Três vítimas foram atingidas por tiros no enclave, onde a fome se alastra em meio a confrontos de militares e terroristas do Hamas

Porto Velho, RO - Cinco palestinos morreram na manhã de sábado, três deles atingidos por tiros, durante uma distribuição de alimentos na Faixa de Gaza, território devastado pelos bombardeios israelenses e pelos combates entre o Exército e o grupo terrorista Hamas.

O Crescente Vermelho Palestino informou que 30 ficaram feridas durante a distribuição de ajuda na rotunda de Kuwait. Vídeos da AFP mostram caminhões avançando no escuro, em meio aos escombros e som de tiros.

Testemunhas afirmaram que membros dos "comitês de proteção", responsáveis por supervisionar a distribuição da ajuda, atiraram para o alto e feriram várias pessoas. Outras foram atropelados pelos caminhões, segundo as mesmas fontes, que indicaram que tanques israelenses posicionados nas imediações também abriram fogo.

A AFP tentou contato com o Exército israelense, mas até o momento não recebeu resposta.

Neste sábado, o Exército israelense bombardeou novamente a Faixa de Gaza. As operações militares provocaram pelo menos 82 mortes nas últimas 24 horas, segundo o Hamas, cujo ataque terrorista, em 7 de outubro, no sul de Israel, desencadeou a guerra.

Os dois lados trocam acusações sobre a estagnação das conversas para uma trégua no território palestino, que enfrenta o risco iminente de fome. Mas, na sexta-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, "aprovou um novo ciclo de conversações nos próximos dias, em Doha e no Cairo [...] para avançar", anunciou seu gabinete.

Nos últimos meses, várias reuniões para negociações foram organizadas, sem sucesso, pelos mediadores internacionais, Egito, Catar e Estados Unidos.

Desde o início da guerra, apenas um momento de trégua foi observado, no fim de novembro, o que permitiu a libertação de mais de 100 reféns capturados pelo Hamas durante o ataque. Em troca, foram liberados palestinos detidos em penitenciárias de Israel.

Israel prometeu "aniquilar" o Hamas após o atentado de outubro, que deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.

Além disso, mais de 250 pessoas foram sequestradas e 130 delas continuam como reféns em Gaza, incluindo 34 que teriam sido mortas, segundo Israel. O Exército israelense iniciou uma operação em Gaza que deixou pelo menos 32.705 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas. A maioria dos 2,4 milhões de habitantes estão à beira da fome, diz a ONU.

Situação 'desesperadora'

Apesar de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que exige um cessar-fogo, os combates continuam provocando estragos no enclave palestino.

Neste sábado, o Exército israelense anunciou que bombardeou dezenas de alvos no centro de Gaza. O Hamas afirmou que "casas" foram atingidas e citou disparos de artilharia ao norte e ao sul do território.

— Não temos comida nem água suficientes — declarou na sexta-feira à AFP Amany, uma palestina de 44 anos, mãe de sete filhos, refugiada no campo de Shati.

Israel controla a entrada de ajuda humanitária na Faixa, que chega de maneira muito restrita ao território palestino, governado pelo Hamas desde 2007. Na quinta-feira, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o principal tribunal da ONU, ordenou que Israel garanta "sem demora" a entrega de "ajuda humanitária urgente" a Gaza.

Israel deve "permitir à UNRWA chegar ao norte da Faixa de Gaza com comboios de alimentos (...) diariamente e abrir outras passagens terrestres", afirmou o diretor da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos, Philippe Lazzarini.

Israel rebateu as acusações e afirmou que as agências da ONU são incapazes de administrar a quantidade de ajuda que chega a Gaza todos os dias.

O Exército de Israel, que acusa os combatentes do Hamas de utilizarem os hospitais como esconderijos, destacou neste sábado que prossegue com as "operações" ao redor do complexo hospitalar de Al Shifa, na Cidade de Gaza, pelo 13º dia consecutivo.

Segundo o Hamas, as tropas israelenses também estão presentes no hospital Naser e no centro médico de al-Amal, na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa.


Fonte: O GLOBO