Grupo de pesquisa em Osaka que fez o estudo — Foto: Reprodução/Makoto Tachiban
Porto Velho, Rondônia - Uma descoberta científica feita por pesquisadores da Universidade de Osaka, no Japão, está desafiando o que se sabia até então sobre a determinação do sexo biológico. Segundo um estudo publicado recentemente na prestigiada revista científica Nature, a falta de ferro durante a gestação pode alterar o desenvolvimento sexual de fetos, pelo menos em experimentos realizados com camundongos.
A pesquisa revelou que camundongos geneticamente masculinos
(XY), cujas mães apresentavam deficiência severa de ferro durante a gestação,
desenvolveram órgãos reprodutivos femininos. Ou seja, mesmo possuindo um
cromossomo Y, esses fetos passaram a apresentar características físicas
femininas no sistema reprodutivo.
Interferência além da genética
O estudo, liderado pelo biólogo Makoto Tachibana, é
considerado o primeiro a demonstrar que fatores ambientais — como a nutrição
materna — podem ter influência direta sobre a determinação sexual,
tradicionalmente atribuída apenas à genética. Isso representa uma mudança
significativa na compreensão do processo de diferenciação sexual.
Até o momento, o modelo predominante explicava que o sexo
biológico era definido exclusivamente pela presença ou ausência do cromossomo
Y, sendo este responsável por desencadear a formação dos testículos e,
consequentemente, a produção de hormônios sexuais masculinos durante o
desenvolvimento embrionário. Contudo, a nova pesquisa indica que este processo
pode ser mais complexo e sensível a influências externas.
Implicações e limites do estudo
Apesar dos resultados impactantes, os cientistas alertam que
ainda não há evidências suficientes para afirmar que o mesmo fenômeno possa
ocorrer em humanos. “Este é um passo importante para compreendermos como
fatores nutricionais podem interagir com mecanismos genéticos durante a
gestação. Porém, é necessário ter cautela. Não podemos extrapolar diretamente
os dados dos camundongos para seres humanos”, afirmou Tachibana em entrevista.
Segundo os autores, o ferro é essencial para diversos
processos celulares, inclusive para a expressão de genes. A deficiência dessa
substância pode afetar vias epigenéticas responsáveis pela ativação de genes
envolvidos na diferenciação sexual.
A importância da nutrição durante a gestação
O estudo reforça a importância da nutrição materna para o
desenvolvimento saudável do feto. O ferro é um dos nutrientes essenciais
durante a gravidez, sendo fundamental para a produção de hemoglobina e para a
oxigenação adequada dos tecidos, tanto da mãe quanto do bebê.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a
suplementação de ferro para mulheres grávidas, especialmente em regiões com
alta incidência de anemia. O novo estudo adiciona mais um motivo para reforçar
o acompanhamento nutricional durante o pré-natal.
Perspectivas futuras
A pesquisa abre portas para novas investigações sobre a
influência de fatores externos na determinação sexual. Além da deficiência de
ferro, outros elementos ambientais e nutricionais poderão ser investigados em
estudos futuros.
Para o meio científico, a descoberta representa um avanço
importante no entendimento das interações entre genética, epigenética e
ambiente. Para a população em geral, é mais um alerta sobre os cuidados
necessários durante a gestação, especialmente no que diz respeito à alimentação
balanceada e à suplementação adequada.
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