Moradores em rua alagada pela enchente no município de Eldorado do Sul (RS) em maio deste ano — Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Na avaliação de uma das pesquisadoras do projeto Nara Salles, do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, a boa notícia de o tema estar na pauta política é que o debate ocorre num momento de eventos climáticos cada vez mais extremos e frequentes. A pesquisadora pondera, contudo, que o assunto pode não estar aprofundado, uma vez que tópicos como agricultura, infraestrutura e meio ambiente foram todos agrupados em “desenvolvimento sustentável”, que tem ainda propostas para tratamento adequado do lixo e políticas para rios urbanos e prevenção a enchentes.
— Essa abordagem pode ter um caráter eleitoral, já que esse é um tema do debate público, e os candidatos se sentem na obrigação de incluir propostas de infraestrutura e agricultura ambientalmente respaldadas, mas o fato de essa preocupação existir já é algo positivo — avalia Salles, que elaborou o estudo com Argelina Maria Cheibub Figueiredo, pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj.
No primeiro capítulo da série Cidades Resilientes, publicada pelo GLOBO no domingo, uma avaliação dos planos dos candidatos a prefeitos de todas as capitais mostra que eles são superficiais quando se trata de plano de prevenção a enchentes.
Salles ressalta que não dá para garantir que o assunto apareceu com força nos planos de governo por conta da crise no Sul, mas ela apostaria que sim:
— É um tema que ganhou prevalência nacional e está presente em grande volume, em todos os estados.
O estado do Rio de Janeiro — que vive desafios ambientais que vão desde ocupações irregulares em áreas de risco nas regiões Metropolitana e Serrana até o engolimento do continente pelo mar em São João da Barra — é o que mais tem planos tratando de questões de desenvolvimento sustentável (88,27%). No Rio Grande do Sul, a questão apareceu em 79,23%.
Em outra frente, o tema da segurança pública, uma das maiores preocupações do eleitorado brasileiro em 2024 segundo as pesquisas, aparece em quase metade (43,5%) dos planos analisados pelo Vota Aí!. No Rio, esse patamar foi o mais alto do país (65%), seguido do Amazonas (52,7%) e de São Paulo (52,2%).
Os candidatos São Paulo aparecem com destaque também no quesito proteção e bem-estar animal. De acordo com o Vota Aí!, o tópico aparece em 34,28% dos programas paulistas, o maior índice do país para o tema. Já em política para idosos e desenvolvimento econômico, o estado surge como o segundo e terceiro mais preocupado com as questões; eles estão em 23% e 55% dos planos, respectivamente.
Direitos humanos
No recorte da análise por partido, feito a pedido do GLOBO, o Vota Aí! mostrou que o PT se destaca em relação ao seu principal concorrente, o PL, com mais propostas dedicadas a políticas contra violência à mulher, relacionadas à igualdade racial e por direitos LGBTQIAP+.
Ainda assim, esses tópicos não estão sequer em metade dos programas petistas. De acordo com o levantamento, 31% dos candidatos da sigla do presidente Lula têm planos para combater a violência contra a mulher, por exemplo — PSOL tem uma abordagem maior, alcançando 42% dos planos de governo de seus postulantes. No PL, são apenas 18%. PRTB e Novo têm os piores índices nesse tema: 13%.
Já igualdade racial e direitos LGBTQIAP+ são abordados em menos de 5% dos planos de governo do país. Mesmo nos partidos de esquerda, são minoria as candidaturas que citam esses temas. No PT, equivalem a 10% e 14%, respectivamente. Já no PL, esses índices caem para 1,7% e 2,2%.
— Numa eleição municipal, as pessoas estão discutindo a cidade. Inevitavelmente, os partidos vão passar pelos sistemas de educação, saúde, muita coisa vai ser compartilhada, mesmo que de perspectivas diferentes. Mas a margem para diferenciar (um plano do outro) são esses temas aproveitados pelo PT — afirmou Salles.
A compilação de dados mostra que em temas defendidos pelo PL, como a segurança pública, a diferença no volume de abordagem em relação ao PT é pequena: 48% contra 45% entre bolsonaristas e petistas respectivamente. Na saúde, a diferença cai para um ponto, 77% e 76%.
O projeto Vota Aí! pode ser acessado gratuitamente e permite que o cidadão compare dois planos de governo a partir de palavras-chaves de interesse do eleitor.
Fonte: O GLOBO
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