Pressionada por resposta a crise, ministra trocou o responsável por compras hospitalares que era ligado a deputado do PT
Porto Velho, Rondônia - Após ser alvo de pressão e enfrentar desgaste na gestão dos hospitais federais, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, exonerou ontem o coordenador-geral de Governança Hospitalar no Rio de Janeiro, Carlos Ney Pinho Ribeiro. A decisão foi publicada no Diário Oficial e se soma a ao menos outras nove trocas em cargos estratégicos da pasta da Saúde desde o início do ano.
Ney era responsável por chefiar o órgão que centraliza as compras dos seis hospitais federais (Andaraí, Bonsucesso, Cardoso Fontes, Ipanema, Lagoa e Servidores do Estado). Foi justamente a edição de uma portaria, em 23 de fevereiro, para transferir funções das unidades do estado ao Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), entre elas as compras, que desencadeou uma crise entre a ministra e o PT do Rio, responsável por indicar diretores para os hospitais.
De acordo com fontes ouvidas pelo GLOBO, a saída do coordenador se deu por sua interferência política nas indicações a “cargos de confiança”. Em seu lugar, a ministra nomeou Paula Lemos Ferreira dos Santos Glielmo, que passa a ter competência sobre os atos relacionados à execução orçamentária e financeira dos hospitais.
Ney estava no cargo há pouco mais de três meses e tem histórico de atuação política na cúpula do PT no município de São Gonçalo, região Metropolitana fluminense, onde já foi secretário municipal de Saúde, teve sob seu controle as pastas de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e, até pouco tempo, no período de 2017 a 2020, a de Cultura.
Sua ida para a gestão dos hospitais federais foi uma indicação do deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ), pré-candidato do partido à prefeitura de São Gonçalo, segundo apurou O GLOBO. Além de Ney, o coordenador de atenção à Saúde, Laumar de Vasconcelos, que é próximo a Dimas Gadelha, também foi demitido do cargo.
Descontentamento
Após a edição da portaria, Nísia Trindade também foi pressionada pelo PT do Rio, em abril, depois de exonerar dois diretores de hospitais federais indicados pelo partido: Jefferson Antunes, do Andaraí, e Pedro de Jesus, do Cardoso Fontes. Na ocasião, um texto da coordenadora do setorial de Saúde do PT do Rio, Fernanda Spitz, ao qual o GLOBO teve acesso, falava em “avançar” politicamente sobre o ministério, que teria uma postura “antidemocrática, assediadora e sem debate ampliado”. O documento foi enviado a um grupo da sigla no WhatsApp.
Nísia também fez mudanças na gestão da rede, em março, após o “Fantástico” mostrar condições precárias dos hospitais federais e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrar uma solução à ministra durante uma reunião ministerial. Em 18 de março, foi criado um comitê gestor montado para discutir de forma mais ampla a reformulação da rede federal do Rio, cujos trabalhos foram prorrogados no mês passado.
Na ocasião, Nísia demitiu o chefe do DGH, Alexandre Telles, e o secretário de Atenção Especializada à Saúde, Helvécio Magalhães. Também caíram Márcia Motta, chefe de gabinete da ministra, Ana Luiza Caldas, diretora do Departamento de Estratégias e Políticas de Saúde Comunitária, e Marcos Pedrosa, diretor do Departamento de Gestão do Cuidado Integral da Secretaria de Atenção Primária à Saúde.
Em fevereiro, a ministra já havia feito sua primeira troca na pasta ao demitir o então secretário de Atenção Primária à Saúde, Nésio Fernandes. A mudança ocorreu após o ministério ser alvo de questionamentos de parlamentares sobre os critérios para a distribuição de verbas da Atenção Primária e da Alta Complexidade.
Em março, a ministra exonerou também a diretora do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena, Carmem Pankararu, em meio ao desgaste do governo por falhas na implantação de políticas em terras Yanomami e pela piora nos índices de saúde da população.
Fonte: O GLOBO
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