Outras duas brasileiras presas afirmam que elas e a vítima agiram como 'mulas' e levaram drogas até a França

Porto Velho, RO - A brasileira que encontrada morta com um corte no pescoço, num hotel de Paris, foi identificada como Maria Rita Bispo dos Santos, de 43 anos. O corpo dela está no Instituto Médico-Legal da capital francesa há quase um mês, enquanto a polícia local conduz a investigação do assassinato. O principal suspeito do crime segue foragido.

Anderson Bispo, irmão da brasileira, abriu uma vaquinha para custear o translado do corpo de volta para a Bahia. Ele teme que a parente seja sepultada como indigente.

"Caso não consigamos o valor, a mesma será enterrada na França como indigente e não poderemos nunca mais resgatar o corpo para trazer pro Brasil. Estamos sofrendo um luto eterno por sabermos que não poderemos arcar com as custas desse translado", ressaltou Anderson, na página online da arrecadação que, até a manhã desta quinta-feira, somava R$ 4.895,85 de uma meta de R$ 30 mil.

Maria Rita era formada em Física e chegou a dar aulas em domicílio para filhos de médicos, juízes e políticos em Ilhéus, na Bahia, reportou o Uol.

Outras duas brasileiras foram detidas após a descoberta do corpo de Maria Rita. As mulheres, cujos nomes não foram divulgados, foram acusadas pelo crime de tráfico de drogas depois de terem afirmado aos investigadores que elas e a compatriota falecida agiram como "mulas" e levaram drogas até a França. A família de Maria Rita contesta essa versão e questiona o envolvimento dela com drogas.

O principal suspeito do caso do assassinato, um homem ligado à mesma rede de tráfico de drogas, continua foragido, disseram as fontes à AFP. O homem teria se hospedado no hotel com a vítima.

Maria Rita foi encontrada com um “ferimento profundo na artéria carótida”, no pescoço, em 13 de janeiro, depois de ficar no hotel no noroeste de Paris por cerca de uma semana, detalhou uma fonte policial. A vítima chegou ao hotel acompanhada por um homem, que inicialmente ficou no quarto ao lado, disse uma fonte policial à AFP.

A faxineira do estabelecimento encontrou o corpo, de bruços, na cama do quarto, naquele sábado (13), horas depois de o homem deixar o hotel. A brasileira tinha “feridas de defesa” em um dos braços, o que indica uma luta corporal com o homicida. Havia sangue na camiseta da vítima e nos lençóis, bem como nas toalhas do banheiro. No entanto, nenhum “objeto pontiagudo” foi encontrado no local do crime, disseram as autoridades.

As outras duas mulheres brasileiras, de 27 e 37 anos, estavam hospedadas no mesmo hotel. Elas deixaram o local no dia do crime e foram presas no dia seguinte, enquanto tentavam voar para fora do país, disseram duas fontes próximas ao caso.

Investigação revela rede de tráfico

As mulheres presas disseram a um juiz que era a primeira vez que agiam como "mulas" do tráfico.

— Tenho três filhos e uma mãe que tem câncer. A chuva destruiu a minha casa em dezembro, e tenho dívidas — alegou a mulher de 27 anos.

A mulher de 37 anos, por sua vez, pediu desculpas pelo ato, dizendo que devia dinheiro a alguém que a havia "ameaçado".

Advogada da suspeita de 27 anos, Maria Snitsar argumentou ao juiz, na ocasião, que a cliente não "merecia dormir na prisão" naquela noite, já que tinha uma ficha criminal limpa, até então. Já o advogado Simon Olivennes, que representa a outra acusada, defendeu que o caso de homicídio fosse separado da acusação de tráfico "a fim de evitar uma colossal perda de tempo para a instituição judicial".

No entanto, segundo o promotor responsável, o caso tem “um duplo objetivo”: “encontrar o autor do crime [homicídio] e todos os coautores do tráfico de drogas”.

— Há outras pessoas identificadas para serem presas — disse ele.

A investigação sobre o assassinato da brasileira num hotel de Paris revelou uma rede de tráfico de drogas entre o Brasil e a França, informaram fontes judiciais à AFP.

Um promotor argumentou que as brasileiras deveriam ficar detidas devido ao risco de represálias de “pessoas muito perigosas” da rede de drogas. Um juiz ordenou que elas permanecessem sob custódia “enquanto prosseguem as investigações”. Os investigadores afirmaram que ambas as mulheres estão expostas a “um risco bastante significativo de retaliação” no Brasil.


Fonte: O GLOBO