Julgamento de homem acusado de drogar sua esposa por quase dez anos e convidar estranhos para estuprá-la, na França — Foto: AFP
Porto Velho, Rondônia - Detalhes do caso do homem que dopou a própria mulher para que ela fosse estuprada por desconhecidos durante uma década foram expostos em julgamento nesta terça-feira, em Avignon. O francês, identificado apenas como Dominique P., de 71 anos, é réu junto a outros 51 acusados — dos quais 18 estão em prisão preventiva.
De acordo com a acusação, Dominique comprou 450 pílulas para dormir no espaço de um ano, com base em dados do seguro nacional de saúde. O caso só foi descoberto depois que o homem foi pego filmando por baixo das saias de mulheres em um supermercado. No celular do francês, investigadores encontraram milhares de fotos e vídeos da vítima, Gisele P., sendo abusada sexualmente por estranhos recrutados online em um fórum chamado "Without her knowledge" ("Sem o conhecimento dela", em tradução livre) no site coco.gg, fechado pela Justiça francesa desde junho passado.
Dominique P., que apareceu no site sob um pseudônimo, alegou que participava "ocasionalmente" do fórum online e que "não era seu hábito". Mas foram encontradas várias discussões em que ele às vezes usava o termo "estupro" e dizia a outros homens que dava pílulas para dormir à esposa para envolvê-la em práticas que ela normalmente recusaria.
A polícia disse que encontrou centenas de fotos e vídeos da mulher no computador de Dominique P, visivelmente inconsciente e principalmente em posição fetal. As imagens supostamente mostram dezenas de estupros na casa do casal em Mazan, uma vila de 6 mil pessoas a cerca de 33 quilômetros de Avignon.
Tomada pela emoção ao ouvir o relato da acusação, a filha do casal deixou temporariamente o tribunal nesta terça. Gisele P. permaneceu calma e reservada durante toda a sessão do julgamento, que se prolongará até 20 de dezembro. Gisele deu entrada no processo de divórcio.
51 acusados
Os acusados são homens de diversas origens: bombeiro, artesão, enfermeiro, funcionário prisional, jornalista, eletricistas. Entre eles, há solteiros, casados e divorciados. Eles podem pegar penas de até 20 anos de prisão.
— Não existe um perfil típico de estuprador. O estuprador é um homem qualquer — declarou à AFP antes do julgamento Véronique Le Goaziou, pesquisadora do Laboratoire Méditerranéen de Sociologie, especializada em violência sexual.
A maioria foi apenas uma vez ao domicílio do principal acusado na localidade de Mazan, no sul da França. Dez deles foram várias vezes, chegando a passar até seis noites em alguns casos. O homem não lhes pedia dinheiro em troca.
Os acusados não apresentam patologias psicológicas significativas, embora tenham um sentimento de “onipotência” sobre o corpo feminino, segundo especialistas. Muitos alegam que acreditavam estar participando das fantasias de um casal liberal.
Mas, de acordo com o marido, “todos sabiam” que sua esposa estava drogada sem seu consentimento. Para a instrução, “cada indivíduo dispunha de seu livre-arbítrio” e poderia ter “ido embora” ao perceber a situação. Os investigadores identificaram 92 estupros desde 2011, quando o casal vivia na região de Paris, mas principalmente a partir de 2013, após se mudarem para Mazan, e até 2020.
O ex-funcionário da companhia de eletricidade EDF administrava à sua esposa um forte ansiolítico, e os homens, contatados através do site de encontros coco.fr — já fechado —, tinham a ordem de não acordá-la. Outras instruções incluíam não usar perfume nem tabaco, aquecer as mãos com água quente e se despir na cozinha, para evitar esquecer roupas no quarto.
'Completamente terrível'
Gisèle P. soube dos fatos aos 68 anos, quando todos os estupros vieram à tona após seu marido ser pego em 2020 em um centro comercial filmando por debaixo das saias das clientes.
Para a mulher, o processo promete ser “algo completamente terrível”, diz Antoine Camus, um de seus advogados, que também representa seus três filhos e cinco netos. Ela “viverá pela primeira vez, de forma retrospectiva, os estupros que sofreu durante dez anos”, pois não tem “nenhuma lembrança”, disse Camus à AFP, antes do início do julgamento.
A vítima testemunhará na quinta-feira.
Após sua prisão, a unidade de casos não resolvidos implicou o francês em outros dois casos: um assassinato com estupro em Paris em 1991, que ele nega, e uma tentativa de estupro em 1999, que ele admite após a identificação de seu DNA.
Fonte: O GLOBO
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