeças de chapa optarão por dar ao PL o poder de escolha sobre seus vices.


Fonte: O GLOBO