Enquanto lida com a maior invasão em território russo desde a Segunda Guerra Mundial, Moscou também anunciou ter ocupado mais uma aldeia no país vizinho

Prédio atingido por ataque ucraniano na região russa de Kursk — Foto: TATYANA MAKEYEVA / AFP/16-08-2024

Porto Velho, Rondônia - As autoridades eleitorais da Rússia anunciaram nesta quarta-feira que as próximas eleições locais em sete municípios de Kursk, onde tropas ucranianas lançaram uma ofensiva há mais de duas semanas, seriam adiadas até que Moscou recuperasse o controle sobre essas áreas. As votações ocorreriam nos dias 6 a 8 de setembro, mas, segundo a Comissão Eleitoral Central do país, o processo de preparo e realização do pleito só será retomado "com garantias de seguranças para os eleitores".

O mesmo órgão afirmou que a eleição para governador na região de Kursk prosseguirá como planejada. O governador interino Alexei Smirnov, nomeado pelo presidente Vladimir Putin no início deste ano, concorre como candidato do partido Rússia Unida, publicou o Moscow Times. Nesta segunda, autoridades de Kursk anunciaram um período de votação antecipada entre 28 de agosto e 5 de setembro. O território está entre os poucos onde o voto remoto será permitido este ano.

Citando fontes anônimas do governo russo, o site de notícias independente Vyorkstka publicou no início desta semana que o Kremlin aprovou a decisão de adiar as eleições locais na região de Kursk até 2025. A mesma fonte afirmou que os mandatos de 228 deputados municipais e chefes distritais seriam estendidos por pelo menos mais um ano. Uma das fontes ouvidas pelo portal disse ter ficado claro que "a incerteza territorial em Kursk permanecerá por muito tempo".

— Por que se preocupar com eleições se os eleitos não poderiam gerir e representar efetivamente seus territórios? — disse a fonte ao Vyorkstka.

Um ano atrás, Putin subiu ao palco na região de Kursk para comemorar o 80º aniversário da famosa Batalha de Kursk, um dos momentos mais orgulhosos do Exército soviético na Segunda Guerra Mundial. Nesta sexta-feira, a Rússia se prepara para celebrar o 81º aniversário deste evento, mas com um clima bem diferente. Em 6 de agosto, tropas ucranianas invadiram a região, capturaram vilarejos, fizeram centenas de prisioneiros e forçaram a retirada de dezenas de milhares de civis.

A Rússia foi pega de surpresa pela ofensiva. Quase uma semana após a invasão, Putin foi visto aparentemente desconfortável numa reunião televisionada de seu conselho de segurança. O líder russo interrompeu o governador regional, que listava os assentamentos capturados, e se referiu aos "eventos na região de Kursk" como uma "provocação". A mídia estatal seguiu no mesmo tom, mostrando civis em filas para receber ajuda ou doando sangue, como se a situação fosse um desastre humanitário e não o maior ataque à Rússia desde a Segunda Guerra.

Seis dias após a invasão das tropas da Ucrânia, um alto funcionário da segurança ucraniana disse à AFP que o objetivo era "deslocar as posições do inimigo, infligir o máximo de perdas, desestabilizar a situação na Rússia e transferir a guerra para o território russo". Nas últimas semanas, porém, o Exército russo reivindicou a tomada de uma série de localidades no país vizinho, e nesta quarta-feira disse ter ocupado a aldeia de Zhelanne, situada entre Donetsk e Pokrovsk. Autoridades ucranianas precisaram ordenar a retirada de civis da região.

Na semana passada, o conselheiro presidencial ucraniano Mikhailo Podolyak disse que "a Ucrânia não tem a intenção de ocupar territórios russos", mas que controlar esses locais pode servir para forçar a Rússia a negociar. Trata-se de "uma jogada para trocar, se necessário, a área conquistada por outros territórios ucranianos" tomados pela Rússia, disse à AFP Pierre Razoux, diretor acadêmico da Fundação Mediterrânea de Estudos Estratégicos (FMES), um centro de reflexão na França.

Nesta segunda-feira, porém, o Kremlin afirmou que "não falará" com a Ucrânia por causa da incursão. O conselheiro de Putin, Yuri Ushakov, disse que, "no momento, seria completamente inapropriado iniciar um processo de negociação". As conversas entre as duas partes estão bloqueadas desde 2022, pouco após o início da guerra. O mandatário ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que deseja elaborar um plano para novembro, data das eleições presidenciais nos EUA (aliado vital de Kiev), que sirva de base para uma futura reunião de cúpula da paz.

Tribunal Penal Internacional

Também nesta quarta-feira, o Parlamento da Ucrânia aprovou a adesão do país ao Tribunal Penal Internacional (TPI), com a esperança de punir a Rússia por supostos crimes de guerra cometidos em seu território. Após anos de atrasos e da oposição dos militares, 281 deputados votaram a favor da ratificação do Estatuto de Roma, o tratado de fundação do TPI, anunciaram vários parlamentares nas redes sociais. Segundo a deputada Yevheniya Kravchuk, a decisão aumentará as "possibilidades de condenar os russos e intensificará o isolamento da Rússia". (Com AFP)


Fonte: O GLOBO