Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, gesticula durante um comício para defender a alegada vitória nas eleições presidenciais em Caracas em 17 de agosto de 2024 — Foto: STRINGER/AFP
O avião era usado por Maduro para realizar suas viagens nacionais e internacionais, e sua apreensão — classificada por Maduro como "pirataria" — marcou uma escalada nas tensões entre os países, no momento em que a Venezuela está mergulhada em uma crise pós-eleições, cujo resultado é amplamente contestado, incluindo por Washington, e os EUA preparam bases para novas sanções contra aliados do presidente que "obstruíram a realização de eleições presidenciais livres e justas", segundo documentos vistos pela Bloomberg.
O governo americano tem criticado a administração chavista por proclamar Maduro vencedor das eleições de 28 de julho sem apresentar as atas que a comprovem, reconhecendo a vitória do ex-candidato opositor Edmundo González. No mesmo dia que o avião de Maduro foi apreendido, um mandado de prisão contra o ex-diplomata foi emitido.
O secretário de Justiça, Merrick Garla, afirmou em um comunicado na segunda-feira que o avião apreendido foi "comprado ilegalmente por US$ 13 milhões (R$ 73 milhões) através de uma empresa de fachada e contrabandeada para fora dos Estados Unidos para uso de Nicolás Maduro e seus comparsas". O último voo registrado foi em março, quando voou de Caracas para a capital dominicana, Santo Domingo. Um alto funcionário do país disse à CNN que o avião estava em território dominicano em manutenção, e que o governo não tinha registro de que estava no país até ser apreendido.
A operação envolveu várias agências federais americanas, incluindo o Departamento de Investigações de Segurança Interna, agentes do Comércio, o Escritório de Indústria e Segurança e o Departamento de Justiça. Um oficial do Departamento de Justiça dos EUA disse à rede americana na segunda-feira que o confisco "envia uma mensagem clara de que ninguém está acima da lei, ninguém está fora do alcance das sanções dos EUA".
Aviões dos chavismo
O avião apreendido na segunda-feira foi usado por Maduro quando ele viajou para São Vicente e Granadinas em dezembro passado para uma reunião sobre o conflito fronteiriço com a Guiana, ou dias depois, quando Alex Saab, acusado de ser testa-de-ferro do presidente, foi libertado em uma troca de prisioneiros com os Estados Unidos. Para além dele, o chavista também foi transportado no ano passado e ao longo deste ano em um avião russo Ilyushin Il 96-300, da companhia aérea Cubana de Aviación, segundo o site de notícias venezuelano El Pitazo.
O chavismo teve ao longo dos últimos 24 anos três aeronaves consideradas presidenciais: um Boeing 737, conhecido como "El Camastrón", um Airbus A319CJ, e um jato Embraer ERJ-190, da ex-Força Aérea Brasileira (FAB), informou o site. As três usavam as cores e insígnias do Consórcio Venezuelano de Indústrias Aeronáuticas e Serviços Aéreos (Conviasa).
— Entre 2014 e 2019 houve a ideia de camuflar os aviões presidenciais, que foram utilizados não só por Nicolás Maduro, mas também pelo comboio ministerial, dirigentes do [Partido Socialista Unido da Venezuela] PSUV e seus familiares. A ideia era que seus movimentos aéreos não pudessem ser determinados e confundidos com as operações regulares da Conviasa — explicou um especialista aeronáutico ao site de notícias venezuelano sob condição de anonimato.
Nos últimos cinco anos, os aviões, principalmente "El Camastrón" e o Airbus receberam placas comerciais e deixaram de ser identificados com o nome da Força Aérea Venezuelana (FAV).
— Mas as sanções recebidas, especialmente em fevereiro de 2020, pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, colocaram essas aeronaves na mira. Isso obrigou o governo Maduro a procurar outras alternativas de mobilização, o que inclui a utilização de aviões de países aliados ou com registos estrangeiros — acrescentou o especialista.
O Embraer ERJ-190, rebatizado posteriormente como Lineage 1000, está operacional e à disposição da Presidência venezuelana e seus ministros. Sendo a mais luxuosa da frota presidencial oficial, tem capacidade para 19 passageiros e foi um dos principais aviões usados durante a campanha presidencial e translado de Maduro.
Já o Airbus estava identificado com as cores do consórcio desde 2018, quando foi incorporado à frota da companhia aérea venezuelana. Apesar de algumas páginas especializadas afirmarem que a aeronave está inoperante, fontes da Conviasa garante o contrário, afirmando que ele é usado como avião presidencial para voos nacionais de Maduro e sua comitiva ou por alguns ministros.
— Foi bastante utilizado na campanha eleitoral deste ano — afirmou a fonte sob condição de anonimato.
A Aeronave foi usada para operações áreas entre Caracas, Havana, Manágua e os aeroportos de Ezeiza, na Argentina, e Viru Viru, na Bolívia até 2023.
Já as operações do "El Camastrón" se concentraram, entre 2019 e 2020, entre a Venezuela, Nicarágua, Cuba e México. Ele também foi utilizado para o Plano Volta à Pátria em meio à pandemia da covid-19, no mesmo período. Pilotos consultados pelo El Pitazo afirmaram que a aeronave permaneceu ativa até 2023, quando foi registrada sua última operação. (Com AFP)
Fonte: O GLOBO
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