O presidente dos EUA, Joe Biden, no palco da Convenção Democrata, em Chicago — Foto: Andrew Harnik / Getty Images via AFP
Para os adversários que duvidaram de sua capacidade de convencer os cidadãos da importância da defesa e, agora, da preservação, da democracia. Para os eleitores compreensivelmente ignorantes da vice-presidente discreta. Para os cínicos, possuídos pela má-vontade de não crer na vocação do serviço público.
O presidente dos Estados Unidos entrou no palco visivelmente emocionado. Enxugou as lágrimas enquanto os delegados eleitos nas primárias que ele venceu, mas não levou, repetiam, alternadamente, "obrigado, Joe" e "eu te amo, Joe". Desafio o leitor a lembrar de bate-pronto de outro político eleito pelo voto, e em seu nadir, que recebeu tamanha demonstração de afeto público.
O presidente dos Estados Unidos entrou no palco visivelmente emocionado. Enxugou as lágrimas enquanto os delegados eleitos nas primárias que ele venceu, mas não levou, repetiam, alternadamente, "obrigado, Joe" e "eu te amo, Joe". Desafio o leitor a lembrar de bate-pronto de outro político eleito pelo voto, e em seu nadir, que recebeu tamanha demonstração de afeto público.
Celebrou-se a tragédia de seu ato de renúncia — à candidatura, não ao mandato, que segue até janeiro — como manifestação heróica e abnegada, de submissão da ambição pessoal ao possível êxito de projeto percebido por seus pares como tão ou mais urgente do que o de 2020.
Impedir a volta de Donald Trump à Casa Branca e manter ou ampliar as bancadas democratas no Congresso, assim como a capilaridade do partido nas unidades da federação, em um cenário de Suprema Corte de ampla maioria conservadora, se tornaram as razões para o sacrifício.
Impedir a volta de Donald Trump à Casa Branca e manter ou ampliar as bancadas democratas no Congresso, assim como a capilaridade do partido nas unidades da federação, em um cenário de Suprema Corte de ampla maioria conservadora, se tornaram as razões para o sacrifício.
E a aguardada passagem de bastão a Kamala Harris, sua vice, testemunha do momento histórico, não se deu por um atestado de competência ou o enumerar de qualidades e êxitos da ex-senadora. Foi sintetizada por Biden em frase confessional: "convidá-la para ser minha companheira de chapa em 2020 foi a melhor decisão política que já tomei".
Quando Barack Obama o convidou para o mesmo posto, em 2008, as reações não foram unânimes. Criticava-se a rendição da voz nova e exuberante do partido ao establishment partidário representado pelo senador mais velho. Uma análise desapaixonada dos oito anos do primeiro frente aos quatro do segundo posicionará Joe Biden necessariamente à esquerda do primeiro presidente negro dos EUA.
A rara migração política de Biden, do centro para o extremo, teve como combustível central o horror ao supremacismo branco, o nativismo xenófobo e o autoritarismo populista anti-democrático do trumnpismo. Que, no dicionário do velho político do Delaware nascido no interior industrial decadente da Pensilvânia lêem-se como manifestações anti-americanas.
E só apagou as luzes após garantir ter "dado o melhor de mim" aos Estados Unidos e frisar que ama ser presidente, "mas mais ainda o meu país".
Personagem trágico da vida americana, tanto na vida pública quanto na pessoal, marcada por perdas duríssimas, Joe Biden terminou a primeira noite de uma festa que deveria ser sua refletindo, em discurso nobre e triste, sobre as trapaças do tempo.
Quando Barack Obama o convidou para o mesmo posto, em 2008, as reações não foram unânimes. Criticava-se a rendição da voz nova e exuberante do partido ao establishment partidário representado pelo senador mais velho. Uma análise desapaixonada dos oito anos do primeiro frente aos quatro do segundo posicionará Joe Biden necessariamente à esquerda do primeiro presidente negro dos EUA.
A rara migração política de Biden, do centro para o extremo, teve como combustível central o horror ao supremacismo branco, o nativismo xenófobo e o autoritarismo populista anti-democrático do trumnpismo. Que, no dicionário do velho político do Delaware nascido no interior industrial decadente da Pensilvânia lêem-se como manifestações anti-americanas.
E só apagou as luzes após garantir ter "dado o melhor de mim" aos Estados Unidos e frisar que ama ser presidente, "mas mais ainda o meu país".
Personagem trágico da vida americana, tanto na vida pública quanto na pessoal, marcada por perdas duríssimas, Joe Biden terminou a primeira noite de uma festa que deveria ser sua refletindo, em discurso nobre e triste, sobre as trapaças do tempo.
Talvez tenha entrado no Senado muito jovem e, concedeu, tenha ficado velho demais para seguir na Presidência. Mas garantiu estar "mais otimista hoje com o futuro dos EUA do que quando tinha 29 anos". Momento em que a câmera da transmissão oficial fechou em um sorriso de Kamala Harris.
Fonte: O GLOBO
Fonte: O GLOBO
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