Veja quais cuidados as pessoas devem ter para renegociar dívidas com taxas mais altas por aquelas mais baixas

Porto Velho, RO - Com o aumento da taxa básica de juros, a Selic, a 10,75% ao ano, o crédito e as dívidas podem ficar mais caros, agravando a situação do endividamento no país. Segundo pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o nível de endividamento médio das famílias brasileiras em 2021 foi o maior em 11 anos, com 70,9%.

Uma das explicações é que a alta da inflação do último ano diminuiu o poder aquisitivo das famílias e fez com que o Banco Central elevasse os juros para conter a escalada dos preços, aumentando assim o custo do crédito.

Segundo dados do BC, o endividamento total sobre a RNDBF (Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias) passou de 50,4%, em setembro, para 51,2%, em outubro, o maior patamar da série histórica da autoridade monetária, iniciada em janeiro de 2005.

Para a economista Leila Pellegrino, professora de economia e coordenadora do curso de administração da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, esse é o principal impacto da elevação da Selic no dia a dia do consumidor.

O impacto direto mais imediato no bolso do brasileiro vai ser justamente porque, como a Selic é uma taxa de referência das demais taxas de juros, os créditos vão ficar mais caros, os endividamentos vão ficar mais caros. Com a elevação da taxa de juros, diminui a liquidez da economia e acaba impactando negativamente as expectativas de crescimento da atividade econômica. Podemos esperar uma atividade econômica ainda mais tímida.

LEILA PELLEGRINO, ECONOMISTA

Por isso, é importante prestar atenção primeiro nas condições de pagamento, orienta a economista, no caso de o consumidor contratar algum tipo de financiamento. "É importante ter muita cautela nas decisões de gastos", alerta Leila.

Outro ponto que ela destaca é a atenção ao orçamento familiar para evitar cair numa armadilha de juros altos que possa eventualmente comprometer a saúde financeira da família. "Sobre investimentos, vai depender do perfil de cada pessoa, mas é importante ter uma postura mais conservadora neste momento, e buscar ter um orçamento equilibrado, guardando dinheiro, buscando opções de investimento que remunere melhor num contexto de inflação", avalia.

Educação financeira

Segundo Ana Paula Pisaneschi, CEO do Uffa, fintech de soluções financeiras, com 20 milhões de cadastros para renegociação, além da inflação, do desemprego e da alta de juros, um dos principais fatores que contribuem com a inadimplência dos brasileiros é o baixo nível de educação financeira.

Como consequência, falta planejamento nas contas familiares, ainda mais com pandemia de coronavírus, que provocou uma situação macroeconômica desfavorecida, muitas pessoas tiveram salários atrasados, perderam emprego ou ficaram sem reserva, o que vira uma bola de neve, que acaba atrasando contas e fazendo outras dívidas para conseguir quitar os boletos, aumentando assim consideravelmente a taxa de endividamento no país.

ANA PAULA PISANESCHI, CEO DO UFFA

Ela explica que, domo a inflação influencia na diminuição de renda, dado que o dinheiro passa a valer menos, as pessoas perderam poder de compra, mas a necessidade se manteve e, com isso, ficou muito mais difícil honrar os compromissos financeiros. Do total de famílias endividadas, 25% já estão em atraso, com isso, o número de inadimplentes chega a 63 milhões de pessoas no Brasil.

Veja a seguir, as orientações da CEO do Uffa, para se planejar melhor na hora de renegociar a dívida. "A renegociação de dívidas com certeza é a forma mais acertada para garantir a saúde financeira de um endividado, porque ele começa a se organizar", conclui Ana Paula.

Confira os cuidados com dívidas e renegociações

- Primeira coisa é encarar a dívida, cobrir o valor que ela tem. Isso não significa que tem que dar conta tudo de uma vez, mas tem que saber o quanto do orçamento mensal está comprometido, para conseguir se planejar para pagar as dívidas, e os compromissos futuros.

- O segundo ponto é entender o que entra e sai da renda mensal. É preciso registrar quanto a pessoa ganha, quanto gasta. Isso é fundamental para organizar a vida financeira.

- Quem trabalha em regime CLT, consegue ter visão mais palpável. Mas para grande parte da população brasileira, que é autônoma, fica ainda mais difícil. Então é muito importante entender essas provisões, o quanto espera receber, não gastar mais daquilo que habitualmente recebe.

- Muito importante também é reduzir e cortar os custos extras. A gente sabe que tem uma dívida, sabe quanto vai ganhar. Mas, se a conta não fechar, a gente precisa reduzir e separar aquilo que é essencial para a nossa sobrevivência e aquilo que dá para aguentar um pouco sem, por exemplo, uma academia, uma TV a cabo, isso a gente consegue sobreviver sem, apesar de não querer muito, mas é importante, às vezes, fazer sacrifícios para se reequilibrar.

- Outro ponto é calcular quanto a pessoa pode gastar. Depois que fizer essa conta, ela vai saber quanto deve, quanto tem, quanto conseguiu reduzir os custos e quanto que sobra. A partir daí, a gente consegue fazer simulações para negociar. Não adianta fazer um compromisso de renegociação e não saber nem quanto vai sobrar no final do mês. Não vai conseguir honrar. Então é muito importante saber quanto vai sobrar.

- E na hora de negociar e quitar essas dívidas que são prioritárias e que, às vezes, até com juros mais altos, buscar informações, como em portais que são referências, como o UFFA, que orientam o que cabe no bolso para as pessoas proverem melhores negociações, com desconto, com parcelamento e até mesmo com cashback.

- É importante ter consciência para trocar uma dívida mais cara por uma mais barata. Por exemplo, taxa de cartão de crédito em que os juros chegam a 16%. É muito mais interessante renegociar a dívida que tem taxa de juros alta por uma mais baixa. A pessoa se livra de uma dívda, trazendo um empréstimo que não é dívida. Ou seja, uma parcela em dia não é dívida.

Fonte: R7