Após entrevistar 1,2 mil leitores assíduos de quadrinhos, Gelson Weschenfelder contabilizou que 97% de todos os personagens das editoras Marvel e DC criados até 2015 já haviam enfrentado algum grau de adversidade

Gelson Weschenfelder: procurado por profissionais de saúde — Foto: Divulgação

Porto Velho, Rondônia - O bullying sofrido na adolescência pelo pesquisador Gelson Weschenfelder, de 44 anos, o levou a decifrar, no universo acadêmico, como as histórias em quadrinhos de super-heróis ajudam crianças e adolescentes em vulnerabilidade psicossocial a descobrir suas potencialidades. A tese foi uma das premiadas na categoria Mestre e Doutor da 29ª edição do Prêmio Jovens Cientistas, em 2018. O prêmio está com inscrições abertas até 4 de outubro.

O estudo começou quando Weschenfelder questionou se outras pessoas além dele se inspiravam em heróis para superar desafios. Ao concluir que sim, após entrevistar 1,2 mil leitores assíduos de quadrinhos, o pesquisador contabilizou que 97% de todos os heróis das editoras Marvel e DC criados até 2015 já haviam enfrentado algum grau de adversidade, além de terem de aprender a domar seus poderes. Foi o ponto inicial para desenvolver a tese, que apresenta aos estudantes formas de estimular o empoderamento a partir de problemas reais vividos por personagens da ficção.

— Eu sempre me perguntei quando criança: “se eu fosse um X-Man, o Peter Parker, o que eu faria”? Tinha esses personagens como referência porque eles sofriam o mesmo que eu. Minha pesquisa tem fundamentos de Aristóteles, que diz que os jovens precisam de referência para se guiar — conta o pesquisador.

Foco na resiliência

A pesquisa foi dividida em etapas. A primeira dedicou-se a apresentar, em gibis, livros, séries e filmes para as crianças e adolescentes, que os heróis também enfrentam problemas, muitas vezes parecidos com os deles. Como no caso de Peter Parker, o alter ego do Homem-Aranha: um estudante nerd, com aparência frágil, que sofre constantes agressões físicas e verbais do valentão da escola Flash Thompson.

Após apresentar as adversidades, os alunos listaram os dilemas que eles enfrentavam no dia a dia e também os seus heróis da vida real. Depois, foi incentivada a criação de narrativas que tinham os próprios jovens como protagonistas, a fim de que eles pudessem projetar possíveis soluções, pontos de viradas e de resiliência nas suas histórias pessoais. O resultado foi a compreensão de que os heróis estimulam nas crianças virtudes como a coragem de enfrentar desafios, vencer os medos, proteger os mais fracos, defender ideais e combater o inaceitável.

— A dinâmica ajudou escolas a identificarem alunos que enfrentavam situações de violências e de drogas, e também ajudou 90% dos jovens a encontrarem um ponto de resiliência — afirma Weschenfelder.

O pesquisador lembra que, com o reconhecimento obtido pelo terceiro lugar no Prêmio Jovens Cientistas, conseguiu uma bolsa de pós-doutorado para aperfeiçoar a pesquisa. E contribuiu com profissionais de saúde que o procuraram para adaptar a metodologia dos super-heróis com foco em hospitais.

O Prêmio Jovem Cientista, uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Fundação Roberto Marinho, conta com patrocínio da Shell e apoio de mídia da Editora Globo e do Canal Futura. As inscrições são feitas pelo site jovemcientista.cnpq.br. Entre as premiações previstas estão laptops, bolsas do CNPq e valores em dinheiro que vão de R$ 12 mil a R$ 40 mil.


Fonte: O GLOBO