Deputado diz que Lula evita diálogo, que ministro da Agricultura atua por racha na bancada e que, mesmo sendo de direita, tenta construir pontes

Porto Velho, Rondônia - Líder da bancada do agronegócio, o deputado Pedro Lupion (PP-PR) afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de menos “agressivo”, faz os discursos mirando a própria “bolha” e não busca uma aproximação efetiva com o setor. 

Com a relação estremecida com o ministro Carlos Fávaro (Agricultura), o parlamentar nega uma tentativa de manobra para um novo mandato na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e afirma que o titular da Esplanada vem atuando para provocar um racha entre os integrantes do grupo.

A FPA costuma receber o ex-presidente Jair Bolsonaro. Isso não acirra mais a relação com o Planalto?

Os ministros Simone Tebet (Planejamento), Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) já foram almoçar conosco. Todos foram bem recebidos. O Bolsonaro é mais um nome que convive conosco e, sim, somos uma bancada com maioria de centro-direita.

Já houve convite semelhante ao presidente Lula?

Não vejo motivos para convidá-lo. É muito difícil lidar com um governo que joga contra a FPA dia e noite. O presidente Lula veta o marco temporal das terras indígenas e discursa a favor do MST com qual objetivo? Ele quer falar para a bolha, não abre diálogo conosco. Então, adianta chamá-lo para um encontro? Acho que não.

Há um ano, o senhor afirmou que era difícil ter bom relacionamento com Lula, porque ele era agressivo. Vê mudança na postura?

Acho que ele desistiu de falar do agro, nos atacar. Alguma consciência deve ter batido e refletido sobre a importância do setor. Tem sido menos agressivo, sim, e tomara que tente se aproximar. Mas este problema se alastra por outros membros do governo. A (ministra) Marina Silva (Meio Ambiente), por exemplo, só abre a boca para falar mal do agro. Fica difícil.

A tarifa zero para a importação de arroz, após as enchentes no Rio Grande do Sul, também foi um ponto de tensão entre o governo e o agro. Era momento dessa reação, tendo em vista a tragédia humanitária?

Não é a taxação do arroz que resolverá a questão humanitária do Rio Grande do Sul. Essa ação do governo vai prejudicar os produtores que não foram afetados pela enchente, que precisam vender. E me preocupa ainda mais o empacotamento do arroz com a logo do governo federal em ano eleitoral. Vejo como um enorme abuso de poder.

Integrantes da bancada ruralista afirmam que o senhor tenta uma manobra para se manter na liderança da FPA com mudanças no estatuto. Há esse movimento?

Não é hora de falar sobre eleição da FPA. Meu mandato vai até 2025. Estão criando uma grande confusão pelo fato de, por tradição, o vice ser o sucessor natural. O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), meu vice, tem total condição de ser o próximo presidente da Frente. Eu o apoiarei, se ele quiser ser candidato. Quanto às mudanças no estatuto que permitam a reeleição, isto não depende de mim. Se a maioria da bancada quiser que eu fique, o estatuto terá que ser mudado, mas não existe debate sobre isso.

Ele é do Cidadania, partido mais próximo ao governo, e já foi relator de projetos importantes para o Planalto. Levaria a bancada a um alinhamento?

O alinhamento do Arnaldo com o governo ocorre, unicamente, pelo fato de integrar o Cidadania, que está na base. Ele nos acompanha em votações e mantém uma postura crítica. Nunca jogaria contra a Frente.

É importante a FPA se manter na oposição a Lula, então?

Nós temos que ser oposição, sempre, às pautas contrárias ao agro. Infelizmente, este governo se posiciona contra nós em questões políticas, ideológicas e produtivas. Eu sou de direita, mas tento construir pontes.

A atuação do ministro Carlos Fávaro tenta alterar o funcionamento da FPA?

Sim. Plantando notícias contra a Frente e tentando causar desordem entre seus membros.

Ele disse em entrevista que o discurso do senhor foi “cooptado pelo palanque”. A relação com o ministro hoje é melhor ou pior do que no início do governo?

(Fica em silêncio por mais de 1 minuto) Quando nos encontramos, nos respeitamos. A questão são essas provocações que ocorrem com frequência.

A bancada vai condicionar o apoio na sucessão de Arthur Lira na Câmara à defesa de uma pauta específica?

Está na mão dele (Lira) fazer um sucessor. Nós, da FPA, sempre fomos aliados dele, que foi muito leal conosco. Ele sabe que apoiaremos quem tenha compromisso com as nossas pautas e saberá fazer essa escolha.


Fonte: O GLOBO