Trecho de live transmitida em janeiro repercutiu nas redes sociais; na ocasião, Marçal diz ter Senna apenas como 'símbolo de velocidade'

Porto Velho, RO -
Mais uma vez, o coach e influenciador Pablo Marçal teve um de seus vídeos repercutido nas redes sociais — dessa vez, uma live na qual o empresário se compara a Ayrton Senna. Na declaração, Marçal diz se inspirar no ao piloto de Fórmula 1 quando o assunto é o poder de “velocidade”, mas afirma que, diferente dele, Senna não “não era bilionário” e “não escreveu 45 livros”.

O coach falou sobre o piloto, morto em um acidente há quase 30 anos, durante uma live transmitida em janeiro. Na ocasião, ele respondia a perguntas de seguidores, falava sobre a importância da figura de Ayrton Senna como um de seus “modelos” e chegou a exibir, ao fundo da sala, um carro que serviria de inspiração.

“Aquele carro do Ayrton Senna tem um na minha garagem de casa, tem um na garagem da minha sala e aqui na minha casa dos Estados Unidos… Motorzão Honda que o homem foi campeão. Esse cara significa muito para mim (...), você vai ver sempre esses símbolos do Senna (...), honro demais a figura desse cara”, diz Pablo Marçal.

Em seguida, no entanto, é questionado por um seguidor, que o acusa de estar “adorando ao Senna” e diz que “Jesus está com ciúmes”.

“Senna teve uma experiência com Deus (...) e ele e o carro viraram um. Eu quero pegar isso. Aquilo ali é um símbolo de velocidade”, diz o coach. E prossegue: “O Senna não tinha banco, não, moço. O Senna não tinha avião próprio, não. O Senna não pilotava helicóptero igual eu, não. Vamos tratar o Senna agora e pôr ele no lugar dele? Que Deus o tenha, mas deixa eu te falar uma coisa? O Senna não era bilionário, o Senna não escreveu 45 livros. Você acha que eu tô me modelando no Senna para escrever os livros que eu escrevo? O Senna nem teve filho, eu tenho quatro. Você quer que eu continue?”

O trecho do vídeo, no qual o influenciador compara seus feitos aos do piloto, já teve mais de 2 milhões de visualizações na rede X (antigo Twitter). Em um dos comentários, um usuário diz que sente “vergonha alheia” pela fala de Pablo Marçal. “Nunca vai ter 10% da importância que o Ayrton Senna teve para o país”, escreveu outro.

Com a repercussão, o trecho do vídeo chegou a ser rebatido e, em alguns pontos, desmentido pelo automobilista Rodolpho Santos. Em uma publicação, Santos conta que, ao contrário do que Pablo Marçal afirma na live, Senna tinha, sim, habilitação para pilotar aviões e helicópteros.

“Filho de piloto de avião, Ayrton Senna tinha habilitação para helicópteros e aviões desde 1993. Ao todo, chegou a acumular 101 horas de voo comandando helicópteros (...) Também adquiriu, em 1990, um jato executivo”, diz Santos.

Quem é Pablo Marçal?

Pablo Henrique Costa Marçal é um empresário, político, coach e influenciador digital brasileiro que já foi investigado pela Polícia Federal por suspeita de crimes eleitorais e lavagem de dinheiro. Ele tem mais de 7 milhões de seguidores somente no Instagram.

Mesmo com muitos seguidores, Marçal ganhou notoriedade em 2022, ao se lançar candidato à presidência da República pelo PROS (Partido Republicano da Ordem Social). Na ocasião, ele declarou ter um patrimônio de quase R$ 88 milhões à Justiça Eleitoral.

Quando se filiou à sigla, Marçal sinalizava a intenção de disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, mas o partido oficializou o seu nome ao Palácio do Planalto em maio, durante um evento na Arena Barueri, em São Paulo. A candidatura, porém, foi retirada pelo partido em agosto, contra a vontade do coach, que, depois de tentativas de derrubar a decisão da sigla, decidiu apoiar o então candidato Jair Bolsonaro.

Sem a candidatura para presidência, o coach tentou uma vaga na Câmara dos Deputados. Com os votos que obteve, ele chegou a ter uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) que o considerava deputado federal eleito, mas o TSE acabou suspendendo o ato. Com isso, o petista Paulo Teixeira recuperou a vaga que havia perdido com a retotalização dos votos.

Na última semana, Marçal teve seu nome novamente citado em um caso de repercussão após um técnico de audiovisual morrer depois de sofrer uma descarga elétrica e cair de uma altura de quase três metros em um dos estúdios do coach. O caso ocorreu poucos dias após Bruno da Silva Teixeira, de 26 anos, morrer depois de sofrer uma parada cardíaca durante uma maratona de rua realizada pelo grupo empresarial comandado por Marçal, no Alphaville, em São Paulo.

O coach ainda não se manifestou sobre a morte de Celso Guimarães Silva, que não resistiu aos ferimentos de um acidente quando estava montando uma estrutura para uma “live”. Sobre o caso da morte de Bruno, Marçal usou as redes sociais para rebater críticas em meio à investigação do caso.

'Coach da montanha' condenado por fala sobre 'kit gay'

Pouco tempo depois, Pablo Marçal foi condenado a remover publicações em suas redes sociais associando o PT à distribuição de um suposto "kit gay" nas escolas. Na ocasião, a ministra Maria Claudia Bucchianeri, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também determinou uma multa diária de R$ 10 mil em caso de novas postagens com conteúdo similar.

Pablo Marçal acabou novamente se afastando da política após as eleições de 2022, voltando a se dedicar ao coaching, atividade pela qual já havia ficado conhecido após um episódio em janeiro, quando levou 60 pessoas para subir o Pico dos Marins, em Piquete, no interior de São Paulo, sob péssimas condições climáticas.

A aventura — parte de um curso de autoajuda que ele ministrava, com o título “O pior ano de sua vida” — lhe rendeu o apelido de "coach da montanha" na ocasião. O grupo, no entanto, se perdeu no local, a 2.400 metros de altitude, conhecido por seu histórico de acidentes fatais, e precisou ser resgatado pela Polícia Civil. Com a repercussão do caso da montanha, Marçal virou meme e foi chamado de “coach messiânico”, rótulo que ele rejeita.

A Polícia Civil investigou o episódio, mas o inquérito acabou sem indiciamento. O Ministério Público de São Paulo, entretanto, continua a investigar as circunstâncias em que os seguidores ficaram presos no alto da montanha.


Fonte: O GLOBO