Tarifaço dos EUA expõe dependência externa e empurra Brasil ainda mais para o mercado chinês

Novidades

6/recent/ticker-posts

Tarifaço dos EUA expõe dependência externa e empurra Brasil ainda mais para o mercado chinês

Porto de Santos, responsável por quase 30% da balança comercial brasileira, concentra parte significativa das exportações para China e Estados Unidos - Foto: Divulgação/Porto de Santos (Alô Rondônia)

Porto Velho, Rondônia - A forte queda nas exportações brasileiras para os Estados Unidos, provocada pelo tarifaço imposto pelo governo norte-americano a partir de agosto, foi parcialmente neutralizada pelo avanço expressivo das vendas para a China. Dados divulgados pelo Indicador de Comércio Exterior (Icomex), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que, entre agosto e novembro, as exportações para o mercado chinês cresceram 28,6%, enquanto as destinadas aos EUA despencaram 25,1% no mesmo período.

Em termos de volume, o movimento é ainda mais evidente: as vendas ao mercado chinês avançaram cerca de 30%, enquanto os embarques para os Estados Unidos recuaram 23,5%, revelando um reposicionamento forçado da pauta exportadora brasileira diante das barreiras comerciais impostas por Washington.

Tarifaço pressiona setores estratégicos da economia

O impacto do tarifaço americano foi particularmente severo em setores industriais e extrativistas. Segundo o levantamento, os maiores recuos nas exportações para os Estados Unidos ocorreram na extração de minerais não-metálicos (-72,9%), na fabricação de bebidas e produtos do fumo (-65,7%), além da produção florestal (-60,2%) e da indústria madeireira (-49,4%).

Os números reforçam a vulnerabilidade de cadeias produtivas brasileiras altamente dependentes do mercado norte-americano e pouco diversificadas em termos de destinos.

Soja e commodities sustentam reação chinesa

De acordo com a FGV, o crescimento das exportações para a China foi impulsionado, sobretudo, pelo embarque de soja, concentrado no segundo semestre. Para a pesquisadora Lia Valls, do Ibre/FGV, o movimento foi decisivo para evitar um impacto mais severo no desempenho global do comércio exterior brasileiro.

“Quando a exportação para os Estados Unidos começou a cair, foi exatamente o momento em que a exportação para a China passou a crescer com mais força, influenciando positivamente o resultado geral do país”, avaliou.

Mesmo com a crise comercial com os EUA, as exportações totais do Brasil acumularam alta de 4,3% até novembro, na comparação com o mesmo período de 2024.

Concentração de mercado preocupa especialistas

Embora a China tenha compensado a perda momentânea do mercado americano, especialistas alertam para o risco de excessiva concentração comercial. Atualmente, cerca de 30% das exportações brasileiras têm como destino o país asiático, tornando o Brasil cada vez mais dependente de um único parceiro.

A Argentina, terceiro principal destino das exportações brasileiras, apresentou crescimento modesto no período, com alta de 5% em valor e 7,8% em volume, desempenho considerado insuficiente para equilibrar os efeitos do tarifaço.

Tarifaço teve motivação política e efeitos ainda incertos

O tarifaço entrou em vigor em agosto de 2025, com sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros. Além do discurso de proteção da indústria americana, o então presidente Donald Trump chegou a justificar a medida como retaliação política ao Brasil, após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF.

Apesar da retirada parcial das sobretaxas sobre 269 produtos, sobretudo do setor agropecuário, os efeitos dessa decisão só devem ser percebidos a partir dos primeiros meses de 2026. Atualmente, cerca de 22% das exportações brasileiras aos EUA seguem sujeitas às tarifas adicionais.
Reactions

Postar um comentário

0 Comentários