Em entrevista ao Estadão, ministro da Fazenda afirma que divergência sobre corte da Selic no Copom se deu por questões técnicas. Taxa caiu a 10,5% após racha na votação

Porto Velho, Rondônia - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, minimizou a divisão no Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o corte da taxa básica de juros, a Selic, na última quarta-feira. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada hoje, ele diz que "não tem uma bancada bolsonarista e uma bancada lulista no BC (Banco Central)".

Na quarta-feira, os quatro diretores indicados pelo presidente Lula votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual (pp) da taxa. Já os cinco diretores que assumiram seus cargos na gestão de Jair Bolsonaro defenderam um corte menor, de 0,25 pp. Após a reunião, a Selic caiu para 10,5% ao ano.

O racha gerou desconfiança entre investidores e analistas, que veem risco de que o próximo presidente da instituição possa ser mais flexível e tolerante com a inflação. No dia seguinte à decisão, Haddad disse que teria de esperar a ata do BC, que traz mais detalhes sobre o que fundamentou a decisão do órgão.

Na entrevista ao Estadão, Haddad disse acreditar que a divergência se deu por questões técnicas:

- Eu não concordo com esse tipo de avaliação (racha político do Copom). Até em respeito aos profissionais que estão lá, não tem uma bancada bolsonarista e uma bancada lulista no BC. Eu acredito que a questão do guidance (orientação) tenha sido a razão da divergência.

O ministro também rebateu os temores de que a divergência possa suscitar dúvidas sobre a autonomia do BC:

- Essa é uma leitura superficial e ideológica. E, sinceramente, acho que essa questão nem se coloca. Eu considero que as pessoas indicadas por nós são iguais ou melhores do que as que saíram, do ponto de vista técnico e não tenho dúvidas que eles vão aportar um excelente trabalho.

Haddad também defendeu colocar travas na Constituição para limitar o pagamento de auxílios que atualmente driblam o teto constitucional do salário do funcionalismo público, hoje fixado em R$ 41,6 mil mensais.

Indagado sobre como vê a PEC do Quinquênio, que prevê aumento de 5% nos vencimentos de juízes e promotores a cada cinco anos, disse:

- Nós deveríamos constitucionalizar determinadas vedações, para que esses expedientes de furar o teto do salário sejam disciplinados de uma maneira decisiva. Porque, se ficar só no projeto de lei, amanhã alguém muda.

O ministro também disse que não vê “muito espaço” para o governo discutir a desvinculação do reajuste das aposentadorias em relação à correção do salário mínimo. A desvinculação foi proposta como debate pela ministra do Planejamento, Simone Tebet. Haddad disse que não conhece a proposta.


Fonte: O GLOBO