Segmento é tido como essencial para candidato do PL chegar aos 20% das intenções de voto

Paes durante celebração em culto evangélico dominical, e Ramagem na igreja evangélica Atitude — Foto: Divulgação e reprodução

Porto Velho, Rondônia - Diante da vantagem aberta por Eduardo Paes (PSD) nas pesquisas eleitorais no Rio, a campanha do bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) tenta furar o apoio do atual prefeito entre lideranças evangélicas. O segmento, no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve seus melhores números nas eleições de 2022, é considerado chave para que Ramagem atinja o patamar de 20% de intenções de voto, o mínimo esperado por seus correligionários para ter chance de disputar um eventual segundo turno contra Paes. Hoje o candidato do PL tem metade disso, segundo a última pesquisa divulgada pela Quaest.

Nos últimos meses, Paes costurou alianças com a cúpula das maiores igrejas evangélicas da capital fluminense, como a Assembleia de Deus de Madureira e a Universal do Reino de Deus. Também cultivou boa relação com líderes próximos a Bolsonaro, como o pastor Cláudio Duarte, organizador da Marcha para Jesus no Rio, e o pastor Josué Valandro, da Igreja Batista Atitude, que já teve entre suas frequentadoras a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Publicação foi compartilhada em um grupo de apoio a candidatura de Ramagem — Foto: Reprodução

No fim de semana, Paes compareceu à igreja de Valandro e recebeu uma oração do pastor. O prefeito também impulsionou, como propaganda eleitoral paga nas suas redes sociais, dois vídeos: um ao lado de Duarte, no qual garante apoio da prefeitura à edição da Marcha em 2025, e outro com imagens de sua participação no centenário das Assembleias de Deus, em junho. Ao todo, a campanha de Paes já desembolsou R$ 6 mil nesses anúncios.

Neste último evento, Paes discursou ao lado do bispo Abner Ferreira, líder da Assembleia de Deus de Madureira, e do deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), ligado à igreja. Ele também aparece abraçando o deputado Samuel Malafaia (PL), irmão do pastor Silas Malafaia. Embora alinhado a Bolsonaro, Malafaia ficou neutro na campanha carioca, sem apoiar Ramagem no primeiro turno.

Paes participa de culto na manhã deste domingo — Foto: Tata Barreto

Como resultado, o candidato do PL patina entre os evangélicos: marcou 11% das intenções de voto nesse estrato na última pesquisa Quaest, menos do que os 21% que tinha no levantamento anterior, em julho. Paes, por sua vez, tem sua gestão bem avaliada pela parcela evangélica: registrou 46% de aprovação em agosto, segundo a Quaest, 11 pontos a mais do que o percentual medido pelo mesmo instituto em julho.

Aliados de Ramagem apostam na entrada de Bolsonaro na campanha para romper este “cinturão evangélico” em torno de Paes. Ramagem se reuniu ontem com Bolsonaro para gravar vídeos de apoio com o ex-presidente e alinhar uma nova vinda dele para o Rio, no início de outubro, às vésperas do primeiro turno.

O candidato do PL também procura “marcar” os movimentos de Paes nas igrejas. No domingo, horas depois de Paes receber a oração de Valandro, Ramagem compareceu à mesma igreja e orou com o pastor.

Marcação à universal

Outro esforço é para dividir o apoio da Igreja Universal. O pastor Deangeles Percy, coordenador político da igreja no Rio, se lançou candidato a vereador pelo PSD, e tem ajudado a aproximar Paes da base de fiéis. O prefeito também tem a preferência do bispo Honorilton Gonçalves, um dos principais nomes da Universal, hoje à frente da igreja no estado do Rio.

Ramagem, por sua vez, se aproximou do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que comanda o diretório carioca do Republicanos, partido ligado à Universal. Cunha, que sempre transitou no meio evangélico, tem instado vereadores da Universal a se alinharem a Ramagem. Na convenção do Republicanos, por exemplo, chamou o vereador Inaldo Silva, que é bispo da igreja, para declarar apoio ao candidato do PL.

— Como disse a rainha Ester: “se perecer, pereci”. Vamos para a luta – disse Inaldo, invocando uma passagem bíblica.

Embora o discurso lacônico simbolize a dificuldade de Ramagem de atrair a igreja, integrantes da Universal afirmam que Paes tampouco será levado para dentro de cultos.

Há também um cerco na campanha de Ramagem a casos de infidelidade partidária, incluindo de lideranças evangélicas. O MDB, partido coligado ao PL na eleição carioca, lançou dois candidatos a vereador ligados a grandes denominações: Eliseu Kessler, da Assembleia de Deus de Madureira, e o pastor Josias Cruz, da Igreja Internacional da Graça.

Kessler, seguindo o alinhamento de Madureira, já sinalizou apoio a Paes. Cruz, por outro lado, só tem divulgado até aqui o apoio do Missionário R.R. Soares, líder da Igreja da Graça. Procurado ontem, pelo GLOBO, o pastor afirmou que ainda alinhará com a cúpula da igreja qual será sua posição na disputa à prefeitura.


Fonte: O GLOBO