Magda Chambriard promete acelerar exploração de petróleo e defende atuação na Foz do Amazonas
A nova presidente da estatal disse que seguirá “lógica empresarial” à frente da petroleira e prometeu acelerar a exploração de petróleo, citando inclusive a Margem Equatorial, projeto que já colocou em lados opostos o Ministério de Minas e Energia e o Ministério do Meio Ambiente.
— Gerir a empresa para dar lucro é muito fácil. E vamos fazer isso. Nosso esforço será pela tempestividade e agilidade. Vamos respeitar a lógica empresarial. Dando lucro, sendo tempestiva e atendendo aos interesses tanto dos acionistas públicos e privados. A palavra-chave é conversa. E colocar a empresa à disposição dos acionistas dentro da lógica empresarial — afirmou.
Indagada sobre quem terá a palavra final na estatal, ela disse que a Petrobras é uma empresa de economia mista:
— Ela roda com diretoria colegiada e está submetida ao Conselho de Administração. A lógica empresarial é essa.
Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou em entrevista ao GLOBO que o comando da Petrobras deve se preocupar pouco em “falar para fora” e deve ser alinhado ao acionista controlador, e acrescentou que a palavra final cabe ao presidente da República.
Política de preços
O governo trocou o comando da Petrobras com cobranças para que a companhia acelere investimentos. Magda deixou claro que pretende cumprir a exigência. Além da exploração de petróleo, citou investimentos no setor naval e não descartou a recompra de refinarias.
Indicou ainda que manterá a política de preços definida por seu sucessor, Jean Paul Prates, que trocou o preço de paridade de importação por uma nova fórmula, à qual se referia como política abrasileirada de preços:
— Indesejável é trazer para a sociedade instabilidade de preços. O presidente Lula prometeu abrasileirar os preços, e isso foi feito. É uma lógica empresarial. Isso não é uma invenção. Essa simples mudança representou, de janeiro de 2023 até hoje, redução no diesel de quase 25%. Isso foi feito e vamos continuar fazendo.
Ainda assim, afirmou que pode fazer mudanças na diretoria. Segundo ela, alterações não buscam desabonar ninguém, são “ajustes de perfil”.
Ao comentar outro ponto que causou polêmica na gestão anterior da companhia, ela defendeu a distribuição de dividendos (parcela dos ganhos compartilhada com acionistas). Ela afirmou que ainda vai entender as prioridades da empresa e as demandas dos componentes da sociedade para dar uma posição sobre a distribuição dos 50% remanescentes de dividendos extraordinários da estatal.
— Se tem lucro, tem dividendos — disse Magda. — Se existe uma coisa que tenho certeza é que a empresa vai dar muito lucro.
Pedido do presidente
A executiva disse ter a missão de retribuir “com muito zelo” a confiança do governo em sua indicação e citou o pedido que ouviu de Lula.
— A demanda que tive do presidente Lula foi: ‘ tenho um carinho pela Petrobras. Esse é o tamanho do desafio que estou te dando. Gostaria que você gerisse essa empresa com respeito à sociedade brasileira’ — disse. — Não posso ter mensagem mais clara que essa.
Magda também fez referência à queda das ações após a demissão de Prates:
— Quando fui indicada, as ações caíram. Pensei: ‘é hora de comprar’. Vocês conhecem minha história e conhecem a história da empresa. Somos top 10 em tudo. Qual dúvida se tem sobre essa empresa, de que vai dar lucro?
A nova presidente da Petrobras defendeu que a empresa acelere a exploração de petróleo para ampliar reservas, indicando que o declínio da produção a partir de 2030 pode deixar o país mais perto de perder a autossuficiência. E, nesse contexto, defendeu a exploração na Margem Equatorial:
— O foco é zelar para que os ativos de petróleo da Petrobras persistam crescendo. A sobrevivência da Petrobras tem um componente que é a produção tempestiva, com zelo, máximo aproveitamento e reposição de reservas. E é essencial continuar explorando petróleo na costa brasileira. A Margem Equatorial e a costa do Amapá estão nesse contexto.
Segundo ela, a exploração de petróleo no pré-sal representa 26% da balança comercial do Brasil. Mas, disse, que o pico de produção dessas reservas chegará por volta de 2030. Segundo Magda, avançar em novas fronteiras e incentivar a cadeia nacional estão no escopo da empresa para garantir atuação perene. Ela afirmou que também pretende investir em fontes renováveis.
— Precisamos ter autorização para explorar. Vamos ter que conversar com o Ministério do Meio Ambiente e mostrar o que a Petrobras está ofertando em cuidado com o meio ambiente, muito mais do que a lei demanda. O Ministério de Minas e Energia está louco para perfurar — disse. — O Ministério do Meio Ambiente precisa ser mais esclarecido sobre a necessidade de a Petrobras e o país explorarem petróleo e gás até para liderar a transição energética.
De acordo com a executiva, se o Ministério do Meio Ambiente e o de Minas e Energia têm posições divergentes, “o árbitro tem de ser o presidente da República”. E lembrou que o fórum adequado para o debate é o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), composto por diversas pastas.
Encomenda de navios
Indagada a respeito da retomada de encomendas de navios e plataformas a estaleiros brasileiros — demanda do governo —, Magda disse que há muita capacidade de produção desenvolvida no país:
— Minha obrigação é reforçar as cadeias nacionais.
Mas lembrou que a empresa tem a obrigação de estabelecer igualdade de condições entre fornecedores nacionais e estrangeiros, o que ajuda a reforçar a cadeia de fornecedores.
A executiva não descartou a recompra pela Petrobras da Refinaria Mataripe, na Bahia, vendida pela estatal no governo de Jair Bolsonaro, desde que seja financeiramente favorável para a empresa.
— Por que não? A pergunta é: é um bom negócio? E nosso técnicos vão ter de responder — disse. — Refino foi feito para agregar valor.
Sobre a negociação com a Unigel para a produção de fertilizantes no país, ela disse que o acordo está sendo estudado. Lembrou que o Tribunal de Contas da União tem dúvidas sobre a lucratividade e disse que a Petrobras vai dialogar com a instituição.
— Faremos isso se for bom para nós. Ninguém vai rasgar dinheiro — afirmou.
Em relação à perspectivas de internacionalização, ela afirmou que isso é uma “possibilidade”, mas a prioridade é a atuação no Brasil.
Fonte: O GLOBO
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