Aumento da fiscalização leva traficantes a explorar caminhos alternativos para envio de drogas, enquanto PF concentra esforços na descapitalização das organizações criminosas (Foto reprodução) |
Porto Velho, RO - O combate ao narcotráfico em diversas regiões do Brasil está levando a Polícia Federal a mapear novas rotas usadas para o envio de drogas para a Europa. Além das rotas dentro do próprio país, as autoridades também identificaram trajetos que passam por países da América do Sul, incluindo o Equador, onde a atividade criminosa relacionada ao tráfico tem desencadeado uma onda de violência sem precedentes.
Historicamente, o tráfico de entorpecentes no Brasil estava associado a duas principais rotas: a rota "Caipira," que envolvia drogas do Paraguai e Bolívia e seguia por Paraná e Mato Grosso do Sul até os portos do sudeste, e a rota na região norte, que ligava os países produtores, como Peru e Colômbia, aos portos do nordeste, passando pelos rios da região amazônica.
Essas rotas eram historicamente dominadas pelas duas maiores facções do Brasil, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho. No entanto, as facções e grupos locais muitas vezes entravam em conflito pelo controle desses caminhos, resultando em violência.
Em 2023, as investigações da Polícia Federal apontaram para o estabelecimento de novas rotas, muitas delas mais longas, mas usadas para evitar áreas onde a fiscalização aumentou, como os portos do sudeste do Brasil. O Coordenador-Geral de Repressão a Drogas, Armas e Facções Criminosas da PF, o delegado Júlio Danilo Souza Ferreira, mencionou essas novas rotas identificadas em operações recentes.
Duas delas envolvem países vizinhos, contornando o Brasil. Uma delas usa o Equador como ponto de trânsito para enviar drogas produzidas na região, e essa rota tem sido associada a um surto de violência sem precedentes no país nos últimos meses.
A outra rota se utiliza dos rios Paraná e Paraguai para enviar drogas por portos da Argentina e Uruguai em direção aos países europeus.
Segundo Júlio Danilo, a criação de novas rotas fora do Brasil, embora mais longas, pode estar relacionada ao aumento da repressão às facções e ao foco na descapitalização dessas organizações criminosas no país.
"Eles estão buscando novas rotas porque estamos intensificando as ações aqui", afirmou o delegado.
Além disso, as mudanças nas rotas usadas pelos criminosos dentro do Brasil também estão ligadas ao aumento da fiscalização em alguns portos, como o de Santos, onde agora 100% dos contêineres são escaneados. Como resultado, portos no nordeste e no sul do Brasil começaram a surgir como saídas para drogas com destino à Europa.
Operações recentes, como a "Hinterland," revelaram o uso de empresas de logística marítima sediadas nos portos de Rio Grande (RS) e Itajaí (SC) para enviar drogas à Europa. Essa operação resultou no sequestro de 159 bens avaliados em mais de R$ 500 milhões.
Outra operação, chamada "Match Point," mostrou o uso do porto de Florianópolis (SC) como rota para drogas provenientes de países vizinhos. Nesse caso, a PF conseguiu autorização para sequestrar cerca de R$ 150 milhões em bens dos investigados.
A PF tem intensificado seus esforços para investigar e combater o tráfico de drogas, fortalecendo grupos de investigações e forças-tarefa em conjunto com as polícias estaduais, além de buscar a descapitalização das organizações criminosas e suas lideranças.
Em 2023, a PF apreendeu pelo menos R$ 2 bilhões de grupos criminosos, em comparação com R$ 602 milhões em 2022. O enfoque nas lideranças e na descapitalização das organizações criminosas continua sendo uma prioridade para as autoridades na luta contra o tráfico de drogas.
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