Praia em Maceió: Alagoas registra o maior gasto médio pelos viajantes brasileiros no destino de viagem. Turismo cresceu, mas dificuldade de renda é desafio — Foto: Divulgação
Porto Velho, Rondônia - Os gastos dos brasileiros com viagens dentro do país alcançou R$ 20,1 bilhões no ano passado, alta de 78,6% na comparação com o registrado em 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, sobre turismo. No entanto, o número de brasileiros que viaja, seja de avião, de carro ou ônibus, ainda é baixo. Em apenas 19,8% de um total de 77,4 milhões de domicílios no país, ao menos um morador viajou em 2023.
O percentual de famílias que viajaram era ainda menor nos anos de pandemia. Em 2020 e 2021, 13,9% e 12,7% dos domicílios eram lar de algum viajante, respectivamente. No ano de 2022, não houve pesquisa.
— Existe um impacto grande da pandemia nos dados anteriores. Isso está claro. Em 2023, houve recuperação, com 19,8% dos domicílios reportando viagens, já refletindo a retomada do turismo no pós-Covid. E há uma correlação direta com o rendimento dos domicílios — diz William Kratochwill, analista da pesquisa.
Ele completou:
— Os dados são levantados para ajudar o poder público a desenvolver medidas de incentivo ao turismo. Existe demanda reprimida e que pode ser ampliada.
Falta de dinheiro e de tempo
Em 2020 e 2021, as limitações da crise sanitária restringiram viagens de forma geral, levando a movimentos como maior uso de carro particular para deslocamentos, maior parte dos deslocamentos feitos para visitar amigos e familiares, baixo uso do transporte aéreo. Com o fim da pandemia, o cenário se alterou e os dados refletem as mudanças nas viagens feitas pelos brasileiros.
O potencial a ser explorado é grande visto que em mais de 80% dos domicílios do país, os moradores não viajaram no ano passado. Para efeito de comparação, na fatia de domicílios com renda abaixo de meio salário mínimo por morador, apenas 11,6% registraram viagens. Na outra ponta, nos com renda per capita de quatro salários mínimos ou mais, essa fatia salta para 46%.
Dentre aqueles que não viajaram, a principal justificativa (40%) foi não ter dinheiro. Tendo havido ainda percentuais relevantes dos que responderam não ter necessidade de viajar (19,1%) e não ter tempo para isso (17,8%).
'Grande desigualdade'
Ainda que a fatia de domicílios com viagens feitas por seus moradores tenha subido em 68,5% na comparação com 2021, a base de comparação estava enfraquecida pelas condições da pandemia.
— Pelo número de domicílios em que houve viagem, nós podemos perceber uma grande desigualdade. Eu posso dizer que quase 80% dos domicílios no Brasil têm um rendimento mensal per capita de menos de dois salários mínimos. Ao passo que, quando observamos o número de domicílios em que houve, eu tenho que 77,1% têm um rendimento domiciliar mensal per capita de mais de dois salários mínimos ou mais — destacou Kratochwill.
O ranking que ordena as unidades da federação por essa fatia de lares que informaram viagens em 2023 vem encabeçada por Distrito Federal e Rio Grande do Sul, onde mais de um quarto dos domicílios teve ao menos um morador viajando. Na lanterna estão Amapá (10,3%) e Acre (6%). O número anual de viagens e o gasto com cada uma também varia de acordo com a renda do domicílio. Quanto maior a renda, mais viagens, porém, numa fração menor de lares.
Quanto menor a renda, maior o uso de casas de amigos ou parentes como hospedagem. O uso de hotéis, resorts ou flats é o mais usado apenas em domicílios com rendimento a partir de dois salários mínimos, mais alto nos com ganhos per capita acima de quatro salários mínimos.
O gasto médio das viagens nacionais com pernoite ficou em R$ 1.639. Nos domicílios com rendimento de menos de meio salário mínimo, ele foi de R$ 740, enquanto nos de quatro ou mais, de R$ 2.731.
Viagens de lazer mais fortes
As viagens de lazer seguem como a principal motivação ao turismo, com 85,7% do total. Enquanto as profissionais abarcam 14,3%. As duas subiram nesse último par de anos, demonstrando a retomada do turismo no pós-Covid. O salto em viagens a lazer, no entanto, foi mais forte, com alta de 72,4% na comparação com 2021, enquanto nas profissionais, o aumento foi de 66,7%. Puxa a preferência dos brasileiros, os roteiros de sol e praia que, no entanto, retraiu ante a 2020, abrindo espaço para avanços na demanda por viagens de cultura e gastronomia.
Outros pontos que refletem o retomada do turismo — e os desafios de renda no país — é que as viagens são majoritariamente domésticas e realizadas na mesma região em que vive o viajante. O Sudeste é o maior emissor de turistas, enquanto o Nordeste é o principal destino. É lá também onde está o maior gasto médio feito pelo viajante, com o patamar mais alto do país em Alagoas.
Na Covid, em 2021, as viagens internacionais chegaram a recuar a apenas 0,7% do total. No ano passado, subiram a 3%, ou 641 mil viagens com destino ao exterior.
No todo, caíram as viagens de carro, enquanto subiram as de avião, meio de transporte usado em 13,7% delas no ano passado, subindo de 10,2% dois anos antes. Ampliando também a opção por deslocamentos em ônibus de excursão ou de linha. Cresceram ainda as viagens de curta duração:
— As viagens de fim de semana ou de feriado maior, que prolonga para dois, três pernoites ou quatro, chegaram a 52,6 do total de viagens que aconteceram em 2023, ou 11,1 milhões de viagens de curta duração — sublinhou o analista.
Em períodos de crise, explicam especialistas do mercado de turismo, as pessoas privilegiam fazer viagens menos longas e para destinos próximos. É uma forma de fazer o programa caber no bolso.
Fonte: O GLOBO
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