É tenso o clima na capital federal

Porto Velho, Rondônia - As cúpulas dos poderes em Brasília passaram parte da semana a portas fechadas tentando encontrar uma solução para o 7 de Setembro. Teme-se que as incitações do presidente Bolsonaro a algumas categorias possam levar à violência ou que as falas dele nas manifestações distanciem ainda mais os Três Poderes ou, no limite, provoquem uma ruptura institucional.

Uma das imagens que se quer evitar é a repetição de 19 de abril de 2020, quando Bolsonaro participou de manifestação na porta do Quartel-General do Exército, em Brasília, entre faixas que pediam a intervenção militar e o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

A participação de Bolsonaro no ato levou a um série de pedidos para que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, incluísse o presidente como investigado no inquérito dos atos antidemocráticos. Em junho deste ano, no entanto, o ministro negou investigar o presidente a partir de parecer da vice-Procuradoria-Geral da República.

Apesar das conversas, até agora o presidente Bolsonaro mantém os planos de participar das manifestações do 7 de Setembro em Brasília pela manhã, e em São Paulo, na Avenida Paulista, no período da tarde.

O presidente tem usado os ataques ao STF para mobilizar categorias para a manifestação, como caminhoneiros e policiais. Mas os chefes dos demais poderes agiram durante a semana para tirar parte dessa munição de Bolsonaro: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), usou argumentos técnicos para não acolher o pedido de impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes e o presidente do STF, Luiz Fux, teve uma reunião com Lira, para oficialmente tratar de outros temas, mas o 7 de Setembro também foi discutido.

Do outro lado da Praça dos Três Poderes, Bolsonaro recuou de apresentar o pedido de impeachment do ministro Luís Roberto Barroso. Mas, no discurso, continua inflamado. Nesta sexta (27), ele disse a apoiadores que "todo mundo tem que comprar fuzil".

Outros atores que trabalharam durante a semana como bombeiros da crise institucional foram o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), e o ministro do STF Gilmar Mendes. A interlocutores, Lira, que é aliado do Planalto, demonstrou incômodo com a possibilidade de Bolsonaro esticar ainda mais a corda. Em entrevista, minimizou os atos, dizendo que não haverá nada, mas confirmou o esforço pelo distensionamento: "Grandes ou pequenos, isso é irrelevante. A gente tem trabalhado em Brasília para distensionar, diminuir, dirimir e exterminar com as versões".

Um curioso efeito colateral das ameaças que Bolsonaro faz em torno do 7 de Setembro foi a união, durante a semana, da cúpula do Congresso com o Judiciário. Lira e Pacheco estavam distantes e Lira, réu no STF, se aproximou de Fux.

Do ponto de vista eleitoral, as manifestações do 7 de Setembro são consideradas um divisor de águas da disputa de 2022. Se o presidente Bolsonaro conseguir demonstrar que ainda tem apoio popular, mantém viva a possibilidade de enfrentar de forma competitiva as eleições do ano que vem.

Se o apoio for pequeno, a tendência é de um presidente cada vez mais enfraquecido e isolado até o final do mandato. E é também por isso que os atores políticos da capital esperam o 7 de Setembro antes de fazer qualquer movimento. Brasília em compasso de espera.

Fonte – R7