Flávio Batista de Souza, o Inha, renunciou ao mandato na segunda-feira e teve a liberdade concedida — Foto: Divulgação/Câmara Municipal de Ferraz de Vasconcelos
Ewerton de Lissa Souza (Podemos) é filho de Flávio Batista de Souza, que estava preso desde abril, quando foi deflagrada a Operação Munditia. Conhecido como “Inha”, Flávio renunciou ao mandato na semana passada e pegou carona em um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) a outro investigado, de Cubatão (SP), que também havia abandonado seu cargo e que ganhou o direito de deixar a prisão para cumprir medidas cautelares. A soltura de Inha foi concedida pela 5ª Vara Criminal de Guarulhos no mesmo dia de sua renúncia.
Na denúncia oferecida à Justiça, o Ministério Público de São Paulo (MP-S) afirmou que Inha integrava um dos “polos de corrupção” no poder público que se relacionava com o crime organizado. Os investigadores identificaram conversas entre o então vereador e o empresário apontado como dono das empresas que simulavam concorrência em licitações para obter contratos públicos em nome do PCC.
Segundo os promotores, Inha “tratava diretamente” da “repartição de valores”, e chegou a reclamar da propina oferecida pelo outro suspeito.
— Então, mas essa sua matemática está errada. Viu como você é ruim de matemática? Como que você ganha tanto dinheiro assim e não sabe fazer conta? Tá, pior que você sabe, né? Por isso você ganha, né? Estou brincando. Vou mandar a conta certa para você — disse o político em áudio enviado quando ele era presidente da Câmara de Ferraz de Vasconcelos.
Ewerton, filho do político, disputará sua primeira eleição neste ano, com o nome de urna “Ewerton Inha”, em referência ao pai — que estava em seu terceiro mandato como vereador, o segundo consecutivo. Ewerton integra o diretório municipal do Podemos em Ferraz de Vasconcelos.
O GLOBO não conseguiu contato com Ewerton ou Inha. O presidente do diretório municipal do Podemos, Alvaro Costa Vieira, disse que a filiação do ex-vereador está suspensa e afirmou que a candidatura de Ewerton foi aprovada “de forma democrática” na convenção da legenda.
— Não podemos penalizar alguém por conta das ações de um familiar, para quem nem existe uma condenação. Ele tem o direito de se candidatar e quem tem que avaliar se ele merece ou não ser vereador é a população — declarou.
A Operação Munditia mirou esquema que teria movimentado R$ 200 milhões em contratos públicos em cidades paulistas. Além de Inha, outros dois vereadores foram presos: Ricardo de Oliveira (o “Ricardo Queixão”, do PSD de Cubatão) e Luiz Carlos Alves Dias (o “Luizão Arquiteto”, do MDB de Santa Isabel).
Queixão foi o primeiro do trio a ser solto, no dia 9 deste mês. O ministro Otávio de Almeida Toledo, desembargador convocado para o STJ, considerou que o vereador de Cubatão deixou de ter acesso a meios de “turbar a colheita das provas relativas aos fatos objeto da denúncia” a partir do momento em que renunciou ao seu mandato. No mesmo dia daquela decisão, a Justiça paulista concedeu liberdade a Luizão Arquiteto sob o mesmo argumento.
A relação do poder público com o PCC tem sido um dos temas da eleição também na capital paulista. Adversários têm mencionado investigações sobre o envolvimento da facção com empresas que operam linhas de ônibus na cidade para fustigar o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). O emedebista tem negado que compactua com as irregularidades apuradas pelo MP-SP.
Fonte: O GLOBO
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