Sinal de celular só existe para os moradores e, mesmo assim, somente em alguns pontos; não é possível comprar chips locais

Porto Velho, RO - Isoladas geograficamente, as Ilhas Malvinas/Falklands são também um dos lugares menos conectados da Terra. A internet por satélite é cara e lenta. O sinal de celular só existe para os moradores e, mesmo assim, somente em alguns pontos. Não é possível comprar chips locais.

Para desespero de gente que não vive sem postar tudo o que vê em redes sociais, a maior parte dos 12 mil quilômetros quadrados do arquipélago é um deserto de conexão.

Imagens de paisagens de águas cor de turmalina e colônias com milhares de aves que chegam bem perto das pessoas só viram post, quando os turistas voltam para casa. Transmissões em tempo real são possíveis apenas em alguns pontos de Wi-Fi e com qualidade aquém do desejável.

Mapa das Ilhas Malvinas — Foto: Editoria de Arte

A conexão de telefonia e internet é hoje o maior problema dos habitantes das Falklands, reconhece o deputado Roger Spink. O governo local espera que a situação melhore até 2027, com contratos com uma nova empresa de comunicação, por exemplo, a Starlink, de Elon Musk. O atual é com uma empresa do Bahrein.

Para os moradores, a conexão por Wi-Fi custa no mínimo 150 libras mensais (cerca de R$ 1.000, porque o preço é subsidiado), mas pode chegar facilmente a 300 libras. Para os turistas, apenas uma hora custa de cinco a oito libras (cerca de R$ 31 a R$ 56).

Os moradores reclamam que atrapalha os negócios e, principalmente os jovens, lamentam não poder usar redes sociais como gostariam. Jogar online também não é uma opção.

Paisagens das Ilhas Malvinas, ou Falklands, disputadas na década de 1970 pela Argentina e a Inglaterra, com a vitória dos ingleses — Foto: Ana Lucia Azevedo

A universitária chilena Isidora Ocampos que passou o verão trabalhando em Stanley diz que as pessoas são amigáveis e não falta companhia, mas a má conexão a impede de falar com a família no Chile com regularidade.

O problema incomoda ao ponto que Peter Biggs considera um dos principais, se não o maior, fator de afastamento dos jovens das ilhas.

Se em Stanley já atrapalha, nas ilhas menores, é pior. O casal que administra o turismo na Ilha Bleaker, Paula Moñoz e Nick Rendell, filho dos proprietários da ilha, conta que já deixaram de fazer vendas devido à má conexão. Não raro, eles usam o rádio para se comunicar e informar aos turistas, por exemplo, horários de voos.

Rua em Stanley, capital das Ilhas Malvinas — Foto: Ana Lucia Azevedo

Por outro lado, tanto moradores quanto turistas elogiam que reduz o estresse e melhora a qualidade das relações pessoais.

— O tempo passa mais devagar e se aproveita mais o dia e as relações interpessoais — afirma Isadora.

O turista inglês Ed Baunton, de 33 anos, viu vantagem na falta de conexão:

— Acho que as pessoas acabam prestando mais atenção à realidade à volta delas em vez de ficarem presas numa tela de celular. A falta de conexão digital aumenta a ligação com o mundo real, com pessoas de carne e osso e a natureza — diz Baunton.

*Repórter viajou a convite do Reino Unido e das Ilhas Falkland


Fonte: O GLOBO