Enquanto o presidente Lula não decide sobre como ficará o comando da Petrobras, a disputa nos bastidores escala.

Porto Velho, Rondônia - Rivais do atual presidente, Jean Paul Prates, passaram a circular uma lista com momentos nos quais o petista teria “jogado contra” os interesses do próprio governo.

O pequeno “dossiê” tem onze pontos. Ele cita desde uma suposta ausência de um plano robusto que dê suporte à retomada da indústria naval brasileira até a “acusação” de que Prates manteria um preço alto para o querosene de aviação.

Aliados do atual presidente da estatal também não estão parados. Eles trataram de circular versão pela qual o atual infortúnio de Prates seria resultado de uma tática diversionista do ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia. Na visão de aliados do presidente da Petrobras, o desgaste só acontece porque o ministro busca uma forma de desviar atenção de problemas no setor elétrico, como os apagões em São Paulo.

Na tentativa de viabilizar a permanência do petista, o grupo de Prates também se movimentou para emplacar uma solução salomônica: a ida de Aloizio Mercadante, atual presidente do BNDES, para o comando do conselho de administração da petroleira.

Os que advogam por esse desenho dizem que Lula garantiria na presidência do colegiado alguém de sua estrita confiança e com capacidade de mediar conflitos entre Prates e Silveira.

O problema é que nem Silveira nem Mercadante parecem gostar da solução. A interlocutores, ambos trataram de dizer que não veem com bons olhos a proposta. O ministro de Minas e Energia quer manter seu indicado no conselho, Pietro Mendes.

Já Mercadante resiste à ideia de deixar o BNDES para assumir a Petrobras e não gostaria de se ver numa posição de "tutelar" a gestão de Prates. Ele avalia que está bem no banco e tem dito que, por ele, lá permaneceria.

Mercante procurou Prates

Prates e Mercadante têm boa relação. O presidente do BNDES procurou Prates ainda na quarta-feira. O presidente do BNDES vem dizendo que não concorda com o massacre público que o correligionário está sofrendo. Mas a pessoas próximas ele reconhece que o governo não pode mais ignorar o problema na Petrobras e algo terá de ser feito em breve.

A percepção de Mercadante é compartilhada por ministros do governo, para os quais tornou-se mesmo insustentável o desenho atual com Prates na presidência e Silveira no comando do Ministério de Minas e Energia.

Como Lula não deu qualquer sinal de que pretende mexer com Silveira, a saída de Prates passou a ser tratada abertamente por ministros do governo, que apostam numa solução para a petroleira nos próximos dias.

“Essa alma já está encomendada”, disse um ministro sob reserva, ilustrando o sentimento de parte do governo em torno da crise que se instalou na estatal.

Silveira é aliado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e quadro importante do PSD em Minas Gerais. Além de ter se empenhado na campanha para Lula em 2022, tornou-se peça política importante para o presidente neste momento. Além disso, Prates entrou em rota de colisão também com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e falhou em construir uma rede de apoio sólida.


Fonte: O GLOBO