Mercado reage à fala do ministro na Câmara, onde classificou alvo de 3% ao ano como ‘exigentíssimo’ e ‘inimaginável’ num país como o Brasil, gerando ‘ruído’ no mercado

Porto Velho, Rondônia - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ontem que a meta de inflação de 3% para um país com as características do Brasil é “exigentíssima”, “um negócio inimaginável”. A declaração teve impacto no mercado financeiro.

— Os núcleos (da inflação) estão rodando abaixo da meta, que é exigentíssima... Um meta, para um país com as condições do Brasil, de 3% de inflação, é um negócio inimaginável. Desde que o regime de metas foi instituído, quantas vezes o Brasil teve 3% de inflação? Em quantos anos isso aconteceu, nos 25 anos de regime de metas? — afirmou , ao participar de sessão da Comissão de Finanças e Tributação, da Câmara dos Deputados.

Dólar sobe, Bolsa cai

Após a fala do ministro, os juros futuros e o dólar atingiram as máximas do dia. Pouco antes das 12h, a moeda americana chegou a ser cotada a R$ 5,16. No fim do pregão, a divisa fechou em alta de 0,78%, a R$ 5,15. O Ibovespa, índice de referência dos investidores na B3, recuou 1,38%.

A meta de inflação fixada para este ano é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Em abril, a inflação medida pelo IPCA ficou em 0,38%. No ano, acumula alta de 1,8% e em 12 meses, o índice está em 3,69%.

Mais incerteza

Para analistas, a declaração de Haddad contribui para aumentar a incerteza do mercado sobre o compromisso do governo com o controle das contas públicas e a inflação.

— A interpretação do mercado é que o fiscal vai continuar pressionado, com o governo acenando para maiores gastos, que podem pressionar a inflação. Isso também pesa sobre ações ligadas à economia doméstica e que tem maior nível de endividamento — explica Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos.

Para Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, esse comentário também aumenta as dúvidas do mercado em torno do comportamento do Banco Central em 2025, quando o governo terá a maioria dos indicados no Comitê de Política Monetária (Copom):

— No contexto atual, depois de uma votação dividida e da forma que foi, colocar em xeque, mesmo que de forma sutil, a meta de 3% gera ruído. Se a gente tiver um Banco Central mais leniente no ano que vem, a tendência é uma inflação maior — ele diz.

Ata do Fed

Ontem, o mercado também foi influenciado pela divulgação da ata da última reunião do Fomc, o comitê de política monetária do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, que optou por manter as taxas de juros americanas no mesmo patamar.

Após discursos mais restritivos dos diretores nos últimos dias, a percepção no mercado foi de que a ata reforçou um tom mais rígido em relação ao controle da inflação no país.

Segundo a ata, os diretores concordam que deve levar mais tempo do que o previamente esperado para que o BC americano atinja sua meta de inflação de 2% e comece a diminuir os juros. Alguns membros se questionaram se a condução da política monetária estaria surtindo efeito na economia, enquanto outros mencionaram que estariam dispostos a elevar ainda mais as taxas, se fosse necessário.


Fonte: O GLOBO