Família briga na justiça por tratamento de R$ 400 mil negado pelo plano de saúde

Porto Velho, Rondônia - Desde 2023, a estudante de medicina Larissa Moraes de Carvalho, de 31 anos, está em estado vegetativo, após complicações em uma cirurgia ortognática, em Juiz de Fora, Minas Gerais. A família da jovem aguarda a decisão da Justiça para conseguir o tratamento de neuromodulação através do plano de saúde. Em entrevista ao GLOBO, Ricardo Carvalho, pai da estudante, afirma que busca liberação para o tratamento para ajudar na recuperação.

— Durante a cirurgia, ela ficou sem oxigênio no cérebro e isso causou sequelas. As áreas afetadas não vão ser recuperadas, mas o tratamento de neuromodulação vai ajudar nas áreas não afetadas. (...) Sabemos da gravidade [do caso], mas queremos a recuperação dela — disse ele.

Atualmente Larissa está em casa, no tratamento de home care, e a família busca uma evolução no quadro. Eles pretendem conseguir uma liberação para que a jovem consiga realizar o tratamento de neuromodulação. O método consiste em modular a atividade do sistema nervoso, na tentativa de mudar a atividade neuronal. Com estimulação elétrica fraca ou magnética, é possível tentar ajudar os neurônios a recuperar a função que está danificada.

Ricardo conta que a própria médica que cuidou da filha no hospital recomendou este tratamento e fez o pedido ao plano de saúde em junho, que negou. O pai ainda tentou contato com o plano, mas também foi negado.

— Ainda estamos desnorteados com o acontecimento, uma jovem, estudante de medicina, na Uerj, no Rio...Eu insisti com o plano, pedi que a médica reiterasse e ainda fiz um pedido por email, mas novamente negaram o tratamento — explicou.

Larissa, os pais e a irmã — Foto: Reprodução/Redes sociais

Diante das duas recusas do plano de saúde, a família buscou a Justiça em setembro do ano passado. Em janeiro deste ano, o juiz responsável negou a liberação do tratamento pelo plano. O processo, que está nas mãos do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em Belo Horizonte, desde o dia 10 de maio, foi negado em 1ª Instância e, atualmente, aguarda uma decisão da 2ª Instância.

O valor total do tratamento intensivo ao longo de um ano custa R$ 406.560,00. O plano de saúde contratado pela família, o Saúde Servidor, da Prefeitura de Juiz de Fora, negou duas vezes o tratamento, alegando que a neuromodulação não está no rol de procedimentos médicos cobertos pelo Plano de Assistência à Saúde.

A Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira, a inclusão da neuromodulação no rol de procedimentos a serem feitos pelo SUS. Agora, o PL de autoria da deputada Maria Rosas (Republicanos/SP) vai passar por outras comissões até ser votada em plenário.

— Essa aprovação da Câmara também mostra que o tratamento tem comprovação científica. É um tratamento novo, mas tem eficiência e muita comprovação cientifica — ressaltou.

Primeira saída após à volta para casa

Nesta quarta-feira, quase três meses após voltado para casa, a estudante de medicina saiu pela primeira vez para fazer um exame de eletroencefalograma. Ricardo contou que nesse exame, para mapear a evolução cerebral, ela precisou ir à clínica, transportada na ambulância.

Larissa Moraes de Carvalho com a família — Foto: Arquivo pessoal

— Foi a primeira saída depois que ela veio para casa, então a gente fica tenso porque não sabemos como vai ser. Ficamos preocupados, mas foi tudo organizado com a técnica de enfermagem também e correu tudo bem. E também percebemos que a Larissa voltou [para casa] muito tensa, sentimos a tensão. Ao chegar em casa, colocamos ela na cama para relaxar um pouco — disse em entrevista ao GLOBO.

Ricardo ainda conta que durante o exame, Larissa ficou bem atenta ao que o médico falava.

— Para nós, é muito difícil entender o que ela está compreendendo porque ela não fala, a gente tem apenas o olhar dela — disse.

Carvalho também explicou como funciona a dinâmica da casa com o tratamento da Larissa. A jovem é atendida por uma equipe de enfermagem 24 horas por dia no tratamento de home care, além disso, também realiza duas sessões de fisioterapia. Ele ainda conta que o banho é um momento de terapia para ela, e destaca que clinicamente Larissa está bem.

Relembre o caso

A estudante de medicina deu entrada na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, em 16 de março do ano passado, para realizar o procedimento para corrigir alterações dos maxilares e mandíbulas. Larissa teve uma parada cardiorrespiratória durante o procedimento.

Ela chegou a ser reanimada e permaneceu internada na unidade de saúde por mais de um ano, mas não voltou a ficar consciente. Após a parada cardiorrespiratória, Larissa ficou um mês no CTI, pegou pneumonia e infecção urinária. Depois foi transferida para um quarto, onde permaneceu até março deste ano.

Um ano depois, a família da Larissa conseguiu, pela Justiça, acesso ao home care, que é o tratamento e acompanhamento médico domiciliar. Após meses de internação, ela voltou à casa da família, de onde havia se mudado para morar no Rio de Janeiro para cursar sua segunda graduação, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

O que é a cirurgia ortognática?

Esta intervenção cirúrgica busca corrigir desalinhamentos nos ossos do rosto e nos dentes. Para além do apelo estético, pois ajuda a harmonizar a face, a cirurgia ortognática também melhora a qualidade de vida, principalmente ao facilitar a respiração e o sono. Essa é a mesma cirurgia à qual a adolescente Rafaela Justus, filha de Roberto Justus e Ticiane Pinheiro, foi submetida.

Além disso, ela varia de acordo com a abordagem dependendo da disfuncionalidade observada pelo cirurgião. São elas:
  • Assimetrias: maxilares tortos;
  • Atresia de maxila: mordida cruzada posterior ou maxilar estreito;
  • Retrognatismo: mandíbula pequena;
  • Prognatismo: mandíbula grande e/ou maxilar pequeno;
  • Disfunção da ATM (articulação temporo-mandibular).
Os riscos são os mesmos associados a outras cirurgias, como perda de sangue e infecções. Em geral, esse é considerado um procedimento seguro.


Fonte: O GLOBO