Time de Dorival avança em segundo e enfrentará o Uruguai nas quartas de final

Porto Velho, Rondônia - O pior efeito colateral do empate com a Colômbia, e a consequente segunda posição na fase de grupos da Copa América, não é exatamente enfrentar o Uruguai nas quartas de final. No estágio que vive a seleção brasileira, a consequência mais grave seria perder a chance de ter mais dois jogos no torneio, ser testada em níveis de exigência elevados, seguir reunida e treinando. Ao time atual, o que mais falta é estrutura e convicção numa ideia de futebol.

Contra os colombianos, o que se viu foi algo previsível: se o nível do adversário subiu, apareceram os defeitos de um time em construção. Como se admitisse ter, neste momento, menos recursos coletivos, o Brasil aceitou que sua melhor arma era disparar passes longos, o mais rapidamente possível, para Raphinha, Rodrygo ou Vinícius Júnior correrem no espaço. O resultado foi confundir velocidade com pressa, fazer do meio-campo um lugar de passagem. Acelerando o tempo todo, sem pausa, a seleção teve raros momentos de lucidez.

É possível discutir se a escola brasileira forma, hoje, menos meio-campistas com a capacidade de controlar um jogo, ditar e alternar ritmos. Mas há um exercício interessante a fazer diante do cenário visto na noite de terça-feira. No meio-campo colombiano estavam jogadores de Palmeiras, Fluminense e São Paulo. Pelo Brasil, entre titulares e reservas, atuaram quatro jogadores da Premier League e um da Série A italiana, campeão da Liga Europa pelo Atalanta. E todos tiveram dificuldades de jogar.

No ataque brasileiro estava um real candidato a melhor jogador do mundo na temporada, atuando junto a seu companheiro de Real Madrid. O Brasil pode não ter a melhor geração de sua história, pode não produzir extraclasses na quantidade que teve em seus melhores momentos. Mas, neste momento, o que distancia a seleção da elite mundial são os processos, a continuidade. No Brasil x Colômbia, um trabalho de dois anos enfrentou um de três meses.

Quase todo o jogo da seleção flui pelas pontas, apostando na capacidade dos atacantes que atuam pelos lados. Natural num time que faz a bola passar pouco tempo no centro do campo. Ainda assim, foi possível ter bons momentos no primeiro tempo, explorando o fato de a Colômbia defender mal os lados do campo. Algumas ultrapassagens de Danilo pela direita geraram bons lances de ataque.

No mais, a ideia de ter Paquetá defendendo pelo lado esquerdo foi um dos problemas visíveis de marcação, algo claro no lance do gol colombiano. Pelo centro, João Gomes e Bruno Guimarães não encontravam a movimentação de James, que mandava na partida. Conforme o tempo passava, uma Colômbia agressiva sem bola ia se estabelecendo no campo brasileiro. E a seleção parecia interpretar o jogo como um exercício de fazer a bola chegar logo a atacantes desconectados do restante do time.

O segundo tempo viu inúmeras vezes os volantes brasileiros perderem bolas no campo defensivo. Por vezes, por tentarem passes longos com pouca chance de acerto. Em muitos momentos, por receberam a bola de costas, sem mecanismos de saída de bola que superassem a pressão rival. João Gomes, Bruno Guimarães e, mais tarde, Éderson foram vítimas. Este último, perdeu a bola que quase resultou no gol de Borré, que daria a vitória aos colombianos.

Talvez fosse razoável que, reunida há um mês, a seleção tivesse criado alguns padrões. Mas soa cruel comparar o estágio do time com o de rivais que têm trabalhos mais estabelecidos. Por ora, é justo reconhecer que atacantes de velocidade são o produto de exportação que mais frequentemente insere o futebol brasileiro na elite mundial. No entanto, a tentação de acioná-los a qualquer custo empobrece o jogo.


Fonte: O GLOBO