Planalto vê valor mais simbólico do que prático e reconhece que tratativa não evitou circulação de mensagens falsas

Porto Velho, Rondônia - Duas semanas após o governo firmar um acordo com plataformas de redes sociais para coibir desinformação sobre a tragédia do Rio Grande do Sul, a avaliação no Palácio do Planalto é que o gesto teve muito mais valor simbólico do que prático. Segundo auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a parceria não impediu a proliferação de fake news que atrapalham a ajuda aos gaúchos e será necessário fazer ajustes. Além disso, como O GLOBO mostrou, canais têm lucrado no YouTube com conteúdos falsos sobre a tragédia.

O entendimento de pessoas envolvidas nas tratativas com as empresas é que o governo precisou fazer concessões para amarrar um texto final “possível” do protocolo, o que acabou deixando-o vago. Durante a negociação, por exemplo, integrantes da gestão de Lula chegaram a propor um prazo de até 12 horas para que conteúdos falsos, uma vez identificados, fossem removido, mas a ideia foi vetada pelas big techs.

O documento foi assinado no último dia 20 pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, e por representantes de Google (YouTube), Meta (Facebook e Instagram), TikTok, X (ex-Twitter), Kwai e LinkedIn. Ministério da Justiça e Secretaria de Comunicação Social (Secom) participaram da construção do acordo.

Pelo texto, as big techs poderão disponibilizar mecanismos que facilitem o acesso a informações oficiais e confiáveis sobre a calamidade, incluindo a prestação de serviços públicos no estado. Ações de fact-checking ou parcerias com essa finalidade também podem ser implementadas.

Google, Kwai e LinkedIn responderam que estão empenhados no acordo e que entendem a importância de unir forças para enfrentar a desinformação em conteúdos relacionados à calamidade. Meta, TikTok e X não responderam.

Embora o governo ainda não tenha um balanço sobre a proliferação de conteúdo falso após o acordo, casos recentes envolvendo fake news deixaram a impressão que o documento tem baixa eficácia.

Um deles levou ao afastamento de sete militares do Exército que divulgaram uma informação falsa sobre o rompimento de um dique em Canoas, motivando moradores a deixarem suas casas.

Reuniões quinzenais

Outras duas fake news também incomodaram o Planalto. Uma delas dizia que o arroz importado pelo governo para compensar a perda de plantações no Sul continha lombrigas geneticamente modificadas. Outra que o número de mortos nas enchentes não estava sendo contabilizado.

Auxiliares de Lula elaboram um cronograma de reuniões quinzenais para ver como está a evolução do trabalho. E, se necessário, fazer mudanças. O protocolo tem período de 90 dias e pode ser prorrogado.

Antes de firmar o acordo com as big techs, o governo havia adotado a estratégia de identificar e punir quem disseminasse fake news. Um pedido da Secom motivou a abertura de um inquérito da Polícia Federal para apurar a conduta de usuários das redes que divulgaram suposta desinformação. A iniciativa foi criticada por focar em perfis de opositores, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O acordo marca também uma inflexão na relação do Executivo com as plataformas. Desde o início da gestão Lula, aliados tentam avançar no Congresso com um texto que prevê a regulamentação das redes, o que provocou resistência das empresas.

Guaíba tem menor nível; mortes sobem a 172

O nível do lago Guaíba baixou mais neste domingo, e caiu para 3,45m no início da noite, mantendo-se abaixo da cota inundação de 3,60m. Os dados são da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).

No sábado, o lago registrou pela primeira vez em um mês marca abaixo da cota, registrando 3,58m na Usina do Gasômetro. A ANA substituiu o cais Mauá, cuja cota é de 3 metros, pela usina como nova referência oficial da inundação. O nível da água ultrapassou a antiga marca de três metros no dia 2 de maio. Desde então, chegou a atingir 5,35 metros.

O número de mortes subiu para 172 pessoas, de acordo com a Defesa Civil. O número de desaparecidos caiu para 42. Há 580 mil pessoas desalojadas. Mais de 37 mil pessoas estão alojadas em locais provisórios. Ao todo, 2,3 milhões de gaúchos de 475 cidades foram afetados pela tragédia.


Fonte: O GLOBO