Vencedora — que em sua mais recente condenação, em janeiro de 2022, teve como pena oito anos de prisão e 70 chibatadas —

A ONU pediu nesta sexta-feira que o Irã libere a defensora dos direitos humanos Narges Mohammadi, condenada por sua luta pelos direitos humanos em janeiro de 2022 a oito anos e 70 chibatadas. A entidade se pronunciou após a ativista ser anuncada como vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2023.

"O caso de Narges Mohammadi é emblemático sobre os enromes riscos que assumem as mulheres para defender os direitos humanos de todos os iranianos. Pedimos sua liberação e a de todos os defensores dos direitos humanos presos no Irã", informou em nota à AFP o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

Mohammadi venceo o Nobel "pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos", disse a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen, em Oslo. Com a escolha de Narges Mohammadi, o Prêmio Nobel deste ano também "reconhece as centenas de milhares de pessoas que se manifestaram contra as políticas de discriminação e opressão do regime teocrático contra as mulheres", de acordo com o instituto. Em nota, a família da ativista destacou que o prêmio marca "um momento histórico para a luta do Irã pela liberdade".

Mohammadi se engajou na defesa da igualdade e dos direitos das mulheres quando ainda era uma jovem estudante de Física. Nascida em 1972 em Zanjan, no noroeste do Irã, ela estudou a disciplina antes de se tornar engenheira, ao mesmo tempo em que começou a atuar no jornalismo, trabalhando para veículos progressistas.

Na década de 2000, Mohammadi se juntou ao Centro para os Defensores dos Direitos Humanos, do qual hoje é vice-presidente. A organização foi fundada pela iraniana Shirin Ebadi, que também recebeu o Nobel da Paz, há exatos 20 anos.

— Narges poderia ter saído do país, mas sempre se negou, tornou-se a voz dos sem voz. Mesmo na prisão, não esquece seu dever e relata a situação dos presos — afirmou Reza Moini, ativista iraniana radicada em Paris e próxima de Mohammadi.

Em seu livro "White Torture" ["Tortura Branca", em tradução literal], a ganhadora do Nobel da Paz de 2023 denuncia as condições de vida dos prisioneiros no Irã, especialmente o isolamento e abusos que ela mesma diz ter sofrido.

Entre maio de 2015 e outubro de 2020, esteve presa por acusações de ter "formado e liderado um grupo ilegal", que defendia a abolição da pena de morte no país. Foi novamente condenada, em maio de 2021, a 80 chicotadas e 30 meses de detenção por "propaganda contra o sistema" e "rebelião" contra a autoridade prisional.

Em novembro de 2021, foi detida mais uma vez perto de Teerã, ao assistir a uma cerimônia em memória de um homem morto em uma manifestação de 2019 contra o aumento dos preços dos combustíveis. Em janeiro de 2022, foi condenada a mais oito anos de prisão e a 70 chicotadas.


Fonte: O GLOBO