Mandados que basearam operação desta quinta-feira foram expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator das investigações que miram os atos golpistas em Brasília

Porto Velho, Rondônia - A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira uma megaoperação, em mais uma fase da Lesa Pátria, para capturar 208 condenados ou investigados por participação nos ataques de 8 de janeiro de 2023 considerados foragidos. A lista inclui 65 réus que fugiram para a Argentina e que, agora, serão alvos de pedido de extradição. Um balanço da corporação divulgado na quinta contabilizou 49 prisões em 18 estados e no Distrito Federal e indicava que 159 ainda eram procurados.

Os mandados foram expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator das investigações que miram os atos golpistas em Brasília. Os alvos da operação “descumpriram medidas cautelares judiciais”, com o objetivo “de se furtarem da aplicação da lei penal”. São casos como a retirada de tornozeleiras eletrônicas, mudança de endereço sem comunicação e não comparecimento à Justiça.

O governo brasileiro vai pedir a extradição dos foragidos que entraram na Argentina, de acordo com informações da colunista do GLOBO Bela Megale. A Polícia Federal mapeou o paradeiro dos réus e repassará os dados ao STF, responsável por emitir a ordem de extradição. Com isso, o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), ligado ao Ministério da Justiça, emitirá o pedido de extradição.

Busca por refúgio

A PF tem informações de que parte dos foragidos pediu refúgio ao governo de Javier Milei, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, e de que alguns não passaram pelas barreiras migratórias. Os alvos que não foram encontrados também terão os nomes incluídos no Banco Nacional de Mandados de Prisão. Com isso, seus nomes ficarão públicos e qualquer pessoa que localizar os foragidos pode acionar a polícia para realizar a prisão.

As apurações apontam que os brasileiros podem ter entrado no país vizinho até mesmo em porta-malas de veículos, segundo o g1. Outros fugiram a pé pela ponte na fronteira, ou atravessando o rio Paraná. Todas as fugas ocorreram em 2024.

No mês passado, uma reportagem do portal Uol revelou que condenados e investigados pelos atos golpistas haviam quebrado tornozeleiras eletrônicas que usavam por determinação do STF, e fugido para a Argentina ou para o Uruguai. Em seguida, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu a inclusão dos fugitivos na difusão vermelha da Interpol.

De pastora a vidraceiro

A maioria dos alvos da operação foi presa na quinta-feira nos estados de São Paulo (17) e Minas Gerais (7) e no Distrito Federal (7). O advogado Helmar de Souza, que defende Dirce Rogério, uma das presas, afirma que sua cliente recebeu uma proposta para fugir do país. Souza diz, contudo, que convenceu ela a não aceitar a oferta e ficar no Brasil. Agora, o advogado afirma que irá recorrer da prisão.

— Após a condenação, várias pessoas que também foram condenadas começaram a sugerir que uma possível fuga para Argentina ou Uruguai traria a possibilidade de asilo político. Porém, ao conversar com ela, informei que tal atitude traria consequências terríveis — afirmou.

Outro capturado ontem é o vidraceiro Givair Batista Souza, de 50 anos, morador de Sumaré, no interior de São Paulo. Ele já tem passagem por roubo e, em janeiro de 2023, embarcou em um ônibus para Brasília que saiu de Campinas. Sua defesa tem negado, junto ao STF, que a intenção do vidraceiro tenha sido cometer um golpe de estado.

A PF prendeu ainda a pastora Sandra Maria Menezes Chaves, de 49 anos, condenada a 13 anos em fevereiro. A moradora de São Paulo e avó de três netos foi presa dentro do Senado e terá de pagar indenização. A defesa tem alegado, no processo, que a pastora estava se manifestando de forma pacífica e não cometeu os crimes a ela imputados. Também foi presa ontem a professora aposentada Iraci Megumi Nagoshi, de 71 anos, moradora de São Caetano do Sul, em São Paulo.

(Colaborou Daniel Gullino)


Fonte: O GLOBO